O ministro dos Negócios Estrangeiros são-tomense demitiu-se, Sexta-feira, 28, do cargo após declarações polémicas em que considerou que Portugal e Angola não têm prestado ajuda suficiente ao ensino do português na Guiné Equatorial.
“Por ter consciência da gravidade da situação e assumindo as minhas responsabilidades, decidi remeter ainda hoje [Sexta-feira, 28] uma carta a sua excelência, o senhor primeiro-ministro e chefe do Governo, colocando o meu lugar a disposição”, declarou Alberto Pereira, em comunicado de imprensa.
“Neste sentido, espero salvaguardar a minha imagem, a imagem do Governo e sobretudo a imagem do nosso país. Caberá a sua excelência o primeiro-ministro e chefe do Governo a decisão final”, acrescentou o chefe da diplomacia são-tomense.
Na passada Terça-feira, 25, Alberto Pereira teceu duras críticas a Portugal e Angola, considerando que os dois países não têm prestado ajuda suficiente ao ensino do português na Guiné Equatorial, país mais recente da comunidade lusófona, e que, pelo contrário, “só criticam”.
O chefe da diplomacia são-tomense falava na recepção de cerca de 30 quadros da Guiné Equatorial que vão aprender português e realizar estágios em várias áreas, em São Tomé, e ajudar na organização da XIV cimeira dos chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Estados de Língua Portuguesa (CPLP), que se realizará na capital são-tomense, em 27 de Agosto.
“Ainda ontem eu recebi em São Tomé o ministro das Relações Exteriores de Angola [Tete António] […] quando eu lhe disse, ‘olha, nós recebemos os irmãos da Guiné Equatorial’, ele até ficou com vergonha. Ele disse mesmo assim de cara: ‘nós tínhamos prometido isso há muito tempo aos irmãos da Guiné Equatorial, mas só ficou no ‘bla,bla,bla’, na prática não fizemos nada. Aquilo que vocês estão a fazer é um grande sinal para países que têm maiores condições verem’”, disse Alberto Pereira.
Durante a receção no Ministério dos Negócios Estrangeiros são-tomense, na presença do embaixador da Guiné Equatorial, Paulino Bololo, o diplomata são-tomense explicou que, para a formação em língua portuguesa, o Governo de São Tomé conta com a parceria da Embaixada do Brasil no arquipélago, que ofereceu cursos gratuitos aos equato-guineenses.
“Portugal sempre diz […] aceitamos Guiné Equatorial, mas não estão a falar português, mas o quê que eles fizeram realmente para ajudar Guiné Equatorial a falar português? Nada. É só criticar. Um programa como esse eles poderiam muito fazer”, referiu o chefe da diplomacia são-tomense.
Alberto Pereira disse acreditar que “toda a CPLP vai ter conhecimento daquilo que está a ser feito [pelo governo são-tomense] nesse momento em São Tomé” e que muitos depois vão começar a pensar seriamente e fazer também a mesma coisa. “Portanto, essa é uma abertura, um sinal que nós queremos enviar para os nossos irmãos da nossa comunidade de que não vale a pena estarmos somente a falar, falar e, na prática, não se ver nada”, acrescentou, citado pela Lusa.
O diplomata sublinhou que São Tomé e Príncipe “é um país pobre, mas o que conta é que é rico de coração, porque muitas vezes se pode ter muitas condições financeiras, mas se não tiver um bom coração é mesma coisa que nada”.
De acordo com o governante, foi sempre vontade de São Tomé e Príncipe ter intercâmbio “com os irmãos da Guiné Equatorial”, mas que, “infelizmente as circunstâncias anteriores não permitiram que se pudesse materializar essa vontade que existe entre os dois Estados e os dois representantes”.
O governante admitiu que o processo será uma aprendizagem para os dois países, referindo que “nem tudo vai estar a 100%”, mas que o Governo de São Tomé e Príncipe vai assegurar a integração dos equato-guineenses nas várias equipas de trabalho da cimeira da CPLP, nomeadamente o protocolo, segurança, cozinha e outras.
Oposição pressionou demissão
Na sequência destas declarações, o MLSTP/PSD pediu na Quinta-feira, 27, a exoneração imediata do ministro dos Negócios Estrangeiros de São Tomé “pela forma tão vulgar e grosseira” como se referiu a Portugal e Angola.
“Foi com grande preocupação que ouvimos as declarações do senhor ministro dos Negócios Estrangeiros – Dr. Alberto Pereira pela forma tão vulgar e grosseira como se referiu aos Estados com quem mantemos grandes laços de irmandade, fraternidade e cooperação”, referiu o porta-voz da comissão permanente do MLSTP/PSD, Cleito Matos.
“Pela gravidade das declarações que pode pôr em causa as nossas relações com estes países, entendemos que o senhor ministro não tem condições para se manter no cargo, pelo que pedimos a sua imediata exoneração”, acrescentou na leitura do comunicado da reunião realizada na Quarta-feira.