Foi inaugurado nesta semana, em São Tomé e Príncipe, o laboratório de biologia molecular, um projecto da Universidade de Califórnia, inserido na iniciativa contra a malária (UCMI) que está a ser desenvolvida no país.
Segundo garantias do gestor do campo da UCMI, João Pinto, a infra-estrutura, que está instalada na Universidade Pública de São Tomé e Príncipe, começa a funcionar efectivamente no próximo mês de Abril. “Já vamos desenvolver aqui algumas actividades durante os próximos meses. Trata-se de treinamento, mas, a sério a sério, o laboratório entrará em funcionamento em Abril”, precisou.
De acordo com o responsável, a equipa que funcionará no laboratório já está quase pronta. “No final do ano passado abrimos um concurso público para a contratação de técnicos de laboratório. Uma vaga já está preenchida e outra será ocupada com estudantes licenciados ou graduados da Universidade Pública de São Tomé. Temos também dois etimologistas de campo”, assegurou.
A infra-estrutura foi criada como o propósito fundamental de fazer pesquisas científicas e formar estudantes. João Pinto explica que o objectivo é fazer no laboratório pesquisas sobre os mosquitos da malária e toda a pesquisa de biologia molecular. “No futuro, havendo outras colaborações com mais parceiros, poderemos alargar a pesquisas”, disse, assegurando, “teremos sempre estudantes aqui e o laboratório estará sempre bem representado”.
O Ministério da Saúde são-tomense desenvolveu um acordo de parceria em colaboração com a UCMI, que permite à instituição da Califórnia estudar a biologia e ecologia dos mosquitos que transmitem a malária em São Tomé e Príncipe. O trabalho da Universidade de Califórnia inclui colecções e análise de mosquitos – mosquitos e larvas adultas de muitos locais em ambas as ilhas, formação científica e de investigação para estudantes, cientistas e técnicos locais, bem como a partilha de informação e actividades de comunicação com as comunidades sobre o projecto UCMI e a malária.
Além de apetrechar o laboratório com tecnologias de ponta, o projecto atribuiu quatro bolsas de estudo a três estudantes de mestrado e um de doutoramento, para desenvolverem pesquisas científicas neste domínio. Os estudantes bolseiros deverão deslocar-se a Portugal no ano académico 2023-2024 e ingressarem no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, onde poderão desenvolver as suas pesquisas e contribuir para melhoria dos serviços de investigação científica do referido laboratório.

Gregory Lazaro, investigador da UCMI, avançou, na cerimónia de inauguração do laboratório, que a missão da iniciativa contra a malária não passa apenas por contribuir para a eliminação do paludismo em São Tomé e Príncipe, em conjunto com os parceiros. “É nossa esperança que este novo laboratório e as bolsas de estudos que estamos a atribuir contribuam não só para a nossa missão, mas também para o tecido de recursos humanos em saúde pública e da investigação científica de São Tomé e Príncipe”, frisou Gregory, agradecendo o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa por ter providenciado a oportunidade de receber estes são-tomenses para estudos avançados.
Por sua vez, o ministro da Saúde de STP, Celso Junqueira, destacou a importância de formação de quadros qualificados. “Temos uma posta primeira que é a capacitação dos recursos humanos e uma das coisas que despertou muito a minha atenção neste projecto é a vontade de capacitar os quadros”, enfatizou.
O governante considerou serem raras as iniciativas que investem na capacitação avançada e sobretudo no ramo científicos, que são os mestrados e doutoramentos. “Vejo com bons olhos. É um investimento de médio- longo prazo de forma sustentável. A pesquisa é uma coisa que se faz muito pouco em STP e fiquei um pouco surpreendido. A ciência é algo que se faz em rede e associado sempre a centros de investigação. Se queremos realmente erradicar a malária, devemos contar com toda ajuda humanamente possível e conhecimento científico possível”, referiu Celso Junqueira.
Em representação da ministra da Educação do país, Esmael Fernandes afirmou ser uma das preocupações do Ministério [da Educação] promover a investigação, considerando, por isso, que o laboratório surge em boa hora. “Este investimento vai constituir um desafio para USTP – Universidade de São Tomé e Príncipe – no desenvolvimento de recursos bons para fazer pesquisas”.
Um desafio à altura dos estudantes

Entretanto, os estudantes da USTP dizem-se prontos para o desafio. “Esse laboratório todo bem equipado é uma mais-valia para nós estudantes que estamos na área de pesquisa. É o sonho que se concretiza e fiquei mais feliz em ver que os meus colegas conseguiram bolsas para continuar as suas pesquisas. Vou me esforçar e espero também vir a ser contemplada no futuro”, disse Vanilza, uma estudante ouvida pela FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.
Já Alzira Rodrigues, coordenadora do Departamento de Ciências da Natureza da Vida e Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologias, considerou que a o laboratório inaugurado há dias será de “muita importância” para a instituição, na medida em que permitirá fazer estudos e pesquisas de alto nível. “É com imenso prazer que recebemos esse laboratório, um sonho que se torna realidade fruto de trabalho de longos anos. Vemos hoje o resultado de várias parcerias estabelecidas. Mas só o laboratório não seria suficiente se não tivéssemos recursos humanos para trabalhar”, sublinhou.
Desde 2014 que os resultados do paludismo que estavam particamente reduzidos a zero tendem a aumentar e ameaçar o bem-estar do país. A Universidade da California Iniciativa Contra Malária joga um papel importante para saúde publica, com tecnologias sofisticadas em desenvolvimento.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), organismo que apoia o projecto na gestão de fundos, defendeu não ser possível combater o paludismo sem que se entenda a dinâmica dos mosquitos e a forma como eles se relacionam com o ecossistema e nada pode ser feito sem um trabalho de comunicação com a comunidade local, “que por anos tem sofrido com a doença”.
A inauguração do laboratório, avança Katarzina Wawiernia, simboliza o empenho do PNUD e da Universidade da Califórnia em poder estudar, avaliar e formar técnicos locais que ajudarão na luta contínua contra o paludismo. “Para que as autoridades tomem qualquer iniciativa de resiliência ou adaptação é necessário que haja informações actualizadas, dados científicos e competências humanas capazes e dar significado útil a esses dados. Este é um projecto avançado para o avanço científico do país e na formação de cientistas”, rematou a representante do PNUD.