Um estudo da Católica Lisbon School of Business & Economics conclui que nomear um político para ocupar um cargo na empresa é uma prática comum. Em certos países, quase dois terços das maiores empresas nomearam na última década alguém com um historial de atividade política para os seus quadros, mas os benefícios para as empresas dependem do nível de corrupção existente no país.
De acordo com o estudo, nomear um político para os quadros da empresa oferece mais vantagens numa economia altamente regulada e com níveis de corrupção elevados.
Omar El Nayal, investigador na Católica Lisbon School of Business and Economics, foca-se neste tema no novo estudo publicado no Journal of Management, onde coloca a questão: a perceção de corrupção na sociedade afeta como os investidores veem a nomeação de um político para o quadro de uma empresa?
A resposta é mais complexa do que talvez se pensaria, mas uma coisa torna-se clara: os investidores tendem a reagir de forma positiva à nomeação de um político para o quadro de administradores quando a empresa opera numa economia altamente regulada, (e, portanto, depende mais das leis e regulamentações do país), e opera num país com níveis mais elevados de corrupção. É nesse tipo de empresa – regulada e num país com níveis superiores de corrupção como a Espanha ou a Itália – que uma pessoa com ligações políticas pode trazer mais valor a uma empresa. Já em países com menor corrupção, como a Suécia ou a Dinamarca, os investidores não mostram esperar muito valor da nomeação de políticos para os quadros de empresas reguladas, aponta o estudo.
“As ligações políticas são, em geral, boas para as empresas ou não são?”
Questiona Omar El Nayal durante uma entrevista sobre o seu artigo científico, Ties That Bind and Grind? Investor Reactions to Politician Appointments to Corporate Boards. “Não é que sejam sempre boas ou sempre más – então a pergunta é, em que situações é que são boas?” A literatura anterior sobre este tema não dá uma resposta clara. Para tentar perceber o assunto, o professor El Nayal passou vários anos a colecionar um conjunto de dados que abrange 14 países e as nomeações para o quadro de mais de mil empresas. Depois, olhou para as reações do mercado de valores à nomeação de políticos nestes países, procurando explorar quando é que estas nomeações resultam em respostas positivas ou negativas dos investidores.
Há muitos fatores em jogo na forma como os investidores veem a nomeação de um político para o quadro de uma empresa. Um deles é a corrupção. “O que vemos aqui é que a corrupção é como uma faca de dois gumes para uma empresa com ligações políticas”, explica Omar El Nayal. O que o seu artigo, em coautoria com Hans van Oosterhout e Marc van Essen, vem demonstrar é que em países com níveis mais altos de corrupção percebida, os investidores ficam satisfeitos quando veem uma empresa regulada a nomear um político para o seu quadro. O político conhece bem os processos legislativos e pode usar as suas ligações para influenciar as decisões políticas em favor da empresa.
No entanto, nestes mesmos países, um político a mais no quadro e os investidores começam a ficar nervosos. Quando as empresas já têm políticos no quadro de administradores, nomear ainda mais políticos pode ser visto com desconfiança pelos investidores, que não veem muito valor acrescentado em mais ligações políticas, e podem até ficar preocupados que uma coligação dominante de políticos na administração possa procurar usar a empresa para o seu ganho pessoal ou político. “Sob certas condições, a corrupção somada às ligações políticas pode ser problemática para uma empresa,” acrescenta Omar El Nayal. “Com a corrupção, as ligações políticas podem trazer benefícios, mas também podem, sob certas circunstâncias, apresentar riscos significativos. Em países com menos corrupção, não existem estes extremos – não é de esperar ter benefícios muito grandes com as ligações políticas, mas também não haverá muitos custos.”