Os movimentos para a sucessão ou continuidade de João Lourenço no cadeirão máximo do MPLA já começaram. As frentes estão mais ou menos desenhadas: O próprio João Lourenço, Higino Carneiro e Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó).
Com as frentes posicionadas, o MPLA vai se deparando com uma coisa com a qual nunca tinha tido de lidar, a divisão interna, normal em processos do género. Embora do mesmo partido, uns apoiam este, outros apoiam aquele.
A falta de hábito é de tal forma gritante, que já se vai ‘diabolizando’ este ou aquele, porque supostamente tem demasiada fome de poder e quer tirar o líder da cadeira. Enfim, táticas que antes só víamos a serem aplicadas para travar partidos rivais, com destaque para a UNITA, agora vai sendo usada para diminuir, ridicularizar e até humilhar este ou aquele, que não é o preferido: A recente marcha de apoio a João Lourenço, é prova disto mesmo.
Com quadros para dar e vender, com comités de especialidade para quase tudo e muito dinheiro para ir buscar toda e qualquer consultoria possível, o MPLA não se conseguiu preparar para os pleitos eleitorais internos.
Pior que não estar preparado para tais andanças, é o MPLA ser, muito provavelmente, aquele que mais candidatos naturais à liderança interna terá. Os nomes fortes, a capacidade financeira e de mobilização dos militantes deixa perceber isso mesmo.
O mais interessante de todo este “filme” é que ainda são só cogitações, os nomes são só possibilidades, as candidaturas são só possíveis candidaturas, não há nada no preto e branco, mas a falta de hábito de pleitos eleitorais internos e concorridos, deixam a nu que muito provavelmente, a haver múltiplas candidatura e candidaturas robustas, poderão surgir fissuras permanentes no partido.
Durante o meu percurso académico aprendi a pensar que talvez um dia o MPLA possa vir a dar corpo a duas ou três forças politicas robustas. Não fecho a porta a possibilidade de este ser o começo do processo, ou seja, as múltiplas candidaturas resultarem em alas extremadas e posterior desagregação. É uma visão fatalista, mas claramente possível.
Por outro lado, o desconforto que se verifica por estas alturas no MPLA, é um tanto quanto revelador do quão pouco estamos preparados para a efectiva tolerância a opinião alheia, ainda que não agrade, ao mesmo tempo que mostra que os nossos partidos falham na tarefa de transmitir aos militantes os mais importantes valores da política: a tolerância e o espírito de que, em política, não é possível ganhar e nem perder tudo.
Adiciona-se a isso, que se o militante não percebe essa simples, mas relevante questão, senão a mais relevante da política, jamais terá capacidade para perceber que há coisas que transcendem e devem mesmo transcender as figuras, os partidos e a política. Há coisas que dizem respeito ao Estado. Só quando percebemos isso, poderemos enfim falar de um caminho para Angola, do qual todos angolanos se revejam e sejam efectivamente beneficiados. Um caminho que ponha Angola no topo das prioridades e os angolanos como principais obreiros do caminho.
*Jornalista/Politólogo