Conduzir só com um pedal? Actualizações de software durante a noite? Se estes dois pontos não bastassem, o simples facto de nos aproximarmos e os puxadores saírem da carroçaria para nos convidar a entrar levam-nos a perceber que estamos perante um carro diferente. O Model S é um carro concebido em pleno século XXI, fruto não das forjas de Detroit, mas das linhas de código de Silicon Valley.
O Model S pertence à Tesla, uma empresa americana cuja missão é “acelerar a chegada do transporte sustentável criando carros eléctricos para o mercado de massas”. E se o primeiro modelo da Tesla – o Roadster – foi um produto assumidamente de nicho, o Model S é o primeiro produto massificado que traz a marca para o mercado de grande consumo.
Já sentados no carro, o novo paradigma continua a fazer-se sentir: um toque no pedal do travão é quando basta para o que o painel de instrumentos e o touchscreen de 17 polegadas ao centro da consola ganhem vida. Chave? Não existe. O mais próximo é um comando com formato de Model S em miniatura, que continua guardado na minha mala. Nem sequer há barulho de motor – o carro está pronto a arrancar. E que arranque!
O Model S P85D conta com dois motores eléctricos (um por eixo) capazes de produzir 930 newton-metro de força imediatamente disponíveis no pedal – não há rotações, não há caixa de velocidades, é carregar e acelerar. Toda esta força catapulta o carro do zero aos 100 em 3,3 segundos, fazendo com que este veículo familiar de duas toneladas deixe muitos desportivos para trás.
O peso do carro acaba por se sentir, especialmente em travagem, mas o baixo centro de gravidade – graças às baterias colocadas ao longo do carro, como um skate gigante – relembram-nos de que estamos num carro capaz de comportamentos muito dinâmicos e muito interessantes. E se o acelerador nos cola ao assento sempre que pedimos, também ele faz as honras quando queremos abrandar. Sempre que levantamos o pé, o sistema de travagem regenerativa converte parte do movimento em energia eléctrica, abrandando o carro e permitindo recuperar a preciosa autonomia. Com prática, o Model S pode ser conduzido usando apenas o acelerador, servindo o pedal do travão para imobilizar o carro num semáforo ou no destino final.
Se de dois pedais passámos a apenas um, com pouco esforço passamos de um pedal a zero: ligando o modo Autopilot, o Model S reconhece as marcações na estrada e os carros em redor, passando a condução a ser inteiramente autónoma. Da mesma forma e perante um lugar de estacionamento, uma vez ligado o Autopilot, o carro estaciona-se sozinho, permitindo até que o condutor saia antes de a manobra se iniciar.
Como não há duas sem três, e podendo ser activada apenas em locais previamente definidos, a função Summon “invoca” o carro a deslocar-se lentamente do ponto onde está estacionado até ao ponto onde o condutor se encontra num raio de 30 metros. Impensável? Também o era para muitos condutores que, uma manhã, acordaram e se depararam com o conjunto de funcionalidades novas que os seus carros tinham recebido durante a noite. Chegámos à era dos updates de software por wireless, onde um carro só melhora ao longo da sua vida.
Um novo paradigma implica muitas vezes desconforto, ajuste e benefício. A autonomia de 400 quilómetros, algo reduzida relativamente a um veículo de combustão interna, pode implicar algum cuidado na escolha dos itinerários escolhidos. Mas se puder fazer o compromisso de uma pausa mais longa para carregar baterias – metafóricas e literais – nas suas viagens, ou tiver um destino com a logística eléctrica adequada, será o único compromisso a fazer.
Espaçoso, seguro, potente, moderno e actualizável – o Model S é, sem dúvida, a mostra do novo paradigma que a todos nos espera.