Os líderes lusófonos manifestam-se chocados com a morte, esta Sexta-feira, 08 de Julho, em Barcelona, Espanha, do antigo Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.
Numa mensagem de condolências endereçada ao seu homólogo angolano e à família enlutada , o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, destaca que José Eduardo dos Santos foi um protagonista decisivo nas relações entre os Estados e os povos angolanos e portugueses.
“Portugal testemunha o respeito devido a essa longa memória, em período determinante para o nascimento e o arranque da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] e do engrandecimento das nossas relações bilaterais, após a descolonização”, escreveu o estadista.
Já o Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, que no momento em que foi tornada pública a morte do ex-estadista angolano encontrava-se de visita à Ilha do Maio, disse ter perdido um grande amigo.
Ainda de Cabo Verde veio também a reação de Pedro Pires, ex-Presidente daquele arquipélago, que recorda dos Santos como “uma figura central na grande mudança que se verificou na África Austral”.
Quem também se manifestou consternado é o Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro sissoco Embaló, que lembra o segundo Chefe de Estado de Angola como “um líder ímpar, que lutou pela causa de África”.
Para o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, José Eduardo dos Santos será sempre um ícone da luta pela independência económica de Angola, artífice da paz e pela integração regional dos países da SADC [Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral], de que foi um dos fundadores. “O seu legado ficará registado para sempre, de forma indelével, nos anais da história de Angola e de África”, disse Nyusi.
Por seu turno, o secretário Executivo da CPLP, Zacarias da Costa, enaltece Eduardo dos Santos como “um militante e defensor incansável da projecção da língua portuguesa e da consolidação da comunidade”.
Em comunicado, Zacarias da Costa exprime os sentimentos de pesar e de solidariedade para com a dor da família e amigos.
Líderes mundiais também se manifestam
Do resto do mundo também vêm manifestações de consternação pelo passamento de José Eduardo dos Santos. O ex-primeiro-ministro português, Durão Barroso, recordou o antigo Presidente angolano como “o patriota” e “o estadista”, que ficará na história de Angola e de África.
“Recordo alguém de excepcional inteligência, que foi capaz de garantir a unidade nacional angolana num contexto geopolítico extraordinariamente difícil, que ficará indelevelmente na história de Angola, de África e também das relações de Angola com Portugal”, disse.
Às manifestações de consternação e solidariedade juntou-se também o antigo Presidente da Namibia, Hage G. Geingob, que intitula o ex-estadista angolano como “um revolucionário notável, um tenaz combatente pela liberdade e um firme panafricanista”.
Acrescenta ainda que para o povo da Namibia será lembrado pela sua imensa contribuição no sentido da libertação do seu território e considerou que, por isso, o seu país “possui uma grande dívida de agradecimento a esta figura e ao povo angolano”, sendo que o seu legado permanecerá na memória dos povos.
Angola observa luto nacional de sete dias
Pela morte daquele que é considerado por muitos angolanos “o arquitecto da paz”, o actual Presidente da República de Angola, João Lourenço, que sucedeu no cargo José Eduardo dos Santos, decretou sete dias de luto nacional a ser observado em todo o território nacional e nas missões diplomáticas e consulares, num decreto presidencial que revoga um anterior em que indicava a penas cinco dias.
Durante uma semana, como determina o documento que passou a vigora às 00h00 deste Sábado, 09, deve-se colocar a Bandeira Nacional à meia-haste e cancelar todos os espectáculos e manifestações públicas.
Para já, ainda não são conhecidos os pormenores sobre as exéquias do antigo governante que faleceu aos 79 anos de idade, mas foi já criada a comissão encarregue de organizar as cerimónias fúnebres. Um despacho presidencial assinado pelo Chefe de Estado, João Lourenço, decreta que a referida comissão é composta por 11 ministros e pela Governadora da Província de Luanda.
O despacho detalha que integram a comissão a ministra de Estado para a Área Social, que será coordenadora, bem com os ministros de Estado e Chefes da Casa Civil e da Casa Militar, ministros Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, do Interior, da Administração do Território, das Relações Exteriores, da Justiça e dos Direitos Humanos, das Finanças, da Saúde e das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social.
José Eduardo dos Santos (1942-2022) foi Presidente da República de Angola durante 38 anos (cargo que exerceu desde 21 de Setembro de 1979 até 26 de Setembro de 2017), chefe do Governo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA). Dirigiu o MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, o partido no poder, desde a independência do país, em 11 de Novembro de 1975.
Nos últimos anos, esteve regularmente fora do país para longos tratamentos médicos em Barcelona, Espanha, onde vivia e onde viria a falecer às 11h10 (hora de Espanha) desta Sexta-feira, 8 de Julho, segundo comunicação do governo angolano, numa unidade de cuidados intensivos de um hospital.
Com Pedro Mbinza