“Portugal tem apoiado a Guiné-Bissau em muitas áreas, nomeadamente na educação, saúde, cultura e por sua vez a Guiné acolhe de braços abertos grandes empresas portuguesas, abrindo portas para os mercados da sub-região, tais como Senegal, Nigéria e Gambia”, palavras do presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, em terras lusas e em jeito de balanço, um balanço que considera positivo para as relações entre os dois países.
Três dias intensos com uma agenda que passou pelas visitas oficiais, pela CPLP, pela Camara Municipal de Lisboa, pelo empresariado local e, naturalmente, junto da comunidade guineense residente em Portugal que o acolheu bem, mas também com um rol de pedidos nomeadamente melhorar as questões do acesso ao agendamento junto à embaixada de Portugal em Bissau para questões de vistos e outros documentos, as taxas aduaneiras pagas à entrada e saída de nacionais quando já existe um acordo em vigor da mobilidade da CPLP, como também não deixaram de fazer elogios à visita de Estado.
Um país que tem vindo a marcar a sua presença no plano da diplomacia externa com um Presidente que marca presença em vários palcos nos 4 cantos do mundo, a Forbes Lusófona quis saber se o alcance que o presidente tem fora do país reflete-se dentro do país, do qual o presidente arrematou que não tem dúvidas que têm o povo com ele e, que é maior o acolhimento dentro do que fora do país. – “Fora do país, a única coisa que fiz, foi reposicionar a Guiné-Bissau no concerto das Nações”.
Uma semana que viria a tornar-se mais intensa com o anúncio da sanção dos Estados Unidos a Guiné-Bissau por falhas na luta contra o tráfico humano e à qual o presidente reagiu: “Guiné-Bissau para além de não fazer tráfico humano, não é um Estado falhado. Os Estados Unidos devem respeitar ao dirigir-se a outras Nações, pois não existem pequenos Estados”. Ainda no campo internacional e sobre o conflito do Médio Oriente, afirmou à Forbes Lusófona “ser não alinhado, sempre a favor da paz.”. Acrescenta, que acompanha com preocupação tudo o que está a acontecer, “não só o que se passa no Médio Oriente, mas também no Níger, Mali, Burkina”.
Foi o momento para se passar para as questões internas do país. O Presidente desvalorizou o apagão recente na Guiné-Bissau, fruto de um contrato sobrevalorizado com uma empresa estrangeira, confirmando que o governo está a renegociar “já foi ultrapassado, isto é algo que acontece em vários pontos do mundo, no entanto quando algo acontece na Guiné a imprensa tende a dar uma maior dimensão às situações. O mesmo se passa quando existe a mudança de Governo ou dissolução da ANP. Aconteceu em Portugal e a vida continua.”
E prossegue. “Neste momento estamos a viver uma nova forma de coabitação de que o Marcelo é pioneiro, Cabo Verde vive o mesmo, pelos vistos está na moda. Na Guiné-Bissau não se pode falar na dissolução da ANP antes de um ano do mandato, só se houver um bloqueio, o caso do Supremo, aí temos de buscar um consenso, mas como vos disse, eu sou um homem de paz, sou um homem de bem e não a imagem que certas pessoas querem passar. O que existe é uma relação de fluidez entre as instituições”, remata.
Ainda na linha da coabitação, mas no plano nacional, um país cujo a sua génese é multiétnica, racial religiosa, atualmente ainda se sente algum mau estar entre este mosaico múltiplo. A Forbes Lusófona quis entender se o Presidente Embaló enquanto muçulmano sente a discriminação na pele e se as palavras escritas recentemente numas paredes contra a religião, nos dias de hoje fazem algum sentido na Guiné, ao qual Embaló diz que acima de tudo tem de haver respeito, pois a Guiné é um Estado laico que não pratica qualquer confissão religiosa. “Na minha casa há uma bíblia e um alcorão, a Primeira-dama da guiné Bissau é cristã. Por outro lado, também não podemos levar a religião para o campo político, o exemplo é a Irlanda, entre os protestantes e os católicos.” “mas a coabitação é obrigatória, nós não exercemos o poder em nome de Ahla ou em nome de Jesus, não, nada disso. Não somos um Estado teocrático, mas muitos fazem o aproveitamento, é verdade!”
Quanto à data das eleições presidências apontadas para 2025 e que têm criado também discórdia com a oposição, Umaro Embaló diz que não chega a ser uma polémica, – “pois tudo será feito na base da lei eleitoral, no entanto a oposição tem o papel de fazer oposição, que é o que na realidade está a fazer.”.
O Presidente enfatiza, no final, que “a Guiné é um país estável, pois ninguém investe em países de risco. E acredita que os jovens guineenses já deram conta que o país é estável e seguro, desde a guerra de 7 junho de 1997”.
A 16 de Novembro, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa estarão na Guiné-Bissau por ocasião da comemoração dos 50 anos de independência do país.