O presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde, Austelino Correia, apelou aos políticos do país para analisarem com seriedade os resultados de um estudo que aponta para uma “queda de confiança” em todas as instituições nacionais, incluindo a Presidência da República, o Governo e o Parlamento.
“Uma coisa é o que os políticos pensam, outra bem diferente é o que os cidadãos percebem no dia-a-dia. A minha primeira impressão é que os políticos devem levar na consideração esses dados com imparcialidade, objetividade e racionalidade, para melhorarmos a perceção dos cabo-verdianos em relação à política”, afirmou Austelino Correia durante um evento realizado na cidade da Praia.
O estudo, conduzido pela Afrosondagem e divulgado, avaliou a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde com base num inquérito a 1.200 cidadãos das ilhas de Santiago, São Vicente, Santo Antão e Fogo, representando mais de 85% da população. Os resultados indicam uma avaliação negativa do desempenho do Governo e uma descida generalizada da confiança nas instituições democráticas.
Apesar do cenário global negativo, Austelino Correia destacou uma ligeira melhoria na percepção sobre o Parlamento, embora tenha admitido que o nível de confiança permanece “muito abaixo do desejado”. O presidente da Assembleia incentivou os deputados a trabalharem para fortalecer a imagem do órgão legislativo, apostando em debates centrados em políticas, ideias e projetos, e evitando a personalização das discussões.
Jorge Carlos Fonseca defende democracia irreversível
Segundo a Lusa, o antigo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, também comentou os resultados do estudo, reiterando a sua opinião de que a democracia em Cabo Verde é “irreversível”. Para o ex-chefe de Estado, o avanço democrático depende da solidez das instituições, que deve inspirar confiança nos cidadãos.
“A democracia consolida-se, torna-se cada vez mais imune aos desafios se tiver instituições sólidas”, afirmou Jorge Carlos Fonseca, sublinhando que é necessário reforçar o respeito e a confiança nas regras e valores democráticos.
Fonseca destacou ainda que a “esmagadora maioria” dos cabo-verdianos confirmou o voto popular como o único atribuído de legitimação do poder, mas alertou que momentos de crise, como a abstenção eleitoral, podem abalar a confiança nas instituições. “Os cidadãos querem que as instituições funcionem melhor, combatam sinais de corrupção e promovam um relacionamento mais harmonioso entre os órgãos de soberania”, acrescentou.
Temas e metodologia do estudo
O inquérito, realizado entre o final de Agosto e o início de Setembro de 2024, analisou perceções sobre temas como a satisfação com a democracia, corrupção, confiança nas instituições, desempenho do Governo e relações institucionais entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Os dados refletem o período de 2022 a 2024, evidenciando desafios no fortalecimento da governação e da democracia em Cabo Verde.
Com os resultados em mãos, as lideranças políticas são desafiadas a promover reformas e ações que restaurem a confiança dos cidadãos nas instituições, fortalecendo assim os Alicerces democráticos do país.