Ainda não há nada definido, mas tudo indica que os restantes 70% das acções do Estado na empresa ENSA Seguros de Angola virão a ser também dispersos gradualmente em bolsa, de acordo com informação prestada, há dias, em Luanda, pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE)
Numa conferência de imprensa que se seguiu ao Roadshow dedicado a potenciais investidores da Oferta Publica de Venda (OPV) de 720 000 acções ordinárias (escriturais e nominativas) representativas de 30% do capital social da ENSA, um dos representantes do IGAPE avançou que a indicação a nível da estratégia é que deverá haver um exercício de dispersão gradual e progressiva que vai depender da optimização do valor da empresa e da própria dinâmica do mercado de capitais.
“Até ao momento a única decisão tomada diz respeito aos 30%. Quanto aos restantes 70%, a indicação a nível da estratégia é que deverá haver um exercício de dispersão gradual e progressiva que estará condicionada também a estratégia do Estado nos próximos anos, não apenas em função do sucesso da operação [actual], que nós perspectivamos que se materialize, mas em função ainda do próprio crescimento da empresa. Portanto, para já, não temos ainda uma indicação clara dos termos por via dos quais serão os 70% dispersados, mas a indicação preliminar é que o Estado pretende progressivamente dispersar as acções remanescentes para então sair do capital da empresa”, garantiu.
Recorde-se que a ENSA – Seguros de Angola abriu no passado dia 24 de Setembro o período da oferta para a compra de suas acções, 18 dias depois de a Comissão do Mercado de Capitais (CMC) ter aprovado o Registo da Oferta Pública de Venda (OPV), bem como o prospecto correspondente.
Dispersão de 30% das acções podem render 9 mil milhões kz
Entretanto, um total de 9 mil milhões de kwanzas (9,5 milhões de dólares) é quanto o governo angolano espera encaixar com a venda em bolsa de 30% das acções da empresa líder do mercado de seguros do país, a ENSA Seguros, no âmbito do seu Programa de Privatizações, segundo calculou António Dinis Mendes, CEO do Standard Invest SDVM.
Durante a apresentação do prospecto para a privatização da ENSA a mais de 300 potenciais investidores, o gestor principal de um dos agentes de intermediação para a colocação da ofertas – a par da BFA Capital Markets e da Áurea – indicou que a operação de alienação via Oferta Pública de Venda (OPV) de 720 000 acções no valor nominal unitário de 5 mil kwanzas é dirigida aos trabalhadores com vínculo laboral com a referida seguradora e membros dos órgãos sociais da empresa, bem como a qualquer cidadão singular com capacidade jurídica para contratar, residente ou não residente em Angola.
Detalhou que 48 000 acções, representativas de 2% do capital social e dos direitos de voto da ENSA são reservadas para aquisição por trabalhadores, enquanto as restantes 672 000 (28%) são objecto de oferta dirigida ao público em geral, sendo que as mesmas poderão ser adquiridas durante o período que decorrerá entre as 08h00 do dia 24 de Setembro e as 15h00 do dia 25 de Outubro.
“A indicação preliminar é que o Estado pretende progressivamente dispersar as acções remanescentes para então sair do capital da empresa.”
De acordo com o prospecto da OPV, “tanto as acções objecto da oferta dirigida ao público em geral, tanto aos trabalhadores serão alienadas a um preço unitário compreendido no intervalo entre o valor mínimo de 6 499,80 kz e máximo de 12 499,80 kz, sem prejuízo das condições especiais aplicáveis aos trabalhadores, que ao preço final da oferta dirigida ao público beneficiarão de um desconto de 5%, podendo adquirir cada acção num valor máximo de 11 874,81 kz.
Sem avançar números, Dinis Mendes garantiu haver já por esta altura várias intenções de compras inseridas pelos três agentes de intermediação – Standard Invest, BFA Capital Markets e da Áurea, o que considerou ser “uma surpresa agradável”, que sinaliza a confiança do mercado em subscrever e leva a crer que a operação será um sucesso. “Eu pessoalmente estou com a expectativa e acho que as acções serão subscritas na sua totalidade, se não até haver maior procura que a oferta”, disse.
Fundada a 18 de Fevereiro de 1978, a empresa deu início à sua actividade a 15 de Abril do mesmo ano, com a denominação de Empresa Nacional de Seguros e Resseguros de Angola, sob forma jurídica de U.E.E, hoje transformada em sociedade anónima, tornando-se na primeira seguradora a surgir após a independência de Angola. Desde então, lidera o mercado segurador. Terminou o exercício passado com uma quota de mercado de 27%, afirmando-se como a única seguradora angolana no Top 100 das seguradoras africanas (com o lugar 46).
Em 2023, a seguradora detida neste momento a 100% pelo Estado angolano, apresentou um lucro líquido de 5,28 mil milhões de Kwanzas, cerca de 6,3 milhões de dólares ao câmbio oficial a 31 de Dezembro. No mesmo ano, o capital próprio da ENSA atingiu 54,17 mil milhões de kwanzas, representando um retorno sobre o capital próprio (ROE) que situou-se em 10%.
O passivo está constituído em grande parte pelas provisões técnicas que no final do exercício totalizaram 150,89 mil milhões de kwanzas (comparado com 96,72 mil milhões em 2022) e que igualmente estão cobertos por investimentos representando um rácio de cobertura de 109%.
No ano em curso [2024], a empresa que possui uma rede de 29 agências distribuídas por todo território angolano, alcançou um marco inédito, ao emitir prémios brutos no valor de 100 mil milhões de Kwanzas (109,6 milhões de dólares), entre os meses de Janeiro e Agosto.