Depois de os irmãos Flores terem trabalhado na Autoeuropa, já no fim do século passado e, pouco tempo mais tarde, na empresa Automated System Services na cidade de Southampton, no Reino Unido, Nuno e Luís resolveram criar um projecto próprio.
O pai apoiou fortemente o início da actividade da empresa, mas desvinculou-se em 2005. “Agora façam pela vida, já fui o vosso business angel por tempo suficiente”, brinca Nuno, citando o pai.
A Introsys foi criada para fazer robôs móveis com propósitos nobres, como é o caso de máquinas com dispositivos de identificação de minas terrestres para a desminagem de regiões afectadas por conflitos, como Angola.
O nascimento do projecto da desminagem no país africano coincidia precisamente com o fim da Guerra Civil, terminada em 2002. A ideia original fora do irmão, Luís. “A ideia dele tinha um enorme coração, mas tinha dificuldades de implementação”, lamenta Nuno. “Os nossos relacionamentos com os PALOP, e nomeadamente com Angola, prometiam antever a utilização deste tipo de tecnologia lá, [mas] depois isso acabou por ser resolvido através da desminagem utilizando pessoas.”
A Introsys foi criada para fazer robôs móveis com propósitos nobres, como é o caso de máquinas com dispositivos de identificação de minas terrestres.
Mas estão longe de se arrependerem desse primeiro – e nobre – passo. Esse robô foi reaproveitado para ser um robô na área da vigilância. Mais tarde, fez nova migração para aplicação em recolha de amostras (sampling) ambiental. Sonhos que não se compadeciam com o país. “Investimos mais de 3 milhões de euros em robótica sem termos conseguido vender o robô móvel apesar de todos os esforços que fizemos junto das entidades governamentais e em feiras”, refere Nuno.
É muito difícil vender tecnologia nacional fora de Portugal quando ela nem sequer é vendida cá. “Se não temos uma GNR ou uma PSP a utilizar robôs da Introsys – quando precisam de comprar robôs dessa natureza vão comprar lá fora – acha que vou conseguir vender algum quando nem sequer as autoridades portuguesas apostam neles?”, lamenta Nuno.
A porta de entrada seria aberta através da indústria automóvel e era para eles que iriam programar as suas soluções mais bem-sucedidas.
Parceiro de ouro
Sedeada no município de Palmela, a Introsys é uma das várias empresas que gravita em torno do gigante Volkswagen Autoeuropa, empregadora directa de mais de 3 mil pessoas – e empregadora indirecta certamente de muitas mais.
É a Autoeuropa, em grande parte, a responsável pelo sucesso da Introsys. E é uma importância que se mede pelo facto de o mercado automóvel ser “extremamente conservador na entrada de novos agentes”, a crer na descrição de Nuno.
Para quebrar este circuito fechado de parceiros em alguns mercados, o facto de terem a caução da marca alemã foi essencial. Estão presentes com pequenas estruturas na Índia, China, México e, naturalmente, na Alemanha.
Destas quatro, a que tem mais peso na facturação é a China. Os projectos no Império do Meio deverão ter pesado 40% no volume de negócios da empresa em 2018, revela o líder da Introsys. Mas, tal como nos outros mercados, não entraram sozinhos. “Quando vamos para a China, vamos debaixo do chapéu de chuva da Volkswagen, já que somos fornecedores deles”, diz Nuno.
Isto é, trabalham para operações chinesas da construtora germânica de automóveis. O mesmo acontece nos outros países onde estão presentes e com uma estrutura. “Se o nosso cliente nos disser ‘vamos fundar uma fábrica em Marte, começamos todos a tirar o curso de astronauta”, brinca.
Actualmente, a Introsys projecta a entrada em novos mercados e a conquista de novos clientes.
O primeiro contacto que Nuno fez com a Autoeuropa remonta aos anos 2000, e foi esse passo que abriu a porta para um futuro risonho em termos de parcerias com o gigante alemão.
Com a necessidade de se criar novas linhas de produção para a construção do modelo Volkswagen Eos, em 2007, propuseram-lhes construir a primeira linha de produção, “uma coisa muito pequenina, com dois robôs”, diz Nuno, mas que ainda lhes granjeou um encaixe de 300 mil euros. Os projectos foram aparecendo com o passar dos anos.
Os frutos desta colaboração atingiram um máximo de 9 milhões de euros num trabalho para a fábrica de Palmela no ano de 2016. Apesar de terem outros projectos para a indústria manufactureira, o foco está sempre nos automóveis. “Follow the money”, resume Nuno. “É aí que se ganha mais dinheiro. E o dinheiro manda.”
Actualmente, a Introsys projecta a entrada em novos mercados e a conquista de novos clientes. O sigilo dos contratos não lhe permite avançar mais do que referências geográficas.
Vão continuar a trabalhar para a Alemanha, aumentar o trabalho na China e em Portugal e entrar na Hungria. Segundo Nuno, em 2019 querem aumentar o volume de negócios em 20%, depois de terem fechado o ano passado com vendas de cerca de 20 milhões de euros.
A expansão, contudo, tem de ser feita aos poucos – sabem que há mercados difíceis, como o francês, vedado e reservado apenas a empresas francesas. É por isso que a parceria com a Volkswagen é tão importante – são portas que se abrem e novos mercados que se descobrem.
Derrubar barreiras
Nos primeiros anos de vida, a Introsys esteve sediada na incubadora do Uninova – Instituto de Desenvolvimento de Novas Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa. “Quando a Introsys foi criada em 2002 a Web Summit era uma ‘visão’ em Portugal.
Nessa altura, Portugal era conhecido por ter peixe grelhado e ter bom sol”, recorda Nuno. Robôs e Portugal não eram palavras que aparecessem amiúde juntas. A resposta internacional quando apresentaram o projecto a investidores estrangeiros reflectia essa desconfiança. “Nós apresentámos [a Introsys] a várias entidades que não acreditaram”, lembra.
O trabalho de prospecção doméstico não foi também frutífero. “Na altura fomos bater à porta de vários fundos nacionais e eles diziam-nos a mesma coisa. Alguns deles quiseram ser investidores da Introsys passado 10 anos quando já não havia risco”, lembra Nuno, antes de sentenciar em jeito de piada, mas ao mesmo tempo muito a sério: “Os fundos de capital de risco em Portugal só emprestam se não houver risco.”
Com vontade de crescer e expandir-se ainda mais pelos quatro cantos do globo, a Introsys necessita de dinheiro fresco.
Restou à família Flores a banca. Nuno assume que se endividaram “significativamente”. A dívida da Introsys chegou a atingir 750 mil euros na altura, face a receitas que eram o dobro disso. Os resultados operacionais eram 100 mil euros por ano. “Os primeiros tempos não foram fáceis”, lamenta.
Com vontade de crescer e expandir-se ainda mais pelos quatro cantos do globo, a Introsys necessita de dinheiro fresco. Assim, se houver algum investidor disposto a entrar no capital, “não há nada que não possa ser debatido pela administração da Introsys”, garante Nuno.
O gestor diz que já foi abordado várias vezes, mas não estiveram receptivos. Só faz sentido a entrada de um investidor institucional para ajudar a empresa a fazer coisas novas que acrescentem valor, diz. Uma injecção de conhecimento, portanto. Se for apenas uma questão de mais do mesmo – não há interesse. “Mas não é um tema que me ocupe muito tempo”, resume.
Porque a ausência de investidores não é impedimento para evoluir, irão começar obras na sede para aumentar as operações e continuar a contratar para o desenvolvimento de projectos para diferentes indústrias, além do sector automóvel.
Uma certeza é que não irão enveredar pelo hardware depois do falhanço inicial da criação de robôs propriamente ditos. Vão ficar-se pela programação do espírito dessas máquinas que constroem os automóveis com que milhões se locomovem.