Uma folha de Excel foi suficiente para criar uma ideia de negócio baseada na competição entre jogadores em ligas de fantasia de futebol. Um jogo mantido entre colegas de trabalho, numa brincadeira em 2012 gerida através de células, linhas, colunas e de correntes de e-mail. Esta folha acabou por dar origem a uma plataforma de fantasy league, com uma marca própria, que já está implementada em vários países e dedicada a diferentes competições, e ao nascimento da start-up RealFevr.
Tiago Dias, co-fundador e presidente do conselho de administração da empresa, conta à FORBES que a ideia nasceu ao repararem que não existia nenhuma tradução para Portugal dos modelos de fantasy leagues existentes nos EUA. Hoje, lidera uma equipa jovem, exclusivamente masculina, composta na sua maioria por engenheiros, e todos aficionados por futebol, em todas as suas dimensões e competições. Fazem um produto gratuito para os utilizadores, que é financiado pelos patrocinadores e media partners, e que até ao momento continua longe de gerar lucros para os accionistas – em 2016 fecharam as contas com um prejuízo de 2,4 mil euros. Mas isso não preocupa os fundadores da empresa.
Este mês, a RealFevr celebra dois anos de vida e as expectivadas para os próximos anos são muitas. Se até agora o foco foi a construção de um produto de qualidade superior aos outros, que implicou um investimento inicial de “uma primeira tranche de 800 mil euros”, concretiza Tiago, num bolo total de 1,2 milhões de euros a utilizar até Julho de 2018, “agora, a ideia é recuperar o investimento até 2020”, revela. Para 2018, o objectivo é aumentar a pool de clientes e estão em negociações para integrar mais media partners e patrocinadores, acrescenta o co-fundador.
Saber quando mudar
Tiago e a sua equipa criaram um jogo, baseado em modelos internacionais, em que os desempenhos das equipas virtuais são definidos pelos desempenhos dos jogadores nas ligas reais, alicerçados nas estatísticas compiladas por um fornecedor terceiro em tempo real. “O produto aproxima as pessoas da realidade. Quando nós escolhemos um jogador, a pontuação que vamos ter no nosso jogo, para ganhar ao nosso amigo, é dependente simplesmente da performance individual desse jogador durante esse jogo. Golos, assistências cartões amarelos, minutos jogados…”, explica Tiago à FORBES, que confessa que já chegou a festejar golos do Sporting e do FC Porto, os grandes adversários portugueses do seu clube, o SL Benfica, de acordo com as suas apostas.
A concorrência no mercado não é pouca. Contudo, ao passo que outros optaram por criar plataformas de “marca branca” e vendê-las como um software às empresas, a start-up liderada por Tiago escolheu outra via. A abordagem da RealFevr passa por se associar a parceiros de media, fazendo com que a plataforma seja financiada por patrocinadores e as receitas divididas tanto pela empresa de Tiago como pelo parceiro.
Quando fundaram a RealFevr, Tiago e dois sócios (José Miranda e Tiago Bem) tinham em mente criar um conceito mais avançado de ligas de fantasia aplicadas ao futebol. “Este foi o passo seguinte”, resume José Miranda, jogador em fantasy leagues nos EUA há mais de 15 anos e co-fundador da RealFevr, a cargo dos modelos de jogo. Foi de José, aliás, que partiu a ideia da liga de fantasia gerida através de uma folha de Excel e de correntes de e-mails, num passatempo que mantinha com colegas quando trabalhava como engenheiro no grupo Luz Saúde. Para concretizar esse “passo seguinte”, o trabalho inicial foi orientado para a criação de uma plataforma sofisticada, direccionada a jogadores exigentes.
Mas, quando chegaram ao mercado, perceberam que seria necessária outra estratégia. Teriam de apostar inicialmente num modelo mais semelhante aos que já existiam, como o da liga da UEFA de fantasy football, para uma implementação mais eficaz e para captar muitos utilizadores ao início, em suma, lançar para o mercado um modelo mais simples e não ainda o modelo idealizado. “O modelo mais avançado da plataforma ia deixar-nos expostos a um mercado mais pequeno”, resume Bruno Tavares, responsável pela parte técnica do jogo.
Dar o salto
A equipa da RealFevr desenvolveu uma plataforma digital com recurso a financiamento de alguns investidores particulares, mas que estão “no mercado digital, muito ligados a casas de apostas”, diz Tiago. “Foi tudo garantido através de um networking simples, de um amigo que tem um primo que por sua vez tem um conhecido que conhece alguém…”, revela José. E põem, para já, de lado a hipótese de recorrerem a dinheiro fresco de fundos de investimento institucionais.
“Se o nosso plano se cumprir como estamos à espera, não vemos necessidade de ir a rondas [de investimento] nos próximos tempos”, diz Tiago.
O primeiro grande impulso à RealFevr foi dado com a associação ao jornal desportivo espanhol “As”, entretanto terminada, que “precisava de uma plataforma como esta”, diz Tiago, e com a PlayStation, da Sony, que fornece os prémios atribuídos na plataforma.
Em Portugal, as cold calls foram muitas. “Contactámos quase toda a gente”, assume Tiago, com algumas tentativas goradas. Mas revela estar em negociações para a próxima época conseguir mais parceiros de media – não só em Portugal. Mas algumas aproximações junto de órgãos de comunicação social acabaram por dar o seu fruto: o portal Maisfutebol, da Media Capital, escolheu a RealFevr para relançar a sua fantasy league, a “Liga Maisfutebol”.
Luís Mateus, director do site especializado na cobertura do desporto-rei, explicou à FORBES que queriam reactivar o projecto de uma fantasy league com a marca Maisfutebol. Já tinham tido uma liga própria, a “e-golo”, descontinuada em 2016 por falta de recursos próprios. “Ao olharmos para as propostas existentes no mercado, vimos que a RealFevr tinha já começado o seu próprio trajecto há algum tempo, com experiências em Espanha e com o próprio Europeu de 2016, e constatámos que existia uma base sólida para estabelecermos uma parceria”, explica Luís. “Acredito sinceramente que é a melhor proposta fantasy para o mercado português e vai prová-lo esta temporada. Tem tudo para ser uma fórmula vencedora”, sublinha o director do site desportivo da Media Capital, holding que agrupa meios como o canal de televisão TVI e a rádio Comercial.