Nascida na ilha de São Vicente, em cabo Verde, Elisa Andrade foi economista, historiadora, investigadora e também uma mulher de teatro e cinema, tendo actuado como atriz, entre outros, no famoso filme “Sambizanga” da realizadora Sara Maldoror, sobre a luta de libertação colonial em Angola.
No filme, interpretou o importante papel de Maria, uma das protagonistas principais. Dessa primeira experiência cinematográfica, ficara patente as qualidades de actriz de Elisa Andrade, aliás fortemente recomendada por Mário Pinto de Andrade, sociólogo e poeta, marido da cineasta Sarah Maldaror, um dos primeiros dirigentes do MPLA e um dos intelectuais muito próximos de Amílcar Cabral.
A pan-africanista cabo verdiana, Elisa Andrade, faleceu na passada sexta-feira, 03, aos 82 anos, vítima de doença prolongada, no Hospital Agostinho Neto, localizado na cidade da Praia, onde esteve internada, segundo a agência cabo-verdiana de notícias, Inforpress.
Elisa, casada com um destacado guerrilheiro angolano da Frente Leste do MPLA, o médico Carlos Pestana Heineken “Katiana”, passou toda a sua juventude como parte integrante do movimento anticolonial nos anos sessenta e setenta, na qual participou activamente em articulação tanto ao PAIGC como ao MPLA.
Fez parte em Portugal, dos antigos membros da Casa dos Estudantes do Império, grupo que o escritor angolano Pepetela viria a chamar, num dos seus romances, de “Geração da Utopia”, protagonistas da luta clandestina e pela adesão à luta activa na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, em prol das independências das antigas colónias portuguesas em África.
Hoje, muitas são as reações à morte de Elisa nas redes sociais, onde é destacada como uma figura poliédrica e dedicada à causa do desenvolvimento endógeno de Cabo Verde no seu todo.
Percurso histórico
Depois da independência de Cabo Verde, Elisa Andrade regressou ao país-natal, onde exerceu as funções de professora no Instituto Superior de Educação onde trabalhou na Cultura, chegando a ser assessora cultural do Ministro da Cultura nos anos 90. Permaneceu sempre ligada às estruturas do PAIGC, depois tornadas do PAICV em Cabo Verde, com o Golpe de Estado na Guiné-Bissau em 1980, que deitou por terra a possibilidade da Unidade Guiné-Cabo Verde, tão sonhada por Amílcar Cabral.
Estudiosa e investigadora nas áreas de História e Ciências Sociais, Elisa Andrade escreveu alguns livros emblemáticos sobre Cabo Verde, destacando-se a sua tese de doutoramente sobre “Cabo Verde, da Descoberta à Independência Nacional (1460 – 1975)”. Éditions L’Harmattan, e dos textos como “Do Mito à História”, “Declínio e Fim da Sociedade Escravista”.