Nasceu na capital angolana, Luanda, tendo passado a sua infância no bairro Combatentes, mas foi em Benguela que deu o grande salto para o mundo da gastronomia, com o seu projecto Paladares Express. Luís Miguel, o menino que outrora fazia apenas arroz com salsicha para 20 membros da sua família, mal sabia que a culinária seria a sua grande paixão e sua fonte de renda.
“Descobri cedo que tinha jeito para a cozinha. Venho de uma família grande de 20 irmãos, e em casa tínhamos de nos ajudar uns aos outros. Quando as minhas irmãs mais velhas não estavam em casa, porque estavam a estudar ou já a trabalhar, eu, na altura com os meus 10 ou 11 anos de idade, tinha de cozinhar. Comecei por fazer um arroz com salsichas e com molho de tomate, e ficava muito bom. Todos gostavam e queriam repetir. A partir daquele momento, a vontade de ser cozinheiro começou a ser cada vez maior”, conta à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.
Com cerca de 15 anos de idade, a família decidiu enviá-lo a Portugal para prosseguir os seus estudos secundários, mas o “bichinho” da culinária já não saía do então adolescente. Trabalhou na American Hot Dog e no restaurante Casa dos Kebabs, em Bragança, Portugal, onde num ápice transitou de auxiliar para chefe de cozinha, antes mesmo de completar 18 anos. Entretanto, em 2008, decide voltar à sua terra natal.
De regresso a Luanda, estudou Artes Cénicas durante três anos. Porém, a vida na capital angolana não teve grande salto, tendo optado por regressar a Bragança, e na Casa dos Kebabs teve “carta branca” para introduzir no menu comida tradicional angolana. Dos seus pratos, os que melhor o definem enquanto chef e mais orgulho lhe proporcionam, identidade e marca sobre a mesa, revela, são a tarte de kitaba, o gelado de múcua e os katatitos.
“Descobri cedo que tinha jeito para a cozinha. Venho de uma família grande de 20 irmãos, e em casa tínhamos de nos ajudar uns aos outros”
“Enquanto estudante das Artes Cénicas, ao longo do meu percurso escolar apercebi-me de que um showcooking é uma performance. A parte social envolve representação, preparar os ingredientes, envolve ritmo, e o empratamento envolve artes plásticas. Depois que fiz essa junção na minha vida, a culinária passou a ser a arte da minha vida”, afirma.
De resto, são as vivências da vida que o terão transformado no homem que é hoje. “O grande conhecimento que tenho veio da rua, de ver o povo comer, vem de dentro de mim e da minha curiosidade em saber, em fazer, e em experimentar novas coisas”, indica, reforçando que da escola vem o estudo da técnica. “Aperfeiçoar as técnicas de cozinha dá-nos mais confiança, mais segurança no que fazemos”, sublinha.
A arte da culinária passou a fazer parte do ADN do chef Kitaba – apelido que surge do facto de Luís usar em quase todas as suas receitas amendoim torrado e moído –, que hoje domina a cozinha portuguesa, italiana, está familiarizado com a russa e é mestre de gastronomia tradicional angolana.
As inspirações que vêm das ruas e dos povos levaram-no mais longe do que imaginava. O chef Kitaba representou Angola por várias vezes em feiras de gastronomia a nível internacional. Foi um dos responsáveis pela preparação de pratos no pavilhão de Angola para a Expo de Alimentos, que decorreu em Milão (Itália), em 2015, onde levou o “famoso” gelado de múcua e permitiu que várias pessoas sentissem e aprendessem um pouco da cultura gastronómica de Angola. O feito valeu-lhe destaque na revista Vanity Fair.
Na sua trajectória profissional, Luís colecciona ainda o facto de ter sido o primeiro chef de cozinha negro africano a participar no programa Show Cooking na RAI, TV da Itália, onde confeccionou e mostrou o prato de funje com sumate de camarão.
“Esse foi um evento espetacular. Fui o único chef convidado que não tinha estrela Michelin e, mais uma vez, pude mostrar que se pode fazer bons pratos com ingredientes típicos de Angola”, lembra.
*Matéria completa na edição impressa Maio/Junho