Apenas dois bancos comerciais, dos 25 que operam no mercado nacional, cumpriram, até Junho, a meta de número mínimo de projectos a financiar ao abrigo do Aviso nº10, do Banco Nacional de Angola (BNA). Tratam-se dos bancos Yetu e o Banco de Negócios Internacional (BNI), de acordo com o balanço do mês passado do referido programa.
Não é a primeira vez que o balanço do Aviso nº10 mostra um número baixo de bancos, no agregado de todas as instituições bancárias, que já apoiaram a totalidade do mínimo de projectos a financiar ou as que já tenham ultrapassado a meta. As estatísticas de Maio revelam que os bancos Yetu e BNI eram os mesmos que tinham observados essa diretriz.
De acordo com dados do programa, os bancos comerciais estão obrigados a contratualizar iniciativas de crédito que correspondam a, no mínimo, 2,5% do valor total do activo líquido. No caso os bancos Yetu e BNI, estavam obrigados a um mínimo de 20 projectos de créditos cada, meta já atingida por ambos, com destaque para o banco liderado por Mário Abílio Palhares que passou a fasquia, com mais 6 projectos.
Ainda dentro desta estratégia, as instituições financeiras bancárias com maior activo líquido do sistema bancário nacional, o Banco Angolano de Investimentos (BAI) e o Banco de Fomento Angola (BFA), estão obrigado a assegurar a contratualização de um mínimo de 50 novos créditos.
Até Junho, os gigantes do sector bancário nacional no ranking por activos [BAI e BFA] só tinham desembolsado 21 e 10 projectos, respectivamente, dos 50 que o Aviso nº10 os obriga a financiar.
À FORBES, analistas consideram que esta tendência deve manter-se, a julgar pelo actual cenário económico de contracção e, até mesmo, pela “inexistência de liquidez suficiente na grande maioria dos bancos comerciais”. Isto, segundo os peritos do mercado bancário, “sem contar com os problemas e inviabilidade de vários projectos que chegam à mesa dos bancos para análise”.
Aliás, o argumento da inviabilidade dos projectos está sempre presente nas explicações dos gestores bancários, quando questionados sobre o baixo número de propostas que as instituições aprovam ou despacham favoravelmente para financiamento. Uma fonte do Banco Comercial Angolano (BCA) revelou à FORBES que muitas das iniciativas apresentadas pelos empresários não respondem aos critérios do programa, além do facto de que vários proponentes de crédito desconhecem as áreas de investimento a que solicitam o empréstimo.
“Como forma de travar o aumento do crédito malparado, nós temos sido cautelosos na aprovação destas iniciativas. Isso é assim em Angola e em qualquer parte do mundo com um sistema bancário que olha para os recursos dos seus depositantes”, considera a fonte.
Assim, o posicionamento dos bancos comerciais, que já lhes valeu multas pesadas por parte do regulador, justifica o ainda baixo número de iniciativas empresariais apoiadas pela banca ao abrigo do Aviso nº10.
De acordo com as estatísticas, há bancos comerciais que não passam de um único projecto com crédito desembolsado, como é o caso dos bancos Comercial do Huambo (BCH), o BCA e o Banco de Investimento Rural (BIR).
O BNA contabiliza um total de 17 novos créditos ao sector real da economia desembolsados até Junho de 2021, no âmbito do Aviso n.º10/2020, de 03 de Abril, o que perfaz, segundo o balanço de Junho, um total de 247 créditos concedidos, dos quais 181 com desembolsos efectivos. Em termos de valor financeiro, o crédito concedido atingiu um total de 528,83 mil milhões de kwanzas (equivalente a 818,62 milhões dólares).