O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, defendeu, a 17 deste mês, uma reforma da União Africana (UA) que assegure uma “governança multinível” para fazer face ao retrocesso do continente, comentando o aumento dos conflitos e dos golpes de Estado.
“É claro que África precisa, neste momento, de uma profunda reforma e as instituições da União Africana e do continente africano precisam de uma profunda reforma”, afirmou, em declarações à Lusa, José Maria Neves, à margem da cimeira da organização, que decorreu na capital etíope.
Em causa estão os vários problemas que se acentuaram nos últimos anos, reconheceu. Por isso, defende o estadista, é essencial estabelecer um sistema de governança multinível em que há uma divisão de trabalho entre a União Africana, as organizações sub-regionais e os Estados.
Nos últimos anos, os conflitos na região do Sahel, no centro do continente (República Centro-Africana), Grandes Lagos, (República Democrática do Congo) e Norte de Moçambique agravaram-se e países como o Burkina Faso, Mali e Guiné-Conacri sofreram golpes de Estado, tendo sido ostracizados pela comunidade internacional.
“Na verdade, há retrocessos. Há muito tempo já tínhamos pensado que não haveria golpes de Estado mas, só na região oeste africana, temos três países nesta situação”, disse o chefe de Estado cabo-verdiano, elencando outros casos.
“Tudo cria enormes dificuldades à União Africana e ao continente africano e, para lidar com estes problemas, medidas rotineiras já não fazem muito sentido porque não produzem efeitos”, considerou.
E José Maria Neves exemplificou: “Há um golpe e há sanções e depois há o aumento da tensão e os problemas não são resolvidos”.
Um novo modelo de governança, apontou, vai implicar reformas tanto a nível do continente como a nível sub-regional, mas também a nível dos diferentes países para se poder responder de forma muito mais eficaz às exigências que se colocam a África neste século XXI.
*José Zangui