O debate em torno da igualdade de género ainda tem um longo caminho a percorrer até se fechar o gap nas oportunidades entre homens e mulheres. Esta é uma das conclusões do webinar “O acesso ao financiamento pelas Mulheres da CPLP” e que serviu de palco para o protocolo entre a Federação das Mulheres Empresárias e Empreendedoras da CPLP (FME-CPLP) e banco SOFID.
Num evento onde se reconheceu a cada vez maior importância das mulheres na sociedade e na economia, ficou evidente que quando se trata de aceder a financiamento para impulsionar os negócios, o sexo feminino ainda é preterido face ao masculino.
A presidente da comissão executiva da SOFID, Marta Mariz, sublinhou que “serão necessários 121,7 anos para fechar o Gap de género” na África Subsariana, isto sem esquecer que as mulheres recebem menos 30% que os homens. Ainda de acordo com Marta Mariz, “estima-se que as desigualdades de género custem à região 11,4% da sua riqueza”, sendo que 92% das mulheres ainda trabalham nos mercados informais.
Ainda que a taxa de incumprimento das mulheres seja mais baixa (3%) do que a dos homens (4,95%), a verdade é que na hora de aceder ao financiamento há obstáculos que ainda têm de vencer. Marta Mariz detalhou que a inexistência histórico de rendimentos, inexistência de colaterais, a iliteracia financeira aliada à baixa bancarização e a dimensão dos negócios assente em micro pequenas e médias empresas ainda são fatores negativos.
Para contribuir para a igualdade de género, a instituição financeira tem apostado, por exemplo, em projetos liderados por empresárias ou que tenham mulheres nas administrações.
De acordo com a presidente da comissão executiva da SOFID, o banco assume o papel de ser agente de mudança através da promoção de eventos como o protocolo que assinou com a FME-CPLP onde reitera dois compromissos: o financiamento e a capacitação das mulheres da CPLP.
O referido protocolo tem como objetivo a promoção do investimento privado feminino nos países da CPLP e a capacitação das mulheres empresárias destes países.
Na mesma ocasião, a vice-presidente da FME-CPLP Nelma Fernandes, lembrou que esta instituição “contribui para a melhoria do ambiente de negócio no feminino” nos nove países que compõem a CPLP. De entre as ações, a FME-CPLP está ajudar na capacitação das mulheres e startups numa região onde a microeconomia liderada por mulheres impera. Mas onde Nelma Fernandes destaca que também se conta com “as mulheres dos sete ofícios que cuidam das suas famílias e estão também nas plataformas digitais a fazer os seus negócios”. Sem esquecer as grandes empresárias que estão a desempenhar altos cargos nas empresas.
A vice-presidente da FME-CPLP sublinhou ainda que é preciso pensar de forma global para se alcançar “as mesmas oportunidades sem ser baseado no género”. E recomenda que, na hora de desenvolver um negócio, há que “ter uma criatividade elástica para vender aquilo que é uma necessidade e criar produtos que tenham uma dimensão global” não se cingindo ao mercado CPLP, sem esquecer o enquadramento digital.
Com base no tema “O acesso das mulheres ao crédito”, a administradora executiva do Millenium BIM, Liliana Catoja, destacou que houve uma redução da inclusão financeira do sexo feminino em Moçambique. Num país com muitas diferenças entre a parte urbana e rural, as mulheres ainda apresentam um fraco nível de literacia financeira, poucas têm uma simples conta bancária e muitas vezes os projetos têm insuficientes elementos informativos. Apesar destes constrangimentos, a administradora do Millenium BIM sublinhou que 89% das gerentes e subgerentes são mulheres o que é um bom indicador para se reverter o cenário atual.
O secretário-geral da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Vítor Ramalho, fez as honras de dar as boas-vindas aos participantes no evento que contou também com o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, com o presidente do Conselho de Administração da SOFID, António Rebelo Sousa, que apresentou o tema “Relevância da Igualdade género nos índices desenvolvimento humano”.
As empresárias angolanas Lisandra Rodrigues, diretora de marketing do grupo Progene, e Paula Cristina C. de Morais, fundadora da Fundação Ana Carolina, apresentaram os seus casos de sucesso no feminino no universo CPLP.