Ao longo dos anos, tornou-se normal ouvirmos, seja nos corredores das grandes empresas, seja nos corredores políticos e bancários, a necessidade urgente de financiamento do tecido económico angolano tendo em vista o relançamento da economia do país. No entanto, o que verificamos é uma espécie de “jogo da batata quente”, com os principais “players” a não assumirem o seu papel como intervenientes directos na resolução dos problemas económicos de Angola, relegando a “batata quente” para os seus parceiros.
Por exemplo: frequentemente ouvimos nesses mesmos corredores que o Sistema Bancário Angolano não está ao serviço da economia do país, principalmente por não priorizar a aposta no crédito aos clientes, mas sim nos títulos e valores mobiliários, que representam a maior parcela do activo da banca do país (34,05% contra 16,38%).
É verdade? Sim! Mas não será a altura de encontrarmos soluções e pararmos de reclamarmos sempre do mesmo, ainda mais vivendo uma crise como a Covid-19? Não chegou a hora de todos sentarmos e encontrarmos o melhor caminho que Angola pode e deve seguir? O que adianta falarmos frequentemente sobre a necessidade de investimento se, muito provavelmente, não sabe(re)mos o que fazer com ele?
Evidentemente que a luz no fundo do túnel não é fácil de ver e o caminho é bastante longo de percorrer pelas mais diversas razões. Mas é urgente reflectir sobre o tema do financiamento a nível micro e macro e procurar soluções credíveis que beneficiem o mercado empresarial angolano, ao mesmo tempo que devemos promover o investimento estrangeiro.
Recorrendo ao exemplo acima, uma das questões que temos de colocar em cima da mesa é sobre que tipo de banca desejamos para o nosso sistema financeiro? Mas também alargar esse debate a todas as áreas da Economia, já que temos de descobrir com brevidade qual a mudança de paradigma no sector que nós, como nação, queremos e ambicionamos.
Pessoalmente, acredito ser bastante difícil ter um sistema financeiro não direccionado ao empresariado nacional se o nosso objectivo é pensar em competitividade e progressão do tecido económico. Para isso, é fundamental um Estado forte e credível para ditar um rumo claro ao mercado (e o consequente cumprimento de regras). Cabe precisamente ao Governo a realização de diversas actividades que impulsionem o desenvolvimento económico e de infra-estruturas do país. Deste modo, é essencial identificar os sectores chaves em que se deve apostar, sempre a pensar numa Economia estruturada o mais ampla possível e não somente dependente de um sector, como acontece hoje com os combustíveis fósseis.
A recente avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI) em relação ao “Programa de Financiamento Ampliado a Angola”, que considerou que o país está «no bom caminho» mas que apresenta «riscos elevados» à sua concretização, é apenas um sinal de que há fissuras nesta gigantesca estrutura económica apesar de o FMI ter libertado os 772 milhões de dólares da mais recente tranche.
Ou seja, é hora de pararmos de ouvir as constantes conversas de corredores e de todos assumirem o seu papel onde os objectivos individuais devem fazer parte de um todo colectivo. Só assim poderemos captar mais financiamento estrangeiro, ao mesmo tempo que poderemos financiar os empresários e a economia local.
Jacqueline Martins da Silva – Mestrado em Negócios na American Business School of Paris