O malparado sobre o total de crédito da banca angolana fechou o mês de Junho em queda, ao fixar-se nos 18,3%, ajudado, em parte, pela cedência de 80% da carteira de crédito de cobrança duvidosa do Banco de Poupança e Credito (BPC) e pela retracção, por parte de alguns bancos, na concessão de novos empréstimos, de acordo os indicadores de solidez financeira do órgão regulador do sector bancário e fontes da administração de três grandes bancos.
Os dados do Banco Nacional de Angola (BNA) não anexam explicações sobre as razões da queda do crédito vencido há mais de 90 dias, nem as origens por bancos, mas, à FORBES, directores de tesouraria e do departamento de crédito de vários bancos comerciais justificam o facto com o risco e a crise económica.
Para os analistas de crédito, continuam a persistir os riscos de os novos empréstimos concedidos nos últimos meses entrarem em incumprimento, pelo que os bancos estão a prevenir com saída moderada destes recursos a clientes.
O crédito malparado é o valor que fica em falta na liquidação de um empréstimo que não foi pago até ao fim. Ou seja, é todo o valor de créditos concedidos por bancos ou entidades financeiras a particulares ou empresas e que estão em situação irregular, por não pagamento, num prazo que ultrapassa os 90 dias da data acordada.
Se nos meses anteriores a queda do nível de malparado da banca angolana foi explicada com a venda dos activos tóxicos do BPC, em Junho deste ano foi fundamental o ‘travão’, por parte de vários bancos, na concessão de novos empréstimos, já que, defendem os ‘patrões’ da banca ouvidos pela FORBES, “a conjuntura de crise actual está a cortar o apetite pelo negócio”.
Até Junho último, o stock de crédito do sector bancário angolano estava avaliado em quase cinco biliões de kwanzas, precisamente 4.820.944.000.000. Considerando o nível de malparado de 18,3% do período, significa que, do stock geral de crédito da banca, 882,2 mil milhões kwanzas encontravam-se em situação irregular.
Apesar da queda no nível de crédito irregular, os bancos continuam a acreditar que ainda não há condições de aumentar os níveis de empréstimos como faziam há mais ou menos seis anos, período anteriores a crise do sector petrolífero e muitos antes da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Pelo menos é assim que um analista de um grande banco internacional que actua em Angola pensa. “Não há condições para libertarmos empréstimos como fazíamos antes desta crise. Por agora, a tarefa está mesmo na reestruturação das nossas carteiras de créditos a ver se, no futuro, e, após verificadas todas as garantidas, possamos regressar em grande”, disse a fonte. Em linha com o mesmo pensamento, o risk manager, Adolfo Dombo, diz não ter dúvida de que a redução do malparado passa pelo rigor na concessão de novos créditos.
“O que os bancos têm de fazer actualmente, de modo a melhorar a qualidade do crédito, é definir uma estratégia de recuperação e reestruturação das operações de crédito que se encontram já malparados. E, por outra, aumentar o rigor na mensuração do risco de crédito”, defende o analista.
Este perito advoga ainda que continua a existir no mercado de crédito instituições empresariais que, mesmo tendo incidências na Central de Risco de Crédito (CIRC), continuam a beneficiar de empréstimos junto da banca, o que, na sua visão, não ajuda a travar a escalada do crédito em situação irregular.
“O que se tem verificado é que as práticas do passado continuam a ser aplicadas actualmente. Há empresas com incidências na CIRC, com histórico de incumprimento, que continuam a beneficiar de financiamento por parte do sistema financeiro e até à data presente também já se encontram em incumprimento”, denunciou.