As vendas de divisas ao mercado pelo Banco Nacional de Angola (BNA) caíram, desde o início do ano, 77,23%, ao saírem dos anteriores 284,92 milhões de dólares para apenas 6,53 milhões de dólares até finais de Junho deste ano, sinalizando a efectivação da saída do regulador do mercado nas operações de câmbio, de acordo com números oficiais a que a FORBES teve acesso.
A ajudar está a estratégia do banco central angolano que, desde 2018, tem vindo a ensaiar um conjunto de medidas tendentes à liberalização do mercado cambial, com destaque para a ‘recolocação’ das companhias petrolíferas, do Tesouro de Nacional e das empresas do sector diamantífero na venda de divisas aos operadores bancários.
Ao todo, já foram vendidos ao longo do primeiro semestre deste ano um total de 609,04 milhões de dólares, quando até Junho de 2020 as contas batiam um total de2.674,38 milhões de dólares.
Contas feitas, a intervenção do BNA nas operações do mercado cambial com injecção de recursos em moeda estrangeira reduziram 77,2%, face ao total dos primeiros seis meses do ano passado.
A queda na participação do banco central angolano nas operações do mercado cambial é ainda maior se considerado o ano de 2019. Ou seja, de Junho de 2019 a Junho do ano que corre, o volume de divisas injectadas pelo banco central ‘encolheu’ 85,81%, uma redução que, na visão de analistas e de gestores bancário de topo, “reflecte a nova era de estabilidade” do mercado doméstico de câmbio.
A retirada do BNA das operações do mercado também pode ser medida através da redução da frequência dos leilões do regulador. Aliás, a FORBES noticiou, há três semanas, que o banco central angolano tinha completado, em Julho, três meses consecutivos sem realizar qualquer intervenção no mercado cambial.
O mapa e calendário dos resultados dos leilões também mostram isso mesmo. Como indicam, em Abril deste ano foi a última vez que o banco central realizou uma sessão de venda de moeda estrangeira ao mercado, com uma colocação de 50 milhões de dólares, dos quais só pouco mais da metade, precisamente 26,6 milhões , foram ‘despachados’ e ‘captados’ por cinco dos 25 bancos comerciais da praça.
Vantagens da liberalização do mercado
Analistas, operadores do mercado e até o próprio regulador já apontam vários benefícios da adopção, pelo banco central angolano, das medidas de flexibilização cambial.
Ao falar esta Quinta-feira, 23, no webinar subordinado ao tema ‘Flexibilização Cambial e Medidas de Compliance’, o chefe do departamento de Controlo Cambial do BNA (DCC), Ricardo Constantino, elencou um conjunto de vantagens com efeitos positivos no mercado, com destaque para uma maior fluidez na realização de operações de mercadoria e a garantia da total disponibilidade de moeda estrangeira, resultante das exportações por parte dos exportadores.
Entre os ganhos, Ricardo Constantino apontou ainda a simplificação das regras e procedimentos de realização e pagamentos sobre o exterior de operações cambiais de invisíveis correntes e de capitais, ordenados por pessoas singulares residentes e não residentes cambiais.
Outra vantagem apontada por aquele quadro do banco central angolano é a determinação de uma taxa que, no seu entender, “é mais representativa do mercado”, por consequência da implementação da plataforma de negociação Bloomberg-FXGO.
De salientar que o webinar contou com a participação, entre outros, de peritos do sector bancário alemão, moçambicano e de vários bancos comerciais angolanos.