Os resultados líquidos dos cinco maiores bancos a operarem em Angola registou um ‘trambolhão’ de 41,4%, ao sair dos 427.770 milhões de kwanzas, em 2019, para apenas 250.501 milhões kwanzas até Dezembro do ano passado, pressionados, no geral, pela pandemia da Covid-19 e pelo aumento das imparidades no balanço da maioria dos operadores, de acordo com cálculos da FORBES, com base no estudo ‘Banca em Análise’ 2020 da Deloitte, divulgado esta semana.
Se já não bastava a crise do malparado que tem afectado o balanço da quase a generalidade dos bancos e que voltou a estar na base do reconhecimento de imparidades em 2020, o ano passado foi também marcado pelo downgrade da dívida soberana. Com carteiras de activos altamente expostas a títulos de dívida pública, os bancos, sobretudo os maiores, foram obrigados a reconhecer imparidades devido à descida do rating, o que também prejudicou os resultados.
A lista dos ‘big five’ no ranking por lucros da banca, em 2020, teve à cabeça o Banco de Fomento Angola (BFA), seguido pelos Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), Standard Bank Angola (SBA), Banco Angolano de Investimento (BAI) e Banco Internacional de Crédito (BIC). Individualmente, o BFA foi o banco que mais contribuiu para o total dos lucros do agregado dos cinco maiores, com 36% dos 250.501 milhões Kwanzas (ver gráfico).
Por sua vez, o BAI, que é líder no ranking por activos pelo segundo ano consecutivo, foi quem registou a maior queda nos resultados. Até Dezembro de 2020, o banco fechou as contas com lucros de 28.672 milhões Kwanzas, o que representa uma quebra de 76% face ao resultado inscrito no balanço de 2019, contabilizado em 118.733 milhões Kwanzas.
Na mensagem conjunta dos seus presidentes do conselho de administração e da comissão executiva, Mário Barber e Luís Lélis, respectivamente, a queda dos resultados líquidos é atribuída à redução em 9% da margem complementar, ao aumento em 31% dos custos de estrutura e ao aumento das imparidades para crédito e outros activos, relativos aos investimentos em dívida pública, e o impacto fiscal associado à anulação de impostos diferidos activos. Aliás, este argumento foi usado pela maioria dos bancos com contas publicadas.
Pressão sobre lucros pode continuar
À FORBES, o presidente da Deloitte Angola, José Barata, considera que, a manter-se a conjuntura actual até final de 2021, é expectável que os bancos voltem a registar imparidades e por esta via sentir, mais uma vez, pressão sobre os lucros. “Eu diria que existe uma probabilidade de isso [aumento das imparidades] vir a acontecer, tal como ficou patente também no estudo. Em função da pandemia, houve uma deterioração na qualidade das carteiras de crédito dos bancos, que é algo que aconteceu pelo mundo afora, e também em Angola. Sobre esse ponto de vista, o esforço de constituição de provisões e imparidades é expectável que se mantenha”, antevê.
Da generalidade dos integrantes do também designado ‘TopFive’, só o Standard Bank Angola teve variação positiva nos seus resultados. Com um crescimento marginal de 12,4%, o banco saiu de um lucro líquido de 32.128 milhões Kwanzas em 2019 para 36.131 milhões Kwanzas em 2020.