O Presidente da República de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, afirmou, há dias, na cidade de Guadalupe, distrito de Lobata, que, 48 depois, o país ainda está muito aquém dos anseios da independência, apesar de algumas conquistas como a instauração da democracia, a consolidação do Estado de Direito democrático, que, como referiu, permitiu uma maior participação dos cidadãos na determinação das políticas e dos programas de transformação política, económica, social e cultural da nação.
Ao discursar por ocasião do 48º aniversário da independência da nação são-tomense, Carlos Vila Nova defendeu a necessidade de se delimitar, de forma clara, o espaço de intervenção de cada actor na cena política do país, a composição e articulação dos poderes, a imperiosidade de balizar os prazos dos mandatos, que diz ser um aspecto que tem causado alguns constrangimentos. O estadista advogou ainda que se deve melhorar o mecanismo de controlo de todos os órgãos, por que no seu entender, “em democracia todos os órgãos de soberania devem ser controlados”.
Segundo Vila Nova tem sido difícil conseguir alcançar a independência económica e o país apresenta uma “crise profunda” há vários níveis. “o país debate-se com problemas imediatos e com repercussão directa no dia-a-dia das nossas populações. A pobreza continua a agraçar, a crise energética persiste, o poder de compra dos são-tomenses é cada vez mais fraco, há falta de emprego, sobretudo emprego jovem”, enumerou.
Prosseguindo, o líder são-tomense considera que “o tecido empresarial se encontra extremamente fragilizado, a justiça não responde satisfatóriamente as querelas que assolam a sociedade, o sistema de saúde não oferece aos são-tomenses a satisfação das suas necessidades, o investimento privado é incipiente e muitas vezes morto a nascença por muitas razões”.
A tudo isso, enfatizou Presidente, somam-se o facto de as famílias estarem cada vez mais desestruturadas e as forças políticas não convergem sobre a melhor forma de conduzir o destino do país.
“As fraquezas da nossa economia conduziram o país a uma situação de decadência, cujos efeitos nefastos têm-se feito sentir sobre a vida da população, com muita acuidade, nos últimos tempos”, afirmou.
Num discurso crítico, Vila Nova sublinha que os são-tomenses têm-se debatido com problemas reais que reclamam soluções imediatas, que “só com esforço, dedicação, persistência e o contributo de todos, sem excepção”, podem ser encontrados.
“O país precisa de nós. O momento não é e não pode ser de divisão, mas de união, não é e não pode ser de confronto, mas de harmonia. Não é e não pode ser de agitação, não é e não pode ser de arrogância, mas de humildade, não é e não pode ser de nos prendermos ao passado, mas de avançarmos rumo ao futuro. Deve ser de diálogo e consensos estratégicos”, apontou.
Carlos Vila Nova mostrou-se esperançoso que com a união será possível ir-se mais além. “Por isso, mais uma vez, apelo a união da família são-tomense e a construção de um clima de estabilidade social e política, que pode exigir de todos algum sacrifício e paciência. Não tenho dúvidas de que verdadeiramente juntos seremos melhores”, afirmou em jeito de apelo aos são-tomenses.
O Presidente pediu aos cidadãos do país que se congreguem todos em torno da causa da construção de São Tomé e Príncipe, para que se honre assim “verdadeiramente aqueles filhos da terra que sacrificada e abnegadamente se entregaram a nobre causa da afirmação da nossa identidade como povo”.
A cidade de Guadalupe encheu de gente, vinda de vários pontos do país, para testemunhar o acto central que marcou as celebrações dos 48 anos da independência de São Tomé e Príncipe, que contou também com as presenças dos titulares dos órgãos de soberania, membros de Governo, corpo diplomático acreditado no país, deputados, ex-Presidentes da República e de Organizações Não-Governamentais.
O autarca local, Euclide Buiu, sublinhou a necessidade de se ultrapassar os desafios que se prendem com a desigualdade distrital e regionais, o alcanse da paz efectiva, a unidade, disciplina e trabalho, “em suma, de um desenvolvimento sustentável, alicerçado num alargamento e aprofundamento da democracia e na modernidzação e consolidação do Estado democrático”.
População insatisfeita com o estado da nação
A maioria dos cidadãos ouvidos pela FORBES ÁFRICA LUSÓFONA sobre os avanços e os retrocessos do pós-independência manifestou um sentimento de insatisfação, sobretudo com a situação social e económica do país, que considera ter piorado, nos últimos 48 anos.
“O desenvolvimento que queremos do país jamais será alcançado, enquanto os políticos continuarem a pensar somente neles. Já se passam 48 anos e nós não temos uma energia de qualidade, estradas nem se fala, salário mínimo continua aquém do desejado. Neste país nós não vivemos, sobrevivemos”, afirmou Alex dos Anjos.
Já Jocy Neto, outro são-tomense “desiludido com o rumo que o país tomou” referiu que “em 48 anos já se teve mais de dez governos, excesso de crises económicas, má gestão e má governação dos bens públicos e dos recursos” colocados a disposição do país. “Passamos a viver só de ajudas. As famílias mais humildes não são independentes financeiramente. Cada dia que passa as coisas estão a piorar no país. Não é esse São Tomé e Príncipe que almejo para os meus netos”, frisou com tom de revolta.
Por sua vez, a cidadã Sandra dos Santos parabenizo os governantes por algumas conquistas alcançadas ao longo dos 48 anos da independência, com realce para os sectores da saúde e educação. “Podemos dizer que algo foi feito realmente. Por exemplo, ao nível da saúde não temos um hospital de ponta, mas o acesso aos serviços foi melhorado. A nível da educação também melhoramos bastante e isso é muito bom. O que nos falta é consolidar no campo da política, onde estamos sempre a mudar o Governo e cada um com a sua política. Por isso o país não está a avançar. Se cada Governo fizesse um bocadinho, o país não estaria assim. Mas eu acredito que um dia vamos chegar lá, tenho fé”, acredita Sandra.
A 12 de Julho de 1975, na histórica praça da independência, o nacionalista Nuno Xavier Daniel Dias, ladeado do Almirante Rosa Coutinho, em representação do Estado Português, hasteava pela primeira vez a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, no acto que marcou a independência do país.