O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, disse nesta Quinta-feira, em Nova Iorque, que a pequenez física e a dispersão em ilhas, a imersão em grandes espaços oceânicos e o afastamento dos principais mercados, têm fragilizado a base económica do país, acentuando a sua exposição às mudanças climáticas e a outros fenómenos ambientais, como a seca, reduzindo a resiliência face aos fenómenos naturais e a outros choques externos.
Discursando na 76ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o líder cabo-verdiano referiu que, nesse âmbito, as manifestações e impacto da Covid-19 vieram agravar as características estruturais pré-existentes, próprias de Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês), fazendo deles os mais afetados pela pandemia.
“Os SIDS, seus problemas, desafios e soluções, deverão estar presentes na Cimeira do Futuro anunciada pelo Secretário-Geral [da ONU, António Guterres], como parte dos problemas, mas também como parte das soluções. E a oportunidade se nos oferece para a tomada de decisões que venham ao encontro das especificidades e dos legítimos interesses e aspirações deste grupo de países, de entre os mais vulneráveis da família das Nações Unidas, não deixando nenhum para trás”, apelou.
Naquela que foi a sua última na Assembleia Geral da organização como Presidente de Cabo Verde, pois já não concorrerá a sua reeleição no pleito agendado para Outubro próximo, Jorge Fonseca insistiu na necessidade de se operarem reformas no Conselho de Segurança da ONU.
“Entendemos, também, que a revitalização da ONU passa pela necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança, que possa conferir uma maior abrangência dos Estados-membros na tomada de decisões atinentes à paz e segurança internacionais. Enquanto, membro da União Africana, Cabo Verde subscreve integralmente o consenso de Ezulwini”, disse.
Combate à pandemia acima de todas as prioridades
Ainda sobre a Covid-19, o Chefe de Estado cabo-verdiano apontou o combate à pandemia como “primeira prioridade” do arquipélago, afirmando que, neste sentido, “ganhos importantes e consistentes têm sido registados, tanto na redução das taxas de transmissão, quanto na taxa de vacinação da população elegível, que já atingiu os 74%, com pelo menos uma dose”, sendo que a meta, reitera, é atingir 85%, da população elegível, totalmente imunizada, até o final de outubro.
“Este sucesso não seria possível sem a perseverança e determinação que caracterizam os dirigentes e o povo cabo-verdianos, bem assim, sem o reforço da solidariedade mundial de todos os parceiros, designadamente do Covax [uma iniciativa fundada pela Organização Mundial da Saúde, que visa garantir uma vacinação equitativa global contra o novo coronavírus]”, reconheceu.
Jorge Fonseca recordou que a crise pandémica “desconstruiu de forma brutal” a economia de Cabo Verde, devido à ausência total de turismo, após um crescimento económico anual a rondar os 6%, nos últimos anos, causando desproteção social, desemprego e aumento da pobreza, ao mesmo tempo que “desregulou os fundamentos da macroeconomia, como a inflação, o défice orçamental, a dívida e a queda vertiginosa do crescimento económico, em suma, gerando uma recessão nunca antes experimentada, traduzindo-se numa redução de 14,8%”.
Disse, no entanto, que o país “não reagiu com resignação, mas com determinação, tomando de imediato, e a curto prazo, todas as medidas anticrise recomendadas internacionalmente”.
Adiantou que, para o médio e longos prazos, as autoridades locais fizeram um exercício participativo de planificação estratégica, para definir uma visão comum para o horizonte 2030, intitulado “Cabo Verde Ambição 2030”, com o objectivo de retomar o processo do desenvolvimento sustentável e reconstrução, a partir dos ensinamentos e oportunidades surgidas da crise, incluindo, no plano do acesso ao financiamento concessional e da atração do investimento direto externo, que como afirmou, continuam a ser os maiores obstáculos nessa direção.
Fonseca realçou ainda que, paralelamente ao combate à pandemia, a recuperação económica continua a ser uma prioridade para Cabo Verde, principalmente através da retoma do setor do turismo e das economias conexas.