Sou professora por formação e alguém que sempre acreditou que a educação tem o poder de mudar vidas. A minha jornada profissional levou-me para vários caminhos — desde as salas de aulas até à gestão de equipas nos sectores petrolífero, financeiro e ao jornalismo (rádio e televisão). Cada experiência reforçou em mim a importância do planeamento, da comunicação simples e, sobretudo, do impacto positivo que o conhecimento pode gerar.
Hoje, escrevo para a Forbes África Lusófona com um objectivo claro: ajudar a despertar consciências para um tema tão essencial quanto negligenciado — a educação financeira. Este é o primeiro de uma série de artigos sobre o assunto. A minha intenção? Propor mudanças, provocar reflexões e, quem sabe, inspirar pequenas revoluções no modo como vemos o mundo das finanças, o dinheiro e o seu papel nas nossas vidas. Não sou especialista, analista financeira, coach ou mentora – esses rótulos passam completamente ao lado do meu propósito. Sou apenas uma cidadã que observa a realidade e procura soluções mais realistas e práticas para melhorar as nossas vidas.
Quantos de nós crescemos a aprender fórmulas matemáticas complexas ou os detalhes das grandes descobertas científicas, mas nunca fomos ensinados a perceber sobre finanças? A educação financeira é como uma língua estrangeira que todos precisamos de falar, mas poucos aprendem. A falta de conhecimento financeiro é uma armadilha silenciosa que perpetua desigualdades e compromete futuros.
Por Que Precisamos de Educação Financeira?
Se perguntar à maior parte dos adultos que encontrar no seu dia-a-dia, qual é a taxa de juros do seu cartão de crédito (se tiver um…), é provável que a resposta seja um encolher de ombros. Não porque a pessoa seja descuidada, mas porque nunca teve a oportunidade de aprender como o dinheiro realmente funciona. A educação financeira é como um músculo que raramente exercitamos. Muitos só percebem a sua importância quando já enfrentam as consequências da sua ausência: dívidas acumuladas, poupanças inexistentes ou decisões financeiras mal informadas. Mas será que este cenário é inevitável? A resposta é não. Se desde cedo aprendêssemos conceitos básicos sobre como gerir um orçamento, poupar para o futuro, investir ou evitar armadilhas financeiras, as nossas vidas seriam muito diferentes. E quando devemos então começar?
Começar na Escola: A Melhor Idade para Aprender
É nas escolas que ensinamos as bases para quase tudo: a ler, a escrever, a resolver equações e até a compreender o sistema solar. Mas e as finanças, o dinheiro? Continuamos a ignorá-los, como se não fossem uma parte central das nossas vidas. Incluir a educação financeira no currículo escolar desde cedo não é apenas uma ideia sensata — é uma necessidade urgente. As crianças podem aprender, de forma prática e lúdica, a distinguir entre desejos e necessidades, a planear pequenos orçamentos e a compreender conceitos simples como “se poupares hoje, podes comprar algo maior amanhã.” E não, isto não precisa de ser complicado. As aulas podem incluir actividades como Simulações práticas: Pedir às crianças que façam a gestão de um “salário fictício” durante um mês, decidindo como gastá-lo ou poupá-lo. Projectos em grupo: Criar um plano de poupança para algo divertido, como uma excursão escolar.
Incluir a educação financeira no currículo escolar desde cedo não é apenas uma ideia sensata — é uma necessidade urgente.
Exercícios reais: Pedir que comparem preços ou avaliem o custo-benefício de diferentes escolhas. São experiências básicas, mas que podem plantar as sementes para um futuro mais consciente e equilibrado, mas mais importante, estas lições quebram o ciclo de analfabetismo financeiro, muitas vezes perpetuado em casa, onde os próprios pais não tiveram oportunidade de aprender. Estas acções não são apenas importantes nos países desenvolvidos, onde a poupança e os investimentos já fazem parte da cultura de muitos. Em países em desenvolvimento, como Angola, a necessidade de educação financeira é ainda mais premente. Angola enfrenta enormes desafios económicos, com uma dívida pública elevada e uma taxa de poupança jovem extremamente baixa.
Ao introduzir educação financeira nas escolas, podemos criar uma nova geração de cidadãos capazes de gerir recursos limitados, evitar dívidas desnecessárias e construir uma base mais sólida para o crescimento económico sustentável. As crianças e jovens que hoje aprendem o valor da poupança e a diferença entre gastos essenciais e supérfluos serão os adultos que amanhã liderarão pequenas empresas, tomarão decisões políticas e contribuirão para reduzir a dependência económica do país em relação a credores externos. O impacto destas acções, quando bem implementadas, não pode ser subestimado. A educação financeira desde cedo não só promove a autonomia individual, como também fortalece comunidades inteiras. Uma população que compreende conceitos como juros, investimento e risco tem maior capacidade de lidar com crises económicas e de tomar decisões informadas. E o melhor de tudo? As mudanças podem começar agora, com esforços localizados e práticos, sem a necessidade de grandes verbas ou programas complexos.
Para quem tem o poder de decisão vou ser directa: está na hora de fazer da educação financeira uma prioridade nacional. Não falo de introduzir conceitos económicos complexos, mas sim de ensinar habilidades práticas que façam a diferença no quotidiano de qualquer pessoa. É urgente que os governantes, gestores escolares e educadores abandonem a inércia dos projectos megalómanos, das reuniões intermináveis e das promessas vazias. O momento de agir passa a cada instante em que nada é feito. Precisamos de incluir a educação financeira no currículo de forma simples, lúdica, atractiva e consistente. E aqui estão algumas ideias simples e viáveis como:
Criar um concurso nacional de educação financeira capaz de envolver alunos de várias idades numa jornada enriquecedora sobre o tema. Integrar a educação financeira em disciplinas existentes, como Matemática ou Cidadania, mas numa perspectiva prática e com caracter lúdico, para que todos aprendam enquanto se divertem. Criar programas-piloto em escolas de diferentes regiões para testar abordagens e medir resultados. Formar professores, fornecendo-lhes materiais e recursos adaptados ao tema. Criar parcerias com organizações especializadas, que já possuem metodologias eficazes e prontas a implementar.
O custo? Relativamente baixo. O impacto? Enorme! Uma população financeiramente educada é menos endividada, toma decisões económicas mais informadas e, a longo prazo, contribui para uma sociedade mais estável e próspera.
Para si que lê estas linhas, deixo para reflexão uma pergunta simples: se pudesse voltar atrás, teria ou não sido útil aprender sobre finanças desde cedo?
Um abraço.
elsacristina.cm@gmail.com