Na sede da start-up de biotecnologia BioBots, em Filadélfia, nos EUA, ao lado de uma série de garrafas de cerveja quentes e de um emaranhado de fios de computadores portáteis, está um cubo branco metalizado de 30 por 30 centímetros, cubo este que pode vir a ditar o futuro do desenvolvimento de fármacos. Trata-se de uma impressora altamente especializada que cria tecidos vivos – pele, osso, pulmões e até uma orelha humana inteira.
Existem outras impressoras 3D no mundo que também fazem isto, mas a BioBot fá-lo por cerca de 9 mil euros, cerca de 20 vezes mais baixo do que o preço praticado por outros produtos semelhantes desta indústria, como a EnvisionTEC.
Produzir osso novo e órgãos completos para transplante humano é ainda visto como algo do reino da ficção científica, pelo menos por agora. Os investigadores que queiram fazer testes e ensaios com artérias podem imprimir o seu próprio tecido de teste recorrendo para tal a design de fonte aberta, colocando células e um gel num extrusor da Biobot e moldando o material no outro.
É com este mecanismo que os co-fundadores da BioBots, Danny Cabrera, de 24 anos, e Ricky Solorzano, de 27, pretendem colocar um BioBot em cada bancada de laboratório, tornando a investigação mais rápida, mais barata e mais democrática.
Recorde-se que as impressões de carne e de tecidos ainda são um nicho, mas deverão tornar-se num negócio global superior a 8 mil milhões de euros em 2025, segundo a empresa de estudos de mercado Accuray. Isto porque, esta tecnologia pode vir a substituir, em grande parte, muitas cobaias humanas usadas em ensaios da indústria farmacêutica.
Revolução a caminho
A BioBots vendeu o protótipo da BioBot, que custou menos de 900 euros a fazer, por cerca de 360 euros a um laboratório. Rapidamente começaram a procurar clientes, sondando alguns beneficiários de subsídios da Fundação Nacional para a Ciência norte-americana.
Em 2015 angariaram cerca de 1,3 milhões de euros de financiamento inicial junto de um grupo de investidores, como a FundersClub e a 500 Startups, em troca de dívida convertível. Pouco mais de um ano depois de lançarem o BioBot 1, mais de 100 BioBots seriam adquiridos por laboratórios em todo o mundo, gerando quase 1 milhão de euros de receita.
A rapidez com que chegaram ao mercado foi crucial. “Estavam a vender a sua impressora 3D e as pessoas estavam dispostas a pagar por isso, algo que raramente acontece com empresas na área da ciência pura,” afirma Alex Mittal, co-fundador da FundersClub. “Normalmente são precisos anos de estudos e desenvolvimento para chegar aí.”
O motivo pelo qual os BioBots são tão acessíveis prende-se com o facto de recorrerem a componentes electrónicas prontas a usar. Só as componentes mecânicas como as chapas que mantêm as placas de Petri niveladas durante a impressão são fabricadas em máquinas de precisão.
Essa vantagem pode ser também o maior ponto fraco da BioBots, tendo em conta que existem empresas concorrentes, como é o caso da sueca Cellink, que estão a conseguir entrar rapidamente no mercado.
Mas a BioBots espera manter a sua vantagem através dessa combinação de hardware de baixo custo e software de código aberto e fácil de usar em laboratório.
“Daqui a 10, 15 anos, entrar num laboratório será como entrar numa sala de servidores,” afirma Cabrera.