Em 1994, quando a Internet dava os primeiros passos em Portugal, a navegação fazia-se por linha telefónica a uma velocidade de 28 Kb por segundo e eram necessários uns modems que faziam um ruído que lembrava os computadores ZX Spectrum da década anterior quando carregavam um jogo.
Do outro lado do Atlântico, nos EUA, a realidade não era muito diferente, mas apesar da velocidade de caracol e da falta de massa crítica de utilizadores, em 1995, Jeff Bezos funda a Amazon.com e dois anos mais tarde dispersa o capital da loja on-line na Bolsa tecnológica Nasdaq a 18 dólares por acção.
Foi um risco e, ao mesmo tempo, uma visão de génio. Mais de uma década depois, navega-se a 100 gigabytes por segundo, a rede saltou dos computadores para os mais de 5 mil milhões de smartphones, e as acções da Amazon.com cotam no principal índice tecnológico norte-americano a 1428 dólares, reflectindo um volume de vendas anual equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) português.
Sempre que o homem descobre uma nova fonte de energia ou faz uma descoberta científica, a humanidade avança. Foi assim com o fogo, com o motor a vapor e com a electricidade, com o petróleo e é assim hoje com o que os especialistas começaram por chamar “Indústria 4.0”, um conceito que nasceu em 2013 fomentado por uma estratégia do governo alemão para incentivar a criação de fábricas mais inteligentes, mas que já saiu do universo industrial.
Negócios inteligentes
O que aconteceu na década de 1990 com a Internet está hoje a acontecer com a Inteligência Artificial, Robótica, Impressão 3D, “Internet das Coisas”, com os algoritmos e o Big Data, tecnologias que usadas em conjunto abrem um mundo de oportunidades, onde o aumento potencial da produtividade em sectores mais tradicionais, é apenas uma delas.
Segundos os cálculos da Federação da Indústria Alemã, parceira do governo local na implementação da estratégia “Indústria 4.0”, a aplicação conjunta das tecnologias associadas à “Internet das Coisas” poderá gerar ganhos de produtividade no sector secundário na ordem dos 30%, o que seria elixir para um país como Portugal onde a baixa produtividade tem contornos de doença crónica.
Empresas como a Prodsmart, uma start-up portuguesa que criou um Manufacturing Execution System (MES), um sistema de gestão de linhas de produção, está a contribuir para esses ganhos através de uma solução que transforma smartphones em sensores que recolhem e canalizam informação para uma aplicação que permite gerir a produção de uma fábrica em tempo real.
A BeeVeryCreative, uma empresa de Aveiro, já está a ajudar unidades fabris a produzir pequenos componentes in-house através da Impressão 3D e vai levar a tecnologia para o espaço. No sector primário, o destaque maior recai para a Wiseconnect, que através da utilização de sensores e a aplicação de algoritmos de previsão está a fazer da agricultura uma actividade científica, enquanto a Infraspeak está a simplificar a gestão da manutenção dos milhares de equipamentos presentes nos hotéis e os centros comerciais.
Embora em sectores diferentes, ambas têm algo em comum: digitalizam os activos físicos e integram-nos em sistemas digitais que resultam numa gestão mais inteligente e eficiente que se reflecte em números.
Segundo um inquérito conjunto da Accenture Strategy com a Oxford Economics, a digitalização das empresas pode valer 3,2 mil milhões de euros à economia nacional até 2020, resultante de um aumento das vendas e uma diminuição dos custos na ordem dos 10%. Para tal, prevê-se que um investimento na ordem do bilião de euros.
O comércio on-line que fez da Amazon.com uma das maiores empresas do mundo está a gerar companhias colossais e a ameaçar as incumbentes. Com a Airbnb no sector do alojamento, onde Portugal tem a Uniplaces, uma plataforma de alojamento para estudantes, a inovação trouxe mais concorrência ao sector hoteleiro.
A Uber, nos transportes, e o MB Way, e a Raize, uma plataforma on-line de empréstimos colectivos, na banca, são outros exemplos. Na Bank Summit, uma cimeira patrocinada pela Associação Portuguesa de Bancos sobre a inovação no sector, Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, afirmou que a nova directiva de pagamentos que irá permitir o acesso de novos operadores à informação que os bancos têm sobre os clientes põe em risco cerca de 25% a 40% do produto líquido bancário. “Será o maior desafio para o sector desde a invenção das ATM – Multibanco”, avisou.
A tecnologia está obrigar as empresas a mudar. Na banca, os clientes recorrem cada vez mais ao homebanking e, no retalho, quem não está on-line arrisca-se a morrer. Todos os dias surgem start-ups com novos modelos de negócio para a prestação de um serviço já existente, como a 360 Imprimir, um marketplace – mercado on-line – de produtos e serviços de marketing, que conseguiu mudar a forma de trabalhar de uma indústria tão rígida com a gráfica.
Criam-se soluções inovadoras que melhoram processos, como a Vision Box está a fazer na área do controlo da identidade nos aeroportos e nos serviços públicos ao criar uma quase “Via verde” com recurso à biométrica e à realidade aumentada. Os exemplos são muitos, mas nas próximas páginas a FORBES apresenta-lhe oito empresas que estão a fazer um upgrade do tecido empresarial português.