Depois de alguns anos a trabalhar na área jurídica, Hélia Pimentel, formada em Economia e em Direito, percebeu que no mercado angolano não existia um sítio onde se pudesse ter acesso a conteúdos da área do Direito e da Justiça.
Para colmatar o ‘vazio’, em 2017 investiu 6 milhões de Kwanzas na criação da JuLaw, uma plataforma de marketing jurídico que serve de “ponto de encontro” e referência aos operadores do Direito e da Justiça, estudantes do ramo e a sociedade em geral sobre conteúdos jurídicos.
“A ideia era tornar-me concorrente de Mark Zuckerberg trazendo um Facebook na versão jurídica, com conteúdos específicos”, diz entre sorrisos Hélia Pimentel, fundadora e CEO da JuLaw. Com o evoluir do tempo, conta, a plataforma começou a desenvolver actividades que ajudam na promoção da cultura e literacia jurídica, do direito, da justiça e dos seus operadores.
Foi assim que optou por criar canais de distribuição de conteúdos, por via da JuLaw, como uma Revista Jurídica electrónica que publica artigos científicos e de opinião, dissertações de mestrados, minutas de contratos, bem como conteúdos de interesse ao público-alvo. Lançada em Junho do ano passado, a Revista Jurídica, de acordo com dados avançados à FORBES, registou já mais de 64 mil leituras, com uma média de 156 visitas por dia e 5.300 visitas por mês.
Paralelamente, criou um Directório Jurídico Electrónico, que permite a qualquer cidadão ter contacto com um advogado ou um profissional de direito e um canal virtual, no Youtube, denominado JuLaw TV, onde são transmitidos eventos académicos, lançamentos de livros, debates, conferências e também alguns programas no estilo talk-show. O Directório Jurídico tem registados 360 usuários, ao passo que a JuLaw TV tem em média cerca de 4.055 visualizações por mês. No geral, as publicações da JuLaw são acessadas, diariamente, por cerca de 49 mil internautas.
“Estas estatísticas mostram o potencial de alcance da plataforma e são úteis na hora de negociar o preço das publicações ou emissões nos nossos diversos canais de distribuição de conteúdos”, frisa a criadora da plataforma, que disponibilizará também, em breve, um serviço de anúncio de vagas de emprego na área jurídica, denominado RecruJuris.
“De forma resumida, a JuLaw é uma plataforma de puro marketing jurídico”, explica.
A plataforma serve também de espaço inclusivo, onde juristas promovem os seus trabalhos, independentemente da sua instituição académica ou localização. Actualmente, a JuLaw conta com 60 juristas, não só angolanos, mas também de países como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil, pois, refere Hélia, a ideia é torná-la mais inclusiva aos países da lusofonia.
“Espero que a JuLaw seja a marca que represente os juristas da lusofonia, e que seja uma grande parceira das instituições académicas pois é a partir dela que temos verdadeiras reflexões, isentas de influências políticas e religiosas”, afirma.
A plataforma começou com acesso gratuito, mas, hoje quem deseja ver o canal tem de pagar uma taxa de inscrição, o que está a garantir a JuLaw, em média, uma facturação de 150 mil kwanzas por mês. “A plataforma é um canal de distribuição de conteúdos, por isso, pretendemos ganhar com os serviços de publicidade”, indica.
Formada em Direito pela Universidade Católica de Angola, Hélia Pimentel tem entre outros desafios para este ano, transformar a JuLaw num aplicativo móvel que possa ser instalado não só nos aparelhos com os sistemas operativos iOS e Android, como também nos computadores.
De acordo com a empreendedora, por ser uma plataforma dedicada ao serviço de marketing jurídico, os pedidos mais frequentes são de publicação de artigos e eventos, bem como de transmissão de lives no canal.
Uma ficha profissional e académica cheia
Depois de licenciar-se em Economia no país, no decurso da sua carreira profissional, Hélia Pimentel fez várias outras formações especializadas, fora de Angola, nas áreas de gestão, administração, planeamento estratégico no sector jurídico, como também gestão de projectos, este último feito em Israel.
Em 2008, começou a trabalhar como Secretária Executiva, num projecto científico sobre o Pluralismo Jurídico em Luanda, coordenado pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Após o final do projecto, em 2010, Hélia foi convidada para ser directora financeira de um dos mais prestigiados escritório de advogados, na época, CFRA – Advogados Associados, onde em pouco tempo desenvolveu competências e aptidões que a levaram à Direcção Executiva da Sociedade.
Após a cisão dos sócios, em 2012, foi convidada para dirigir uma nova sociedade de advogados, ACPC – Advogados, onde as relações agora se resumem na consultoria, desde 2018. Ainda em 2012, foi convidada para administrar o Centro de Estudos de Direito Público da Universidade Agostinho Neto, onde actualmente é gestora de projectos.
Em 2013, recebeu o convite para ser a responsável do secretariado da Comissão de Reforma do Direito e da Justiça, criada pelo então Presidente da República. Por influência do meio profissional, em 2017, Hélia decidiu ingressar na Universidade Independente de Angola para se formar em Direito.