A operar no mercado angolano desde 2023. A Viva Seguros é a mais nova e a primeira seguradora do mercado a operacionalizar o seguro agrícola em Angola, um produto considerado de “elevado risco”. Mas a ambição de impactar o mercado e fazer parte da transformação do país, segundo o seu CEO, Damien Veerapatren, levou-lhes a apostar neste tipo de seguro.
A empresa tem entre os principais focos a promoção da literacia financeira, numa empreitada que pretende ter como aliado a imprensa, daí ter idealizado o “Matabicho com o CEO da Viva Seguros” – um espaço em que pretende partilhar ideias, visões e discutir temas relevantes sobre o sector.
Dados oficiais dão conta que em Angola a taxa de penetração de seguros (o prémio de seguro a dividir pelo PIB) é de apenas 0,6%, a mais baixa de toda a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), o que para Damien é um indicador de que há muito trabalho a se fazer em termos de literacia financeira e literacia dos seguros. “As pessoas ainda não perceberam a importância do seguro”, disse ele.
O “Matabicho com o CEO” é um evento que visa desenvolver uma relação de maior proximidade com os órgãos de comunicação social e deverá ser organizado pelo menos três vezes por ano, depois de ter sido lançado em Outubro deste ano.
A primeira edição, que decorreu de forma informal e descontraída, teve o foco exclusivo no seguro agrícola e foi aproveitado por Damien Veerapatren para apresentar o trabalho que tem sido desenvolvido pela empresa a nível deste produto, desde a sua aprovação pela entidade reguladora, a ARSEG – Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros.
De acordo com o gestor, através de uma parceria com a Carrinho Agri, em 2023, primeiro ano de actividade da seguradora que estreou no país a operacionalização do seguro agrícola, foi possível assegurar, em feito inédito, 100 mil agricultores familiares e com eles impactar quase 500 mil angolanos, em 17 municípios de sete províncias do país, nomeadamente Huambo, Bié, Benguela, Huíla, Cuanza-Sul, Cunene e Malanje, cobrindo apenas as culturas de milho. Entretanto, o objectivo é abranger as 18 províncias, desde que tenham os requisitos que se enquadram, como cooperativas ou associações de agricultores e os tipos de culturas elegíveis.
“Nós temos uma parceria com a Carrinho Agri e eles têm um programa de fomento agrícola em Angola. Mas para que este projecto se torna num sucesso, passa pela inclusão financeira, onde o papel do seguro é fundamental”, começou por explicar Damien Veerapatren, que garante estarem prontos para assumirem os riscos decorrentes da actividade agrícola e, desta forma, abrirem portas para que os bancos concedam créditos aos agricultores com mais facilidade.
“Sabemos que o percurso de um agricultor não é fácil. Ele quando começa tem que comprar os insumos, preparar a terra e recebe o dinheiro apenas no fim. Este é um caminho com muitos riscos e tem um peso financeiro bastante grande. Então o nosso papel, com o apoio que estamos a dar, é de reduzir este peso. Demos conforto aos bancos para entregarem financiamento aos agricultores”, afirmou.
Segundo o gestor, a empresa que dirige oferece várias soluções de seguro agrícola, sendo uma tradicional e outra não tradicional. A solução não tradicional, conhecida como paramétrica, é apontada por Veerapatren com a ideal, “porque trabalha com índice de rendimento e com ele é mais fácil avaliar, na eventualidade da ocorrência de um sinistro”. “Com esta solução é mais fácil compensar no final”, disse.
Entretanto, durante o ano passado as coisas não foram favoráveis a Viva Seguros, tudo porque dos 100 mil agricultores assegurados, que no conjunto trabalharam 50 mil hectares, cerca de 44 mil viram as suas culturas serem afectadas por inundações, pragas e seca, sendo que em alguns municípios as taxas de sinistros atingiram os 100%, o que significa que todos os agricultores destas zonas tiveram danos.
Esta situação, revela Damien Veerapatren, contribui para um resultado menos conseguido pela empresa no seu primeiro ano de actividade, em que chegaram a pagar em indemnizações de sinistros 1 250 milhões de kwanzas, representando uma sinistralidade de quase o dobro do prémio recebido no ciclo 2023/2024, que foi de 650 milhões de kwanzas.
“Do ponto de vista de uma empresa, podemos pensar que isto não é viável, mas temos que olhar para o impacto que isto cria. Se nós apostarmos numa Angola que produz, numa Angola que exporta também, muda o modelo da economia que hoje é muito dependente de um sector [o petrolífero]. Isto para nós é uma visão de médio, longo prazo”, enfatizou.
Nesta empreitada, além do investimento próprio, a Viva Seguros conta com parceiros internacionais que a apoiam a desenhar o produto, entre os quais se destacam a empresa suíça Pula, baseada no Quénia – empresa de tecnologia e seguros agrícolas –, sendo que a nível do resseguro trabalha com a Africa Specialty Risks, com quem partilha o risco. “É verdade que no primeiro ano pagamos duas vezes mais do que aquilo que recebemos, é um facto que perdemos dinheiro, mas isso são os riscos do sector”, reconheceu.
Empresa perspectiva prémios de 100 milhões kz neste ano agrícola
Para a presente campanha agrícola, o CEO perspectivam atingir prémios na ordem de 1000 milhões de kwanzas, trabalhar com o mesmo número de agricultores [100 mil], alterar o modelo, expandindo o seguro para outras culturas como o trigo, o arroz, o girassol, a soja e o algodão, além do milho, assim como incluir entre os segurados as grandes fazendas.
E é já pensando nas grandes fazendas que a Viva Seguros está a desenvolver um segundo produto, o Índice Climático, que analisa a performance da chuva.
“Tipicamente o Índice Climático funciona bem para as grandes fazendas. No ano passado começamos e o nosso foco foi a cultura do milho e apenas com os agricultores familiares. Fizemos uma análise e percebemos que se quisermos atingir a transformação económica do país tinha de ser com os agricultores familiares”, justifica. No entanto, para o presente ano agrícola, admitem estenderem a acção às grandes fazendas.
“A capanha agrícola começou em Setembro último e já identificamos cerca de uma dezena de fazendas com quem estamos a conversar para trabalhar. O nosso desafio é alargarmos mesmo, pois acreditamos que só assim conseguiremos rentabilizar este produto”, notou.
Com soluções que se adequam para agricultores familiares e para fazendas, os requisitos para que os primeiros [agricultores familiares] possam beneficiar do seguro agrícola é estarem ligados à uma cooperativa [agrícola], uma associação de camponeses ou a um banco. “Assim criamos uma carteira, porque do ponto de vista logístico e de escala é importante trabalhar para nós com um grupo, invés de agricultores a título individual. Nós trabalhamos com agregadores, como por exemplo, a Carrinho Agri, ou um banco”, indicou o líder da Viva Seguros.
Damien Veerapatren fez saber que estão neste momento a conversar com vários bancos “que já têm o modelo de seguro agrícola”, sem no entanto revelar quais, para se ver uma solução de como podem apoiar mais agricultores, uma vez que os 100 com quem trabalharam na campanha agrícola anterior “foram seleccionados pela Carrinho Agri”.
“O seguro agrícola não é um seguro barato, porque o prémio é sempre uma consequência do risco. Além dos riscos climáticos, temos os riscos biológicos, tecnológicos e humanos, que podem travar o rendimento final”
Neste processo, apontou, os principais desafios com que se deparam tem sido a falta de documentos básicos como o Bilhete de Identidade, por parte de muitos agricultores, assim como do título de terra.
O custo do seguro agrícola na Viva Seguros ronda em média os 300 mil kz por hectare, a que se adiciona uma taxa que pode variar entre 5% a 12%, sendo que no ano passado [2023/2024] foi aplicada uma taxa única de 7%, incluindo o IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado.
“O seguro agrícola não é um seguro barato, porque o prémio é sempre uma consequência do risco. Além dos riscos climáticos, temos os riscos biológicos, tecnológicos e humanos, que podem travar o rendimento final”, reconhece o CEO da Viva Seguros, ao mesmo tempo que justifica.
Neste momento a empresa assegura os insumos, o valor dos insumos [sendo que o custo dos mesmo depende do tipo de cultura] e dos fertilizantes. Na segunda geração de produtos que se prevê comercializar, mas lá para frente, se incluirá a produção. “Nesta, invés de pormos o custo de produção por hectare, vamos pôr o rendimento por hectare. Queremos começar devagarinho, mas de forma certa”, sublinhou o responsável.
Damien garante que neste momento, fora da parceria que têm com a Carrinho Agri, para o ano agrícola 2024/2025, via Banco de Comércio e Indústria (BCI) estão a assegurar algumas cooperativas, que para obterem crédito são condicionadas a fazerem o seguro agrícola. Além disso, acrescentou, estão também a negociar com algumas grandes fazendas, que estão a analisar as propostas.
“A ideia é termos fechadas estas parcerias em Novembro para que possamos assegurar até Maio. Estamos a falar entre cinco a dez grandes fazendas”, precisou a concluir.