Portugal é o quarto de cinco países da Europa que a comitiva económica visitou. Qual é o balanço que faz deste périplo pelo continente?
Nós fazemos um balanço extremamente positivo, tendo em conta os mais diversos segmentos da sociedade com a qual interagimos a quatro dimensões. A primeira dimensão é a diáspora que tem estado um pouco de lado naquilo que tem sido o acordar da nossa economia e, portanto, nós tentamos transmitir-lhes que gostaríamos de contar com a mesma como um actor importante na ligação dos mercados. A diáspora conhece muito bem o país onde vive e acompanha o país onde nasceu e ninguém melhor do que eles para fazer a ponte entre as duas economias. No âmbito da dimensão das entidades, falámos com ministros, secretários de Estado, directores de várias agências de forma a refrescar as relações económicas entre os dois países. Tivemos a dimensão também dos operadores económicos, um fórum do negócio em todos estes países tal como aconteceu aqui em Portugal e a quarta dimensão é das missões diplomáticas que podem fazer um levantamento de mercados e ajudar o país a encontrar oportunidades de negócio ao nível da exportação de bens e investimentos directos estrangeiros dessas geografias.
E qual a posição de Portugal neste enquadramento europeu?
Portugal é o país mais próximo que a economia angolana tem, porque nessas geografias de países avançados é um pouco difícil nós entrarmos. Com Portugal já não, podemos exportar os nossos bens, pois há uma real procura pela comunidade local do que nós temos. E também é possível atrair investimento directo estrangeiro para Angola a partir de Portugal. Ou seja, estas duas dimensões – exportações dos nossos produtos e a atracção do investimento directo estrangeiro – não são fáceis de ter em países avançados como a França, Alemanha, República Checa que são fortemente industrializados, logo o nosso produto precisa de ser altamente competitivo para entrar nesses mercados e ainda ir de encontro aos gostos, hábitos e costumes.
O que não acontece com o mercado português…
Os hábitos e costumes de Portugal e de Angola estão muito próximos, logo conseguimos fazer o match entre aquilo que Angola é forte em produzir e provocar uma procura, é um trabalho de marketing. Em relação às outras geografias, os operadores económicos têm recursos financeiros, querem diversificar investimentos e Angola pode ser um mercado extremamente frutífero para tal.
Tem-se falado em incentivar o turismo neste fórum. Angola está preparada para receber comparando com outros países lusófonos, como Cabo Verde por exemplo?
O turismo apresenta várias dimensões, temos turistas mais propensos para o risco, a juventude quer simplesmente conhecer outros lugares, e há turistas menos propensos para o risco, são aqueles de sol e mar, querem efectivamente não alterar muito o seu modus vivendus e, portanto, são mais exigentes. Nós temos que trabalhar esta exigência no turismo, mas temos que oferecer aquele turismo para lá de Luanda, temos uma 1600 de costa, temos o deserto na Namíbia, temos de facto um grande potencial, mas é verdade que temos que transformar essa riqueza potencial do turismo em riqueza real do turismo. Essas cadeias de valor estão a ser criadas, os cafés, o sector eureka, os hotéis, os restaurantes estão a ser cada vez mais sofisticados, temos estado a receber cada vez mais turistas.
Estamos a trabalhar em instrumentos financeiros da banca propensos para poderem financiar o turismo, porque precisamos de sofisticar as nossas infraestruturas.
E existem linhas de financiamento específicas para o sector?
Criámos no âmbito do Projecto de Apoio ao Crédito (PAC), onde temos uma linha que vai até 200 mil dólares. É verdade que no âmbito do aviso 10 do Banco Nacional de Angola (BNA), um instrumento financeiro criado pelo banco central com vista a se poderem utilizar as reservas obrigatórias que os bancos têm junto do banco central para financiarem a economia, ao invés dessas reservas ficarem parqueadas e não renderem nada, há a possibilidade de se utilizarem partes dessas reservas para se colocar no sector real e elas pelo menos renderem cerca de 7% ao ano.
Apresentaram uma conjuntura propcia para o investimento estrangeiro, ao falarem da inflação do PIB, das oportunidades, mas o que levam daqui, quais são os next steps?
Bom, é dar continuidade e acelerar um bocadinho mais porque foi essa nossa continuidade que levou a um crescimento de 3% o ano passado e este ano prevê-se um crescimento acima dos 3,5%, esperemos que cheguemos a 4%, mas de qualquer forma nós temos estado a trabalhar fortemente em três principais dimensões, uma é a capacidade dos operadores, porque por mais recursos financeiros que coloquemos nas suas mãos, se eles não tiverem o espírito de gestão e de disciplina, não vão dar o melhor tratamento aos recursos financeiros que estão a ser postos à sua disposição.
Estamos a trabalhar com a banca comercial para poder melhor desmistificar o risco no agronegócio, porque a banca comercial é um bocadinho sofisticada para se meter em risco, estamos a trabalhar com os mesmos para melhor poderem avaliar os riscos envolvidos e poderem financiar mais. E por último estamos a trabalhar também com as instituições públicas para a melhoria do ambiente de negócios. Entretanto, esse triângulo tem que funcionar de forma muito lubrificada para todo resto começar a desbloquear e de facto tudo isso resultar em mais emprego e bem-estar para as populações.
Se pudesse escolher agora uma meta para atingir este ano, qual seria?
Temos várias metas, mas é claro que o crescimento económico de 3,5% ou 4% para nós seria fundamental, porque o que precisamos é acima de tudo crescer mais do que cresce a nossa população, o que colocamos na mesa é devorado na mesma proporção neste momento e nós precisamos de criar alguma gordura para que fique lá, para que possamos usar essa gordura como o capital para a economia crescer. E também queremos aumentar para 400 mil os operadores económicos formalizados. Estamos a 250 mil, mas esta meta traz consigo o alargamento da meta tributária, imagine que os operadores informais quase que não pagam impostos e formalizando-os, estamos a dar-lhes dignidade económica, eles vão poder aceder ao mercado financeiro bancário, vão poder crescer e vão trazer receitas para o Estado.