O stock de crédito do sistema bancário angolano disparou 8,4% para perto de cinco biliões de kwanzas (cerca de 7,7 mil milhões de dólares), em Junho deste ano, face a igual período do ano passado, impulsionado pelo crescimento do empréstimo a particulares e comércio, com 26,4% e 16,5%, respectivamente, de acordo com cálculos da FORBES, com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras do Banco Nacional de Angola (BNA).
Isoladamente, o crédito ao comércio por grosso e a retalho foi responsável por 24% do total do stock dos financiamentos registados em Junho, seguido pelo também designado crédito ao consumo, que responde por 19,4%.
Apesar dos receios da banca na concessão de novos créditos, há ainda operadores do mercado dispostos a enfrentarem riscos do desembolso de crédito em período de crise económica e de pandemia.
Só em Junho, o stock de crédito a particulares (consumo) estava situado nos 939.559,05 milhões de kwanzas, quando em igual período do ano anterior só estavam registados 743.142 milhões de kwanzas.
Outro importante sector na estatística de créditos à economia é o do comércio por grosso e retalho. Aliás, este já costuma a liderar a lista dos maiores desembolsos no sistema bancário nacional. Até Junho, essa rubrica viu o seu valor subir 16,5%, ao sair dos 982.071 milhões kwanzas, em 2020, para mais de um bilião de kwanzas em Junho do ano em curso.
A construção, que já foi importante sector na captação de fundos da banca, é o terceiro da lista que ajudaram a empurrar para cima o stock de crédito em Junho. Os dados do BNA revelam que este segmento representa 12,4% do total de crédito, tendo fechado Junho com uma marca de 598.194,21 milhões Kz.
Analistas explicam preferência da banca ao comércio
Consultados pela FORBES, analistas defendem que o crédito a particulares e comercio “sempre vão ajudar a influenciar o curso dos financiamentos”. Na visão dos a especialistas, os créditos ao comércio são de curto prazo, daí o interesse da banca em financiar esses sectores.
“Por isso é que temos assistido os bancos a fazerem resistência no financiamento dos projectos do Aviso 10/2020, do Banco Nacional de Angola. Estamos em crise financeira e agora com a pandemia, nenhum banco quer arriscar um crédito ao sector da agricultura, cujos riscos não maiores”, disse um analista de crédito de um grande banco que pediu para não ser identificado.
Aliás, o sector da agricultura, que integra ainda os subsectores da ‘Produção Animal, Caça e Silvicultura’, registou, em junho, um stock de crédito da ordem dos 310.072,01 milhões de kwanzas, um salto de 43,9% face a igual período do ano passado. Apesar do crescimento, analistas defendem que o montante é baixo, considerando, na visão destes, “a necessidade do país de produção interna”.
Aumento do crédito depende da preparação dos projectos
Se até Junho os stock de crédito ultrapassava os quatro biliões de kwanzas, analistas de créditos de três dos cinco maiores banco angolanos defendem que incremento desta margem dependerá da organização dos projectos e sua estruturação.
À FORBES, os analistas de créditos partilharam uma interminável lista de constrangimento com as quais se deparam na análise das solicitações de créditos, entre quais se destacam projectos com múltiplas finalidades, solicitação de montantes muito elevados para empresas com pouca experiência empresarial; ausência de capitais próprios adequados, factor estipulado como requisito mínimo para obtenção de financiamento bancário e ausência de informação relevante nos estudos de viabilidade, designadamente ao nível dos cronogramas de implementação, mapas de serviço de dívida, mapa de produção, estudo de mercado, e estudo do solo, entre outros.
A lista não fica por aqui. À ela se juntam o facto de aparecerem, nas solicitações de crédito, promotores com estrutura de gestão débil e carência de técnicos especializados, além da ausência de experiência do promotor no sector em que apresenta o projecto e para o qual requer o financiamento.
Na opinião dos especialistas, “até os empresários vencerem estas debilidades, a estatística de crédito não deve ir muito além dos números actuais”.