Até há pouco tempo, a Madeira era considerada um local de classe mundial para a prática do surf. Os surfistas chamavam-lhe a joia do Atlântico. Mas tudo mudou no início da década de 1990, quando o governo anunciou a construção de um paredão na praia do Jardim do Mar, no município da Calheta. A ideia era defender as arribas contra a erosão para preparar a área para a construção de infra-estrutura turísticas. Na altura, a decisão causou grande consternação entre a comunidade de praticantes e apreciadores de surf na região, pois consideravam que tal intervenção teria impactos desastrosos na prática da modalidade. A obra acabou por ser levada avante e os surfistas deixaram de afluir à região. Quanto ao Jardim do Mar e à ilha da Madeira, bem, perderam uma oportunidade de ouro para apanhar a onda do surf que mundialmente movimenta cerca de 45 mil milhões de euros.
Na altura, pouco (ou nada) se falava do impacto económico do surf na economia. Os números da especulação imobiliária falavam mais alto. Mas se fosse hoje, o episódio da praia do Jardim do Mar poderia ter outro desfecho. E tudo porque o surf mudou muito nos últimos anos. Para se ter uma ideia, as ondas de Mundaka, no País Basco, em Espanha, têm um impacto anual médio para a região de 2,5 milhões de euros, e as de Uluwatu, em Bali, na Indonésia, geram mais de 31 milhões de euros para a economia local. Em Portugal, a economia do surf ou “Surfonomics” ainda não foi ao detalhe para contabilizar o valor das ondas de Ribeira d’ilhas, na Ericeira, ou da praia dos Supertubos, em Peniche. Mas há números que valem a pena reflectir.
Em 2009, por exemplo, estimava-se que a modalidade tinha um impacto económico no PIB nacional entre 100 milhões a 200 milhões de euros. Hoje, esse valor é superior a 400 milhões. E, segundo os especialistas, tem tudo para continuar a crescer, graças a uma costa recortada que oferece uma grande consistência de boas ondas. Tiago Pires, o melhor surfista português de sempre, conhece-as bem. Ao longo da sua carreira apanhou muitas em Ribeira d’ilhas, e em tantas outras praias nacionais. Mas também pelo mundo fora. “Saca”, como também é conhecido, bateu-se durante sete anos no circuito mundial de surf, inspirando milhares de jovens para a prática da modalidade e catapultando o nome de Portugal mais alto no surf internacional. Recentemente colocou um ponto final na carreira, mas deixa um legado enorme à modalidade e aos negócios que se criaram à volta dela.