Devido à estabilidade que se tem assistido no mercado cambial nos últimos tempos, o balanço financeiro da totalidade dos 25 bancos comerciais a operarem em Angola pode vir a registar, a 31 de Dezembro do ano que corre, uma queda nos resultados líquidos. A projecção é da CEO da KPMG Angola, Inês Filipe, que diz não ter dúvida de que os ganhos gerados na época da desvalorização da moeda nacional cairão com o percurso de estabilidade.
Falando à FORBES, à margem do ‘XI Fórum Banca’ organizado pelo Jornal Expansão, a consultora sénior e chefe do escritório da KPMG no país explica que os bancos comerciais angolanos têm tido uma componente muito forte dos seus resultados com ganhos cambiais. Ou seja, em períodos de maior desvalorização da moeda nacional, esse ganho era ainda mais acentuado. “Como neste momento estamos a viver um quadro de maior estabilização cambial, este resultado que vinha pela posição cambial desaparece. Aquilo que irá gerar resultado cambial é apenas pelas operações cambiais, mas como há maior estabilidade também aí os ganhos vão reduzir”, antevê.
Segundo Inês Filipe, os ganhos cambiais têm acontecido pela reavaliação da posição em balanço, sobretudos àqueles operadores que têm uma posição longa, e num ambiente de desvalorização do Kwanza, permite que os bancos tenham um resultado cambial positivo.
As operações cambiais têm vindo a representar parte substancial da margem financeira dos bancos comerciais angolanos. Aliás, a FORBES sabe que parte destas instituições têm mesmo reservado liquidez em kwanza para irem aos leilões do mercado, como forma de ver rentabilizado o negócio com a venda de moeda estrangeira e, por via disso, reforçar o seu balanço.
Com esta redução provocada pela estabilidade da moeda, os bancos são chamados alterarem os seus modelos de negócios, como forma de aumentarem a margem financeira e comissões, fonte de lucro dos mesmos, como aponta Inês Filipe.
“Têm [os bancos] que reforçar a sua margem financeira. Têm que trazer resultados por outras linhas. Quanto à margem financeira, tudo dependerá do delta que existir entre a parte activa e a parte passiva; aí é que resulta a margem e também ver as comissões, se bem que há um limite, hoje, do nível máximo das comissões que se podem cobrar, que foi introduzido pelo supervisor nesta matéria”, detalha a especialista.
Alteração do negócio é o novo desafio da banca
À margem do fórum que debateu “as transformações do sector bancário angolano a curto e médio prazo”, a consultora considerou ainda que os meios digitais são outra via por onde os bancos poderam ir buscar as alternativas para incrementar os seus negócios, através do alcance a clientes.
“Os meios digitais, para mim, são um novo meio e um caminho alternativo de [fazer] chegar [à banca] até mais pessoas, os canais de distribuição. Havendo aqui mais possibilidade de incrementar os clientes, a banca tem possibilidade de incrementar a sua margem financeira”, sugere a responsável, para quem a alteração do negócio bancário é um desafio que as instituições bancárias têm neste momento.
O fórum, realizado esta sexta-feira, 30, em formato virtual mas que a FORBES teve acesso presencial, reuniu os principais players do sector bancário, a Associação Angolana de Bancos (ABANC) e duas das ‘Big Four’ da consultoria financeira mundial, nomeadamente a KPMG e PWC.