A modelo angolana Yanessa Gomes é um dos rostos da campanha promocional da nova colecção feminina de leggings da marca desportiva Nike. Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a jovem conta que a proposta surgiu através da agência da qual faz parte, após ter passado por um casting, sem, no entanto, saber que era para a gigante marca desportiva, pela qual foi escolhida.
“Falar da campanha da Nike é falar de uma das minhas maiores conquistas. Foi uma experiência que definitivamente vai abrir portas para a minha carreira e que causou um impacto positivo para a minha família, os meus amigos e para as mulheres todas”, disse
Yanessa fez a abertura da campanha que considerou uma grande responsabilidade, por sentir que estava a representar o poder que uma mulher negra pode possuir. “Estive rodeada de raparigas tão talentosas e únicas. Houve uma união por parte de todas que fez com que os dias de ensaio e os dias de filmagens fossem mais divertidos. Sempre quis fazer uma campanha para a Nike e sinto que todas as minhas orações e todo o meu esforço valeram a pena e que era simplesmente uma questão de tempo”, sublinhou.
A angolana de 20 anos, e que agora fixou residência em Portugal, já foi rosto das marcas, Zamia, Maria Gambina, Katty Xiomara, Nuno Miguel Ramos, Pé de Chumbo, Carolina Sobral, Nopin, Meiling Inc, Lilly Afonso e Obsidian, João Rôlo, Buzina, Ricardo Andrez , 15AreaTribal, Bendita Formosinho, Sigh, Siz Brand, Wearefamm, Otto x Levi e agora da Nike.
Yanessa Gomes conta que, a sua vinda para Europa foi com o intuito de estudar. Entretanto, a moda foi uma opção que a mesma queria explorar. “Não sei se me posso considerar realmente uma modelo internacional. Penso que fiz um trabalho que me meteu no caminho para que eu possa de facto tornar-me uma modelo internacional”, afirma, num discurso carregado de humildade.
Conciliar os estudos e a carreira de modelo não tem sido fácil para a jovem modelo, admite. “Não tem sido fácil, pois não há necessariamente um meio termo. Há sacrifícios que têm de ser feitos para puder trabalhar e estudar. No fim das contas, acabo dando prioridade aos estudos, pois penso que a minha formação irá acrescentar um valor maior do que ser simplesmente uma “modelo”, refere.
“A rejeição marcou muito a minha trajetória”
Nem tudo foi um mar de rosas durante a trajectória da angolana até aqui. Yanessa Gomes lembra episódios em que foi rejeitada por várias marcas, situação com a qual diz, teve de saber. Entre as razões do que considera feedback negativo, “por vezes de forma bruta” por parte de clientes e até agências, está a condição da sua pele.
“Foi doloroso ver o simples facto de ter cicatrizes no corpo, coisa que eu não escolhi ter, causar um certo desagrado para as pessoas. Percebo até um certo ponto que nem todo mundo vai gostar e que eu não seria a modelo adequada para determinados trabalhos, mas, poderia haver mais empatia”, lamenta.
Yanessa contou que a sua entrada para o universo da moda foi pela constante motivação da sua família e dos seus amigos. “A minha tia investiu na minha imagem e na minha formação como modelo. Por ela ser estilista e conhecer o mundo da moda, foi me explicando mais ou menos o que esperar da indústria. Comecei fazendo fittings para as roupas dela, quando necessário, e fiz também uma sessão para uma das marcas que ela tinha iniciado.
Os desfiles da modelo começaram aos 16 anos com a estilista Zamia. Na altura, conta Yanessa, não tinha noção nenhuma de como andar, sabia simplesmente que os pés tinham de cruzar um a frente do outro. “Voltei a desfilar para a Zamia em 2021, no International Tradeshow, um evento que visa divulgar marcas nacionais com desfiles, exposições e palestras de moda, cultura, experiências no mercado nacional e internacional”.
Um dos desejos da modelo é voltar a desfilar em Angola, onde deu início a sua carreira. “Gostaria imenso de poder voltar a desfilar em Angola, lugar onde tive o meu primeiro contacto com a passarelle e a minha casa. Será sempre uma honra poder desfilar em Angola”, almejou.
“Há um potencial enorme na área da moda para os jovens dos PALOP”
Para Yanessa Gomes, Angola nunca foi fértil para os modelos ganharem dinheiro ou visibilidade sem algo em troca. “Infelizmente a indústria da moda está corrupta e se não aceitares fazer as coisas de forma menos digna, corres o risco de perder oportunidades boas. A maioria dos modelos não são pagos e muitas das vezes acabam por ser explorados por não conhecerem o mercado”, explicou.
Entretanto, a modelo considera existir um potencial enorme na área da moda para os jovens dos PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. “Há uma variedade de características que possuímos, que faz com que nos destaquemos, mas que também faz de nós diferentes. Nós da comunidade dos PALOP temos aquela vontade de trabalhar, orgulhar aqueles que nos rodeiam e, sobretudo, representar aquilo que somos como africanos”, disse.
Por outra, afirma que por estar no início da carreira ainda não tem ganho como as outras modelos. “É pouco e é normal. A quantidade de dinheiro que se ganha está interligada com o tipo de trabalho, a quantidade de tempo que se vai fazer o trabalho e o tipo de divulgação que será feita”, explica.
“Há muitos factores que entram em questão quando se trata deste assunto. Depende muito do mercado e dos tipos de trabalhos que o modelo ou a modelo faz. Quantos mais desfiles e campanhas fizeres, a probabilidade de ganhares mais ou de te valorizarem mais aumenta. Para modelos nesse nível é sim possível viver da moda”, garante.