A taxa da actividade empreendedora em Angola registou um crescimento de 53,4% em 2022, o que representa um aumento de 8% face ao ano 2020 (49,6%), maior que 50 economias do mundo, aponta relatório do Projecto Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Angola 2022-2023, apresentado esta semana, em Luanda.
O estudo desenvolvido pela Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), em parceria com o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-UCAN) e o Banco de Fomento de Angola (BFA), indica que a faixa etária entre os 25 e 34 anos de idade apresenta maior percentagem no estudo de 2022 (58,6%).
“Em Angola, esta faixa etária tem aumentado de ano para ano, uma vez que em 2018 era de 51% e em 2020 de 54%, tendo maior valor em três edições consecutivas”, destaca o relatório, que analisou um total de 50 países, seis dos quais africanos, nomeadamente Angola, África do Sul, Egipto, Marrocos, Togo e Tunísia.
Quanto à taxa de cessação de negócios, depois de aumentar de 26% em 2018 para 39% em 2020, registou uma redução de 30% em 2022, tendo como os principais motivos apresentados para tais encerramentos – problemas em obter financiamento (39%), negócio não ser rentável (29,1%) e motivos pessoais ou familiares (23%).
Com isso, descreve o documento, 54% dos empreendedores considera mais difícil iniciar um negócio em Angola face ao ano anterior, revelando uma tendência positiva desde o último estudo, já que em 2020 o valor era de 78%, indicador que não foi considerado em 2018.
O relatório demonstra ainda que, nos próximos cinco anos, 29% dos empreendedores early-stage angolanos pretendem criar cinco ou mais postos de trabalho, percentagem superior à média dos países de rendimento baixo e dos países africanos.
Ao tomar decisões sobre o futuro da sua empresa, 67% dos empreendedores indicam que têm em conta considerações sociais e 66% ambientais, indicador que apenas foi introduzido em 2022, não estando presente nas edições anteriores do relatório Global Entrepreneurship Monitor.
Em declarações à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, à margem da apresentação do relatório, o presidente do conselho de administração da Sociedade Portuguesa de Inovação, Augusto Medina, ressaltou que em Angola continua a haver uma grande percentagem de empreendedores que criam negócios por necessidade, com uma taxa de cessação elevada.
Augusto Medina sugere que o governo angolano deve melhorar a educação, formação, transferência de resultados de investigação para as empresas, bem como as infra-estruturas físicas.
Por sua vez, o director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Manuel Alves da Rocha, espera que o resultado deste relatório sirva como ferramenta para incentivar mais empreendedores a aparecerem nos diferentes negócios.
Já o director da Direcção de Particulares e Negócios do BFA, Euclides Capitamolo, explicou que têm estado a financiar este estudo desde 2008, gastando 175 mil dólares cada edição. “A nossa expectativa é que o estudo seja usado pelas entidades que têm poder de decisão para que o empreendedorismo em Angola ganhe passos mais rápido”, disse.
Para o economista Carlos Rosado de Carvalho, a taxa de empreendedorismo em Angola é mais elevada pelas piores razões: “Porque os cidadãos são obrigados a empreender em condições precárias”, precisou.
O também jornalista entende que isto resulta do facto de existir muita miséria, pobreza e desemprego no país, tendo em conta que as pessoas não têm rendimentos e, por isso, têm que vender qualquer coisa para sobreviver. “Isso não é normal em qualquer parte do mundo. As pessoas são empreendedores por necessidade”, acrescentou.