Sentado num quarto modesto no pouco modesto Península Hotel de Nova Iorque, a pessoa mais rica do mundo durante boa parte dos últimos 20 anos reflecte sobre uma questão existencial repentinamente em voga entre uma certa esquerda: será que o sistema capitalista deveria sequer existir? “É fascinante. Pela primeira vez na minha vida, as pessoas estão a questionar a existência de multimilionários”, diz Bill Gates, ao mesmo tempo que começa a desmontar« esta tese sóbria e desapaixonadamente. “Receio que se implementássemos algo diferente, o valor que pudesse vir a ganhar seria inferior ao que poderia vir a perder. Ora, isto parece-me um raciocínio algo egoísta, pelo que me pergunto quem poderia ser uma testemunha neutra nestas circunstâncias…? No fundo, precisamos de alguém que não seja rico para dizer que, em certos casos, não há mal nenhum em que as pessoas sejam ricas.”
“Pela primeira vez na minha vida, as pessoas estão a questionar a existência de multimilionários”, diz Bill Gates, fundador da Microsoft.
O debate é premente. Teríamos de recuar à década de 1960, ou quiçá aos anos 30 do século passado, para encontrarmos uma época em que a primazia do sistema de mercado livre fosse tão amplamente questionada. De acordo com uma sondagem realizada pela empresa de sondagens Gallup no Verão passado, apenas 56% dos norte-americanos dizem ter uma imagem positiva do capitalismo, comparando com 37% que disseram o mesmo sobre o socialismo. Numa sondagem da Fox realizada no mesmo período, 36% dos adultos afirmaram que aprovariam uma mudança nos EUA no sentido de “um afastamento do capitalismo e de uma aproximação ao socialismo” – um aumento significativo em relação a 2012, quando apenas 20% dos inquiridos o afirmaram.
No último ano, a FORBES debateu esta questão com cerca de duas dezenas de multimilionários, e encontrou-se com os três indivíduos mais ricos do mundo – Jeff Bezos, Bill Gates e Warren Buffett – para discutir o futuro do capitalismo. As conclusões estão na edição de Julho/Agosto, nas bancas.