A escritora moçambicana e directora executiva da associação Tenderness And Love – que desenvolve actividades nas áreas de sociologia e direitos humanos, Priscila Imelda Sitole, integra um rol de mentores do Programa de Embaixadores Juvenis da Literacia – Youth Ambassadors Program For Literacy, em inglês -, da Fundação Mundial da Literacia [World Literacy Foundation].
De acordo com Priscila Sitole, a Fundação Mundial de Literacia lançou o programa de embaixadores juvenis e acabou por identificar alguns jovens que se destacaram, em 73 países do mundo, para participar do mesmo.
Priscila Sitole disse que o convite surge pelo facto de a associação que dirige estar a desenvolver projectos como “o poder da leitura”, que incentiva a leitura nos diversos grupos sociais, tendo já beneficiado cerca de 8,5 mil pessoas, incluindo as com algumas desabilidades.
Priscila Sitole diz à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA que no Youth Ambassadors Program For Literacy vai contar a sua história relativamente às questões de projectos de literacia, sua importância no desenvolvimento social e no crescimento da literacia em África e acima de tudo em países lusófonos, por este lerem livros em português.
“Quando eu fui chamada para representar Moçambique nesta mentoria, o meu foco foi sempre abordar um pouco a nossa experiência e também de como é que estes embaixadores juvenis podem começar para a transformação dos seus países”, frisou.
Questionada sobre como tem sido trabalhar para o desenvolvimento da literacia não só em Moçambique, mas na região lusófona, Priscila Sitole explicou que o trabalho começa de base, sendo por isso que o poder da leitura começa nas escolas primárias. “Um adulto que não foi incentivado desde pequeno, terá dificuldades de encontrar o gosto pela leitura”, considera. Mas, acrescenta, isso não anula a possibilidade de a leitura ser descoberta em qualquer período da vida. “É sempre bom começar desde tenra idade. Para isso é importante haver incentivo por parte das famílias”, indica.
Para Priscila Sitole, não é ainda possível incentivar a literacia em zonas remotas de Moçambique, tendo em conta os últimos dados que se tem de analfabetismo, que mostram que o índice de alfabetização ainda é “muito abaixo” do esperado.
“Tive a oportunidade de estar em muitas zonas remotas do país e vi de tudo. Às vezes a desafios até de saneamento, então, esta família quando tiver algum dinheiro vai priorizar aquilo que é o básico do dia-a-dia e nalguns casos a saúde”, observou.
Por este motivo, explica, foi também criado pela instituição que dirige o projecto “uma família um livro” que já beneficiou pelo menos 30 famílias, com a entrega de um livro a cada uma, para que possam ler com as crianças e de alguma forma incentivá-las a comprar outros livros, caso haja alguma oportunidade.
“O nosso objectivo é que este projecto se expanda para mais de 500 mil famílias e até para os países lusófonos. Os lusófonos que têm autorização de operar nos seus países podem entrar em contacto connosco para também levarem a cabo estes projectos nos seus países”, apelou.
Priscila diz estar a assistir, “com muito gosto”, os autores africanos que têm lançado novas obras e a tentar ganhar o seu espaço. “Mas, no entanto, continuamos com alguns desafios em termos de acesso aos livros, seja pelo preço ou porque as pessoas não têm cultura de literacia”, lamenta.
Entretanto, defende a necessidade de entre os países lusófonos existir a troca de sinergias. “Por exemplo, um livro que está publicado em Moçambique também deve estar em Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal”, sugere.
Sitole destacou algumas medidas que o Estado moçambicano tem tomado para incentivar a literacia no país, detalhando que actualmente os livros não pagam Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) e outras taxas exigidas no mercado, mas ainda assim continuam caros nas livrarias, “devido os custos com o transporte”.
Embaixadores Juvenis da Literacia é um programa que a World Literacy Foundation executa, todos os anos a nível global, de forma gratuita, que treina e incentiva os jovens a se tornarem defensores da alfabetização e gerar mudanças nas suas comunidades.
A World Literacy Foundation é uma organização global sem fins lucrativos que se esforça para garantir que todas as crianças, independentemente da localização geográfica, tenham a oportunidade de adquirir habilidades de alfabetização e livros para atingir todo o seu potencial, obtendo sucesso escolar e não só.