Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, o presidente e CEO do Banco Nacional de Investimentos (BNI), Tomás Rodrigues Matola detalha que o problema de saúde global, cujas medidas de combate foram caracterizadas pela restrição da circulação de pessoas para evitar aglomerações, com encerramento temporário de fronteiras comerciais, impactou o volume de comércio internacional, além de provocar a quase paralisação dos sectores do turismo e do transporte aéreo.
“Esta situação ocorreu numa altura em que o país tentava recompor-se dos desastres naturais ocorridos em 2019, para além dos efeitos do conflito armado nas regiões centro e norte”, realçou o gestor.
Tomás Matola explicou que, face à situação de crise e àquilo que considera um “quadro sombrio” no país, o banco teve de redefinir a estratégia de actuação no mercado, privilegiando o financiamento de sectores menos afectados pelas medidas restritivas da covid-19. Neste cenário, a aposta e o destaque recaíram no agro-negócio, na logística e na comercialização e exportação de produtos agrícolas.
Apesar desta aposta nestas áreas, Tomás Matola prevê que, nos próximos anos, o banco irá orientar os recursos para outros sectores com forte potencial de crescimento, como o turismo, a energia (oil & gas e projectos de geração de energias limpas) e as infra-estruturas, à medida que os megaprojectos na bacia do Rovuma se forem concretizando.
“Face aos enormes desafios que o país enfrenta, temos estado a estabelecer parcerias com instituições financeiras multilaterais cujo foco é o financiamento para apoiar o desenvolvimento, olhando para sectores estratégicos e de interesse comum”, avança o homem-forte do BNI em Moçambique. A mesma fonte não esconde a satisfação por a instituição financeira já ter conseguido “fechar acordos de financiamento de projectos estruturantes e do sector produtivo, incluindo linhas de crédito para facilitação de importação e exportação de commodities para o país”.
Tomás Matola refere ainda que o BNI reservou também pacotes de financiamento com o que designou por “DFI e parceiros locais”, incluindo o Governo moçambicano, numa estratégia que prevê apoiar as pequenas e médias empresas afectadas pela covid-19, no valor global de 43 milhões USD. “Esta janela irá manter-se até que as empresas se recuperem financeiramente, evitando deste modo despedimentos e o encerramento de empresas”, disse o gestor.
Apoiar a economia
De acordo com o CEO do banco, o BNI tem estado ainda a acompanhar as dificuldades enfrentadas pelo tecido empresarial da província de Cabo Delgado e pela população que vive nas zonas do conflito armado, e, em resposta, já desenhou um programa para apresentação a parceiros, incluindo organizações internacionais, que possam apoiar esta causa que considera urgente.
Apesar do ambiente macroeconómico adverso, o gestor salienta que o BNI levou a bom porto “a materialização de alguns projectos relevantes para a economia moçambicana”. A título de exemplo, destaca o financiamento da expansão do sinal de comunicação (dados) para um dos maiores operadores de telecomunicações no valor global de 3,5 milhões MT, permitindo o acesso mais alargado e com melhor qualidade dos serviços de dados às regiões de Tete, Nacala e Pemba.
O banco reforçou a capacidade de manuseamento de combustíveis através de financiamento para aquisição de gruas de enchimento de combustíveis no valor de quase 2 milhões USD.
Outros projectos que contaram com o contributo do BNI foram as unidades fabris de produção de material diverso incluindo a de embalagens, usadas sobretudo pelas açucareiras, que deixaram de importar os sacos de ráfia no valor de 3 milhões USD.
A instalação de duas unidades de processamento de milho e gergelim incluindo os respectivos armazéns industriais na zona centro do país recebeu um financiamento no valor global de 1,5 milhões USD, no distrito de Nhamatanda, o que catapultou o comércio na região, o emprego e aumento da renda familiar.
Tomás Matola refere que foram mobilizados, através de um parceiro, cerca de 162 milhões USD para o financiamento do projecto de reabilitação da infra-estrutura de rede eléctrica da EDM, estando em curso a primeira fase no valor de 83 milhões USD. Este projecto irá contribuir para maior estabilidade da energia fornecida na região Sul.
Foi dado apoio ao processo logístico de importação de diverso equipamento agrícola, incluindo, tractores e alfaias para o FDA no valor de 33 milhões USD através da emissão de cartas de crédito ao Banco do Brasil.
Além de ter financiado o projecto de oil & gas Coral Sul, no valor de 8 milhões USD, ainda mobilizou mais 92 milhões USD de um parceiro.
Dar a volta à crise
A instituição bancária fechou o exercício de 2020 com um crescimento nos resultados líquidos de 113%, isto apesar da difícil conjuntura operacional, tendo passado dos 64,45 milhões de meticais, em 2019, para 137,51 milhões de meticais em 2020.
Tomás Matola refere que o resultado alcançado, apesar da difícil conjuntura macroeconómica, “requereu do nosso lado muita criatividade, coragem e muito empenho e dedicação”. Para o conseguir, o banco adaptou uma estratégia assente na eficiência operacional, gestão prudente de riscos e diversificação das fontes de receita.
“Foi a articulação destes três eixos que resultou numa abordagem operacional bem-sucedida que permitiu ao BNI lograr resultados positivos durante o período em referência, e conservar indicadores económicos e financeiros confortáveis, como são os casos da rentabilidade dos activos, do rácio de liquidez, da robustez dos fundos próprios e do nível de adequação de capital, dados que confirmam a resiliência e a solidez financeira do Banco.”
O gestor detalha que houve uma aposta “no incremento e na diversificação das fontes de receita e, por outro, na maior vigilância e ênfase numa forte gestão do risco, avaliação criteriosa dos pedidos de crédito, adaptando uma estratégia de crescimento selectivo dos activos, apostando em aplicações em activos de menor risco possível, mas com retornos esperados confortáveis, e racionalização de despesas”.
Sobre como antevê o final do ano para o país, Tomás Matola garante: “As previsões do desempenho da economia moçambicana para o final de 2021 são animadoras, depois de uma retracção económica registada em 2020.” E adianta que o PIB poderá crescer, até Dezembro, 2,1%.
Isto “sinalizando uma gradual recuperação à medida que as restrições impostas no âmbito da prevenção da covid-19 vão sendo relaxadas e a segurança e a tranquilidade na zona centro e norte do país vão sendo repostas pela força conjunta de defesa e segurança do país, do Ruanda e da região da SADC”, remata o CEO do BNI.
TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DEZEMBRO 2021/JANEIRO 2022