A compositora e cantora de jazz Kavita Shah apaixonou-se pela música de Cabo Verde quando ouviu Cesária Évora e ainda mais quando visitou o arquipélago, uma relação refletida num disco e uma digressão que chega a Lisboa nesta Quarta-feira, 01 de Novembro.
A artista nova-iorquina, de origem indiana, vivia no Brasil em 2005 e já na altura estava “apaixonada pela música lusófona”, mas foi quando teve “a grande sorte” de ver actuar Cesária Évora, em Salvador da Baía, que tudo mudou.
“Foi um concerto que me marcou muito, sempre fiquei com vontade de conhecer a terra dela, Cabo Verde, e conhecer mais profundamente a música dela”, disse em entrevista à Lusa.
Deste primeiro contacto, diz guardar a “simplicidade e a autenticidade” da voz que imortalizou “Sodade”, que faziam dela “uma pessoa muito humana”.
“Nunca vi uma artista tão autêntica. Ela chegou ao coração de todos os que a viam. Ela estava descalça, bebia, fumava, estava completamente confortável com ela mesma. A maneira como ela cantou as canções, foi de uma forma muito natural, não vi nada forçado”, afirmou.
O objectivo, que aos 20 anos de idade parecia distante, foi-se concretizando, pois Kavita Shah não mais esqueceu aquela que ficou conhecida como “a diva dos pés descalços”.
A cantora passou vários anos a realizar pesquisas etnográficas na ilha cabo-verdiana de São Vicente e, em 2016, conheceu o guitarrista Baú, que a acompanha agora, e que tinha sido o director musical e guitarrista da Cesária. “Foi um encontro muito importante”, referiu.
“A Cesária foi a porta que abriu o meu caminho para Cabo Verde, onde descobri mais sobre ela, a música tradicional cabo-verdiana, mas também sobre outros cantores e compositores, como Vasco Martins, que é o grande compositor clássico de Cabo Verde”, contou, destacando nas suas descobertas a morna e a coladeira, as duas formas de música indígenas do Barlavento, como São Vicente.
Kavita Shah fala nove idiomas e a pesquisa etnográfica que realizou já envolveu práticas musicais tradicionais no Brasil, África Ocidental, África Oriental, Turquia e Índia. Talvez por isso, a sua interpretação de “Sodade” nunca é igual, contando com muito improviso.
A digressão “Cape Verdean Blues”, que começou a 21 de Setembro na Universidade de Brown, nos Estados Unidos, chega a Portugal num concerto marcado para no Centro Cultural de Belém, que contará com a participação de Nancy Vieira. Porto e Lamego são as outras cidades portuguesas contempladas, antes de a artista seguir para Cabo Verde, onde estará na Praia (ilha de Santiago) e Mindelo, em São Vicente.