A pandemia da Covid-19, que causou o desinteresse dos investidores, está a atrasar a venda de activos da Sonangol, no país e no estrangeiro, segundo revelou em entrevista à agência Reuters, o presidente do conselho de administração da petrolífera nacional, Sebastião Gaspar Martins.
Por este facto, adiantou o CEO, em 2021 a Sonangol vai acelerar as reformas e os esforços para aumentar as receitas, tendo já neste sentido actuado formalmente para se desfazer de 39 dos 56 activos que esperava inicialmente vender. Sendo que os poucos privatizados até ao momento renderam apenas cerca de 60 milhões de dólares.
“Tendo em conta a desaceleração económica mundial, os investidores estão mais conservadores. A dinâmica de negócio e a forma como as pessoas se relacionavam, no ambiente de negócios, também mudaram e houve a necessidade de serem feitos ajustes que levam o seu tempo”, disse.
Impulsionada pelos altos preços do petróleo na última década, a Sonangol acumulou activos em todo o mundo, desde hotéis, participações em bancos e até um convento português do século XVII, diz a Reuters.
Entretanto, na entrevista concedida por e-mail à agência de notícias britânica, Sebastião Martins indicou que o novo posicionamento estratégico da Sonangol consiste em focar-se, principalmente, no seu core-business, assegurar o financiamento do programa de investimentos e tornar a empresa mais ágil, competitiva e rentável.
“O resultado dos desinvestimentos será usado para investir em actividades e activos rentáveis, sobretudo aqueles relacionados com o core”
Petrolífera fica na Galp e desinveste no Millennium
Sebastião Martins afirmou na entrevista à Reuters que a Sonangol pretende “definitivamente manter” a sua participação indirecta na empresa Galp, onde espera recuperar o controlo da participação que detinha conjuntamente com o falecido empresário Sindika Dokolo, tendo exortado a energética portuguesa a investir mais em Angola, não só no upstream, mas também no downstream, onde já mantêm parcerias.
Já no maior banco privado português, Millennium bcp, onde detém uma participação de quase 20% − que lhe coloca na posição de maior accionista, depois da chinesa Fosun −, a Sonangol está aberta a desinvestir ou a analisar a fusão com outros bancos.
“No caso do Millennium bcp estamos a monitorar o seu desempenho. Se se apresentar uma boa oportunidade para desinvestimento, iremos avaliá-la e fazer as recomendações que se afigurarem as mais acertadas para o contexto e necessidades da Sonangol”, afirmou o CEO, tendo acrescentado que a petrolífera angolana está a acompanhar os movimentos eventuais de consolidação bancária em Portugal e, caso surja alguma oportunidade, o assunto será avaliado com os outros parceiros investidores no Millennium bcp.
O homem forte da Sonangol anunciou ainda que a multinacional está em vias de vender um edifício que possui na principal avenida de Lisboa, bem como um hotel e centro de convenções na capital angolana, Luanda, e pretende alienar participações nas empresas petrolíferas estatais da Costa do Marfim, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.