Na famosa saga de livros Harry Potter, dentro do castelo de Hogwarts havia uma porta incrível que escondia a chamada “Sala das Necessidades”: uma divisão que poderia ser qualquer coisa, uma vez que se transformava à medida de quem a procurava. Foi armário de vassouras, casa de banho ou sala de treinos.
O Apartamento é uma espécie de “Sala das Necessidades”, sem magia e em pleno coração alfacinha. Tudo partiu da cabeça de Armando Ribeiro, consultor de comunicação, amante de Arte e de boas revistas, apaixonado por viagens. “Basicamente, gostava de ter um espaço, em Lisboa, onde pudesse receber apresentações das revistas que eu adorava”, diz.
Uma espécie de sonho de consumo que se transformou num palco de sinergias na capital portuguesa. Para entender esta necessidade de Armando de juntar pessoas, ideias e sobretudo muita arte e design no mesmo espaço, é preciso ir mais atrás, e ver o percurso atípico que desenvolveu até aqui chegar.
Armando estudou Museologia, Fotografia e Feng-Shui, e durante 12 anos foi buyer. Trabalhou na Arte Assinada e criou a concept store O Epicurista, num desafio que lhe foi lançado por António Ramalho Carlos. Ao mesmo tempo ia acumulando trabalho de assessoria em clientes dispersos. Ao fim de um tempo é convidado por Xana Nunes para integrar a sua empresa: ela dar-lhe-ia a estrutura de que ele precisava para gerir tantos clientes e ele levava-os para lá.
Ao fim de dois anos percebeu que precisava, novamente, de trabalhar sozinho. Ao sair da empresa surpreende-se com a quantidade de clientes que o acompanham e nasce, meses mais tarde, a Plataform-a, que nos primeiros tempos conseguiu gerir sozinho.
Aberto à partilha
Estamos sentados na sala de estar de 45 m2 d’ O Apartamento, com vista para um jardim e para o céu azul que nos entra pelas enormes janelas. Toda a casa está decorada como se alguém a habitasse, efectivamente. Actualmente, o Apartamento recebe as desejadas apresentações de revistas, mas também exposições, jantares, oficinas, concertos, sessões de cinema, conferências e artistas: afinal, o quarto de dormir também gosta de ser ocupado.
Por isso, ali já viveram por uns dias, por exemplo, a francesa Johanna Tagada e a dupla turca Papier Atelier Deniz e Türker. “Muitas vezes são os artistas que nos abordam, a propor passarem cá uns dias. Em troca, fazem uma exposição ou um workshop, e deixam-nos uma peça sua”, explica o director criativo d’O Apartamento.
Ao 5.º direito do número 1 da Avenida Duque de Loulé já acorreram portugueses e estrangeiros. “Temos muitos turistas a vir cá, seja aos workshops seja para ver uma exposição”, continua Armando.
“E são pessoas de todas as idades e de todos os meios. Ainda na semana passada apareceu um casal de cerca de 70 anos para vir ver a exposição da Pauliana [Valente Pimentel]!”, revela-nos entre sorrisos.
“Sempre acreditei que O Apartamento ia ter sucesso. Não sabia é que seria tão rápido, que as coisas se iam suceder a este ritmo”, continua.
Apesar de ainda não dar lucro, O Apartamento já produz alguns números interessantes. “Nos meses de Janeiro e Fevereiro deste ano, por exemplo, paga-se a si próprio”, confidencia Armando que, a título pessoal, realizou do seu bolso a totalidade do investimento inicial do projecto.
Garante que a gestão do investimento é criteriosa e ressalva que “este é um projecto de médio prazo. De muita qualidade. E qualidade exige tempo.” Contudo, confessa à FORBES que para tornar O Apartamento rentável é necessário ter um espaço maior.
“Se quisermos fazer um jantar com 50 pessoas, aqui não é possível”, lamenta Armando. Por isso, revela a surpresa de 2017: “estamos à procura de um novo lugar. Será um apartamento, claro, mas ainda temos de escolher o lugar certo”. Vai ser, certamente, um espaço maior, que lhe permita outro tipo de eventos e claro, outro tipo de rentabilidade.
Segundo Armando, O Apartamento conta com mais de 30 parcerias, nacionais e internacionais, que estabeleceu desde que criou o projecto. Entre os parceiros destacam-se a TAP,
a editora Rizzoli – “nunca pensei que aceitasse tão depressa!”, confessa – , a Maison Perrier-Jouët, a Claus Porto, os Freunde von Freunden, a Gestalten, a Magis ou o Turismo de Portugal.
“Eu sou uma pessoa de relações. O Apartamento quer potenciar relações. É simples. Já houve gente de diferentes nacionalidades, que se conheceu aqui, a criar projectos em conjunto. Fico super feliz com isso”, diz quando lhe perguntamos por que criou, afinal, uma marca que ainda não lhe dá dinheiro e lhe retira tempo.
“Eu adoro viajar, mas adoro Lisboa. E sentia que era preciso trazer mundo para Lisboa. Que pessoas que têm ideias tivessem um espaço onde as pudessem vir apresentar, sentindo-se em casa”.