A 24 de Setembro de 2023, a Guiné-Bissau atingiu um marco extraordinário- meio século de independência. Oficialmente, as festividades irão acontecer no dia 16 de Novembro, dia das Forças Armadas Revolucionárias do Povo, na presença de ilustres personalidades nacionais e estrangeiras. Este é um momento especial, uma pausa para uma reflexão profunda sobre a trajectória desafiante que moldou a nação ao longo dos anos. Iniciamos esta celebração, com o qual nos orgulhamos enquanto povo, com uma justa e singela homenagem àqueles que foram os arquitectos do nosso sucesso: os valentes combatentes da liberdade da pátria. Homens e mulheres que sacrificaram a sua juventude para dar a independência a este pequeno país de 36.120.000 km2 situada na costa ocidental africana.
É imperativo destacar a importância crucial desses heróis na definição do nosso destino colectivo. Eles merecem o nosso respeito, admiração e todas as homenagens possíveis, pois representam a parte mais bonita da nossa história de luta de libertação. Esta história de luta e libertação foi liderada por um notável pan-africanista, poeta, político, diplomata, revolucionário de nome Amílcar Lopes Cabral. Um homem que através do poder das palavras mobilizou toda uma nação de onde surgiram guerrilheiros determinados como Nino Vieira, Osvaldo Vieira, Canha Nantungué, Umaro Djaló e muitos outros.
Questionar se a independência valeu ou não a pena, só pode ser interpretado como um saudosismo bacoco de um tempo colonial que já lá vai. O sonho da liberdade e a sua concretização são bens incomensuráveis para o povo guineense. Portanto estes 50 anos não podem ser avaliados na perspectiva do “programa menor” como foi teorizado por Amílcar Cabral. Mas sim na perspectiva do “programa maior” ou seja a construção e o desenvolvimento do Estado Guineense.
Neste particular, é importante realçar dificuldades vastas e complexas. No entanto, não deixam de ser dificuldades típicas de um Estado em construção. Mesmo após 50 anos de independência, as bases da democracia estão ainda por se consolidar. As instituições estão ainda por se consolidar. As primeiras eleições multipartidárias foram organizadas só em 1994 ou seja 21 anos após a independência. O país encontra-se atado a uma dependência económica única: a castanha de caju. Esta realidade contribui para um sector privado enfraquecido, enquanto o Estado permanece como o maior empregador.
No entanto, oportunidades brilham no horizonte, especialmente no sector pesqueiro. Transformar a política de venda de licenças de pesca numa estratégia de construção de uma frota nacional e processamento local pode abrir portas para um futuro mais próspero.
Nenhum país na costa ocidental africana possui o número de ilhas como a Guiné-Bissau que permita desenvolver um turismo de massa e arrecadar receitas ao Estado. Mas a realidade é que o turismo funciona em países vizinhos como no Senegal, na Gâmbia e em Cabo Verde, mas não funciona na Guiné-Bissau. O potencial mineiro, tal como a bauxite, o fosfato e areia pesada podem ser uma realidade havendo um consenso político alargado. Todos estes sectores motores de qualquer economia ainda continuam dormentes no nosso país.
Neste jubileu da independência, celebramos não apenas o passado mas também o presente e o futuro promissor que se desenha no horizonte da Guiné-Bissau. Unidos honramos o legado dos que vieram antes de nós, comprometendo-nos com o crescimento e prosperidade contínua desta nação. O povo guineense é um povo resiliente. E essa mesma resiliência e convicção que levou ao nascimento do nosso Estado será a mesma que permitirá a construção de uma nova Guiné-Bissau, estável e próspera. O que nos conforta no nosso optimismo é a convicção de que o nosso país tem tanto potencial como desafios e que ninguém ama mais a Guiné-Bissau do que os próprios guineenses e só depende deles para tornar o país um paraíso na costa ocidental africana.
João Bernardo Vieira
Advogado
Consultor
Ex-Governante