O ex-Presidente timorense e Nobel da Paz, José Ramos-Horta, defende que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deve concentrar-se primeiro no esforço da expansão da língua portuguesa e no seu enraizamento, mas também na área da educação, da saúde pública, investigação médica e das vacinas, sendo para tal “é preciso criatividade”.
Ramos-Horta sugeriu também a criação de uma televisão online para jovens. “Os jovens da CPLP, quando chega a hora de um programa ligado à comunidade, sentem curiosidade e vão para o seu tablet ou celular fazer um clique para ver o programa, para ver como vivem os povos nas aldeias em Moçambique ou os sertanejos lá no Brasil ou nas aldeias de Timor”, afirmou. “Se for ao Brasil, quantos brasileiros sabem o que é a CPLP ou ouviram falar sequer de Timor-Leste”, questionou.
Para aquele líder timorense, que falava falava durante uma entrevista gravada e exibida por vídeo no V Congresso da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que decorre desde Sexta-feira e até Domingo último, em Carcavelos, concelho de Cascais, a melhor forma de unir os povos lusófonos é aumentar o conhecimento que têm uns dos outros, e essa televisão [online], que comparou a uma ‘netflix lusófona’, seria a resposta.
“É preciso unir primeiro todas essas comunidades através da nossa inteligência e criatividade, fazendo uso das tecnologias da comunicação do século XXI. Não é através de reuniões de burocratas de ministros de turismo ou da defesa”, defendeu.
Questionado, num painel sobre o futuro da CPLP, sobre a intenção da presidência rotativa angolana da organização lusófona de intensificar a sua componente económica, Ramos-Horta lembrou que a dimensão económica da Comunidade de Países de Língua Portuguesa é defendida há muito, mas a realidade entretanto impõe-se.
“a CPLP não vai ter uma grande dimensão económica”.
José Ramos-Horta, ex-Presidente de Timor-Leste
O ex-Presidente timorense lembrou que mesmo Portugal, que tem uma presença diplomática forte em Timor-Leste e que tem relações fraternas profundas com Díli, “não tem um grande investimento” no país. Para Ramos-Horta, a integração económica dos países da CPLP deve ser nos seus mercados regionais.
“Sentimentalismos à parte, cultura e romantismos à parte, cada um de nós tem de se habituar à sua região, como Portugal faz na União Europeia”, disse, lembrando que Timor-Leste se prepara para aderir à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), um mercado económico de 700 milhões de pessoas e com um PIB conjunto de quase três biliões de dólares.
Por outro lado, o ex-chefe de Estado timorense defendeu que a CPLP não deve copiar as organizações regionais, como a União Europeia ou a União Africana.
“A CPLP praticamente replica a organização das organizações regionais, com reuniões ministeriais de ministros de defesa, do turismo, comandantes da polícia. Francamente para quê? Eu não me importo. Se me convidarem para uma reunião de ministros de turismo na Foz de Iguaçu, no Brasil, eu alegremente vou (…), mas não pode ser”, disse, motivando gargalhadas na audiência.
Fonte: Lusa