Filho de pai congolês e mãe togolesa, Manuel Ntumba, actualmente com 23 anos, é membro da Delegação Diplomática do Togo no Comitê das Nações Unidas sobre Gestão de Informações Geoespaciais Globais (UN-GGIM).
Por causa do seu envolvimento e empenho em vários projectos de desenvolvimento na área geoespacial, foi recentemente reconhecido entre os afrodescendentes mais influentes do mundo em política e governança – em apoio à década internacional das Nações Unidas para Afrodescendentes (2015-2024).
Mas a caminhada do engenheiro de satélites e telecomunicações não teve um início fácil. O jovem teve de transpor vários obstáculos, começando com a decisão de dar continuidade a sua formação superior na Índia e escolher a área da tecnologia. “Quando cheguei à Índia, tive alguma dificuldade na altura e também porque eu não estava habituado a usar as palavras conforme eles usam”, conta, revelando que teve que esforçar-se para adaptar-se a nova realidade.
A escolha de Manuel Ntumba era contra o desejo do pai, que sempre quis que o filho estudasse economia, mas aos 16 anos o jovem soube defender o seu desejo e o pai lançou-lhe um desafio. “Ele [o pai] disse-me: sim, podes fazer o curso, mas tens que te certificar que vais ser o melhor”, detalha.
O engenheiro diz que muito cedo percebeu que usando tecnologia do satélite se podemos ajudar África a desenvolver. “Por exemplo, usamos dados do satélite para a meteorologia, para prevenir catástrofes”, explica, justificando o seu desejo de estudar tecnologia. “Podemos ainda usar a mesma tecnologia para aumentar o acesso a internet. Fazendo isso, podemos usar a tecnologia do satélite para a agricultura, para prevenir situações, desenhar mapas, estudar e conhecer as melhores regiões mais férteis e mais favoráveis para a prática da agricultura”, acrescenta.
Tão logo compreendeu este leque de possibilidades que a tecnologia oferece, Ntumba decidiu optar pela área geoespacial e escolheu a Índia porque acreditava que era o país que lhe oferecia a oportunidade para a concretização do sonho.
“Depois dos Estados Unidos e do Reino Unido, a agência espacial indiana é uma das que está a crescer no sector. A outra razão que me fez escolher a Índia é que eles têm a capacidade de fazer o mesmo que muitos outros países estão a fazer, mas a um preço mais baixo”, indica.
Concluída a formação, em 2021, trabalhou para a União Africana, desempenhado a função de Conselheiro Presidencial para a área de Inteligência Geoespacial, tendo contribuído para o desenvolvimento de um relatório e um mapa de como usar as informações, conhecimentos geoespacial para contribuir para o desenvolvimento em África e a melhoria de políticas. Mais tarde foi promovido para o cargo de membro da delegação das Nações Unidas para o Comité de gestão geoespacial, função que ocupa até ao momento.
“Foi uma grande oportunidade para mim expandir o meu trabalho, para estar em contacto com outros Governos africanos, ajudá-los a usar as informações sobre a área geoespacial, para a economia e para melhorar a governação”, considera o jovem diplomata.
Igualmente mestre em Administração de Empresas, com especialização em Finanças Públicas, Governança e Economia Internacional, Manuel Ntumba esteve, em 2021, entre as 45 personalidades mais distintas do mundo de origem congolesa. No mesmo ano, a BBC News reconheceu-o como a esperança para a África na tecnologia espacial e como um dos inventores mais jovens do mundo no campo espacial, tendo sido destaque em vários meios de comunicação do mundo.
No ano passado [2022] o jovem congolês-togolês foi distinguido como uma das “50 Maiores Estrelas em Ascensão do Mundo” no setor geoespacial, ao lado de outros engenheiros, cientistas e especialistas da norte-americana NASA – Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, da Agência Espacial Européia (ESA) e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), bem como de líderes empresariais e executivos de empresas de tecnologia multinacionais, líderes mundiais.
Em 2021 criou a Tod’Aérs Global Network [TGN], uma parceria público-privada global, estabelecida com a visão de apoiar o desenvolvimento sustentável global, a inovação tecnológica e o progresso socioeconómico em todo o mundo.
A TGN oferece serviços profissionais, assessoria, consultoria estratégica e consultoria de gestão para instituições públicas, sectores privados e governos em todo o mundo. Em colaboração com os seus parceiros em todo o mundo, a rede lançou recentemente a Global Development Policy Initiative (GDPi) e o Global Capacity Development Program (GCDP), em apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).
Ntumba revela que tem estado em alguns países e troca impressões com as autoridades oficiais sobre como usar os conhecimentos. “O que temos que fazer neste caso é identificar as prioridades em cada país”, diz.
Entretanto, o diplomata africano que dá cartas pelo mundo, reconhece que um dos grandes desafios que os países africanos enfrentam é a falta de tecnologia e infra-estrutura, porque, sustenta, “para usar os dados geoespaciais é necessário ter-se um satélite próprio e uma estação em terra para receber as informações antes destas serem usadas”. Para Manuel Ntumba, a falta de infra-estrutura no continente é um dos motivos que impede os países africanos de usarem os dados geoespaciais.
“Uma das soluções que os governos africanos podem usar, e que já está a se implementada por alguns países, é o estabelecimento de parcerias com algumas empresas do sector privado de alguns Estados que já têm o próprio satélite e, depois, fazerem uso dos dados que têm acesso e aplicam nos seus países”, sugere.