Anthony Douglas lançou em 2011 a Hole19, uma aplicação que pretende ser uma referência no mundo do golfe. Começou por ter apenas dois países com campos mapeados, Portugal e Suécia.
Hoje, a aplicação já contém dados de 95% dos campos mundiais em 154 países. Contudo, pelo caminho, o fundador viu-se obrigado a mudar de modelo de negócio para ter sucesso, mesmo que isso significasse, a dada altura, dar um passo atrás.
O presidente executivo da empresa conta à FORBES que, à medida que avançava no projecto, percebeu que uma das competências essenciais para gerir uma start-up é, precisamente, a paciência. Aperfeiçoou-a no golfe. “É um desporto onde se joga contra si mesmo. É um desafio mental e emocional, há altos e baixos. É um teste de carácter e um grande treino para se montar uma empresa”, confirma.
O caminho da Hole19 começou com um modelo de negócio baseado numa aplicação paga, “nos primeiros anos em que ainda se pagava por aplicações”, justifica. A versão inicial da app disponibilizava apenas localização por GPS e um tracker de pontuação. Para descarregá-la, era necessário pagar 30 euros no primeiro ano. Facturaram nessa altura cerca de 70 mil euros.
Em 2013, Anthony apercebeu-se que o modelo de negócio no qual tinha apostado inicialmente tinha falhas – e alterou-o. Para ganhar tracção no mercado do golfe, tornou a aplicação gratuita e aperfeiçoou-a por forma a ter uma maior abrangência. Segundo Anthony, “o produto deixou de ser apenas baseado na localização por GPS. O desafio era tornar a aplicação gratuita, mapear todos os campos do mundo, e ligar o golfista às suas estatísticas, aos amigos – a parte social – e aos campos de golfe”, revela.
A mudança de um modelo pago para gratuito implicou algumas dores de crescimento e obrigou a Hole19 a suportar uma quebra pronunciada da facturação e prejuízos em 2014. Contudo, os activos valorizaram quase 30% de 2013 para 2014, muito fruto das alterações na app, e aumentaram em mais de 200% os capitais próprios. Anthony adianta que, segundo o novo modelo, “só queremos facturar quando ganharmos escala, isto é, quando chegarmos a 1 milhão de utilizadores.”
Actualmente contam com 850 mil. O optimismo de empreendedor é grande. A meta é chegar a uma facturação na ordem de 1 milhão de euros em 2016. Para o ano, quer chegar aos 5 milhões.
E, nos próximos cinco anos, afiança, o alvo é os 100 milhões de euros. As receitas provêm agora da aposta em conteúdos premium, com mais funcionalidades passíveis de serem desbloqueadas por 50 euros anuais. A Hole19 vai apostar em breve no campo da reserva dos campos e na área de business intelligence de “venda de campos de golfe a empresas e a marcas”, acrescenta.
Alimentar do negócio
O começo da aventura não foi fácil. Anthony revela que falou com vários investidores para arranjar financiamento, mas acabou por recorrer a dinheiro de família, amigos e investidores temerários. A título pessoal, avançou com cerca de 7 mil euros. Do pai e do irmão, conseguiu 60 mil euros. Dos amigos, foi mais. “Não posso revelar quanto. Foi um empréstimo pessoal”, diz.
Contratou o primeiro engenheiro com os 25 mil euros que ganhou, em 2011, no Prémio Nacional de Indústrias Criativas, atribuído pela Fundação de Serralves e pela Unicer, a projectos inovadores na área do empreendedorismo. Candidatou-se também a um financiamento de 500 mil euros no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
Tinha um catch: exigiam condições prévias como “capital próprio e investimento exclusivo em áreas específicas definidas por nós”, recorda. Amarras que não permitiram agilidade em futuras alterações no projecto. “Na altura, nem sabia no que me estava a meter”, conta.
Contudo, assume que hoje não estaria a conversar com a FORBES como líder da Hole19 se não fossem esses fundos. Em 2013, recorreu ao Seedcamp, um fundo de capital de risco, que ajudou a empresa com consultoria. Seguiram-se os fundos White Star Capital e e42, que investiram 170 mil euros.
Na segunda ronda, em 2014, recorreram à Faber Ventures, que resultou num levantamento de perto de 300 mil euros. À FORBES, Alexandre Barbosa, sócio-gerente do fundo de capital de risco, diz que convenceu-se do potencial do projecto “depois de um almoço” com Anthony: “Houve uma sintonia mútua entre aquilo que a Faber quer representar como fundo de investimento e a forma como a Hole19 quer ser percepcionada como start-up”.
E acrescenta: “Podem ser construídas em Portugal empresas globais”. Numa próxima ronda de investimento, o líder da Hole19 diz que quer ir a jogo com a empresa avaliada em 25 milhões de euros e captar entre 3 milhões a 6 milhões de euros.
Para já não tem pressa em chegar aos Santo Graal das start-ups: venda ou dispersão em bolsa. O foco está noutro sítio: “quero facturar mais de 100 milhões de euros nos próximos cinco anos”, remata.