Uma mulher que sempre quis dar o seu melhor para Moçambique, Epifania Stella Ernesto Gove, natural de Maputo, formou-se no Reino Unido pela Universidade de Essex, em 2010, e resolveu voltar com o intuito de dar o seu contributo ao país.
Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a mulher que se apaixonou pelo sector das energias conta que, tão logo regressou a Moçambique, se juntou aos quadros do Banco Comercial e de Investimentos (BCI), actuando na área jurídica durante quatro anos. Mas o seu entusiasmo na área energética levou-a a prosseguir os estudos, desta vez na Austrália, na Universidade de Melbourne, onde obteve o grau de mestre em Direito de Energias e Recursos Naturais.
“No meu regresso, a comissão executiva do banco fez-me um convite para juntar-me à equipa de um departamento que acabava de ser criado, Direcção de Negócios Corporativos, que tinha na sua composição orgânica várias unidades denominadas desks, cujo escopo era atender as mais relevantes necessidades de desenvolvimento económico e social sustentado de Moçambique e dos moçambicanos”, contou, sublinhando que o destaque era para o provimento de soluções de financiamentos em condições favoráveis, da actividade produtiva, incluindo novas iniciativas empreendedoras nas áreas dos recursos renováveis.
“Do conjunto de desks criados existia o de energia, no qual me encontro adstrita desde então. É de salientar que, em boa verdade, após o valioso contributo dado na área jurídica, o desafio de trabalhar numa área nova, com poucos ou quase inexistentes guiões de procedimentos ou informações históricas estruturadas, acabou por constituir a minha primeira experiência de conceber, estruturar e desenvolver soluções inovadoras, que não só tinham de estar ajustadas às reais necessidades dos implementadores dos projectos, mas tinham, por outro lado, de se conformar com os superiores desígnios globais e nacionais da preservação ambiental”, revelou Epifania Gouve.

Entretanto, para se manter forte e firme ao novo desafio, impunha-se pensar “fora da caixa”, num país com uma taxa de acesso à energia muito abaixo dos 30%, para que “uma instituição financeira como o BCI pudesse ser relevante e vanguardista na apresentação de soluções que dessem melhor aproveitamento do potencial energético que o país detém na terra, no ar e no mar e ainda abençoado por um invejável clima tropical, propiciador de condições que verdadeiramente constituem vantagens comparativas e competitivas”. “Por isso lancei-me de corpo e alma nas questões de energias, particularmente as energias renováveis, vistas como um negócio e um bem público, e hoje sinto que o meu singelo contributo nesta área tem sido uma mais-valia para a instituição que sirvo e também para um debate enriquecedor em fóruns nacionais e internacionais”, sublinhou.
Epifania Gouve, uma mulher de fortes convicções e uma das poucas em Moçambique que actuam na área do direito das energias renováveis, tem uma ambição, algo altruísta, de testemunhar a consecução do objectivo consagrado na carta das Nações Unidas e que é o de provimento de “energia para todos”, por ser um valor transformacional na vida das pessoas e, acima de tudo, por tratar-se de uma questão de justiça entre os homens.
A outra ambição de Epifania Gouve tem que ver com a necessidade de mudança da abordagem sobre o sector da agricultura, que é visto como aquele que acomoda uma actividade de alto risco.
Diz ainda tratar-se de uma “velha retórica” para a qual se refugiam todos aqueles que não estão interessados em pensar e colocar à disposição dos que investem na agricultura soluções técnicas adequadas, quer seja de índole material ou financeira, tais como tecnologias inovadoras de produção, garantias e sistemas de seguros específicos, partilha de riscos pelos diversos stakeholders dos eus país, incluindo os próprios investidores, as instituições financeiras nacionais e internacionais e o Estado.
“ninguém prescinde de uma refeição cujos ingredientes são em mais de 90% de origem agrária, mas não se cansam de dizer que o sector da agricultura é de alto risco, sedo por isso os que, em geral, menos financiamentos tem beneficiado se compararmos com outros sectores secundário e terciário”, sublinhou.
*Matéria completa na edição impressa Maio/Junho