Qual o significado de estar hoje no Palco Heineken do NOS Alive?
É a confirmação de que quando visualizas algo e acreditas não podemos temer e achar que inatingível. Tudo é possível quando dedicamos e trabalhamos. O mínimo que pode acontecer é num ano não se concretizar, mas tens outros anos para conseguir que aconteça. Esta presença no Alive é a confirmação da crença, da projecção e consistência e o endurecimento durante esta caminhada. Ter aguentado aquelas portas que estavam entreabertas e as que estavam fechadas. Mas é ter a coragem de saber esperar pelo teu momento. Tive uma boa equipa que soube entender o propósito da caminhada e vai ser bom partilhar essa alegria. Há muita gente do Norte até ao Sul no Algarve para presenciar este momento porque também sonharam comigo.
O que os fãs podem esperar do concerto?
Vai ser um casamento entre os meus álbuns: “Mundu Nôbu”, “Kriola” e “Badiu”. Vai ser um eternizar desses três álbuns mais o EP “Sotavento”. E vou lançar uma canção nova no dia do concerto que sinto que vai agitar as águas.
Depois do NOS Alive, o que o publico ainda pode esperar ao longo do verão?
Ainda tenho mais de 30 datas agendadas entre o MEO Mares Vivas, no Porto, um festival em Roterdão, em Berlim, Cabo Verde. Depois de Norte a Sul ainda vou tocar com algumas orquestras como em Quarteira com a Orquestra Clássica do Sul ou em Ovar. Depois ainda participo no Festival do Crato entre outras surpresas que estão a caminho. Está a ser um ano belíssimo.
O menino de Quarteira chegou ao NOS Alive e tem feito este percurso de sucesso. Olhando para trás, o que diria a esse menino de Quarteira que sonhava estar neste patamar e que agora é uma realidade?
É uma pergunta difícil. Há puco tempo fui convidado para ir à minha escola secundária em Quarteira e uma professora de português veio ter comigo e disse-me que quando me viu na televisão lembrou-se que eu tinha-lhe dito que “um dia ainda ia ser grande”. Eu não me lembro de ter dito isso. Mas pensei como é que tive a coragem de dizer isso quando sou tão tímido e reservado. Há uma bravura na adolescência e uma crença no futuro que convém que recuperemos enquanto adultos. Sinto que vou chegar ao Palco da Heineken muito recuperado do que me castrei ao longo da vida com aqueles receios que muitas vezes não são teus, mas são projectados por outras pessoas. Felizmente os meus pais sempre me deram asas e disseram, desde que não falte para os teus irmãos, apoiamos-te em tudo. E realmente apoiaram porque desde 2003 quando comecei, só em 2019 é que senti que comecei a viver da minha arte sem ficar colado ao paraquedas da casa dos meus pais e da incerteza. Foi bastante tempo de resistência e é bonito poder celebrar isto agora no dia 7.
E projectos para o futuro?
O futuro a Deus pertence. O futuro é hoje, dia 7, no NOS Alive.
Tem tido uma presença social e de levar uma mensagem aos jovens, sobretudo dos bairros sociais. Qual tem sido essa mensagem?
Acima de tudo uma que tenho como conduta de vida que é: temos realmente uma história muito trágica que nos liga à Europa. Mas temos de nos lembrar que os nossos ancestrais tinham um sonho de emancipação. Nós não podemos ser o reflexo da tormenta e da amargura que eles passaram, mas sim a concretização desses sonhos. Sinto que todos os dias luto com essa projecção. Tenho de realizar o que eles sonharam porque assim, de forma espiritual, eles também estão a concretizar. O meu investimento pessoal é precisamente na geração Z e na Alfa. Deixei de tentar investir tanto para me mostrar aos outros, mas sim naqueles que têm sede de aprender e não têm vícios e correntes como nós temos. Isso começou com o nascimento do meu filho em que me obriguei a fazer um processo de terapia com uma psicóloga e com um terapeuta espiritual para que ele não crescesse com os reflexos dos meus medos porque muitas vezes ao educarmos estamos a deseducar aqueles seres livres para eles serem o que nasceram para ser. O meu foco é chegar aos bairros sociais porque é uma realidade que conheço bem. Sei quais são as nossas limitações e o acesso à informação e ao direito que temos de ocupar lugares que achamos que não nos pertencem. Tem sido esse o meu propósito.