Em entrevista exclusiva à FORBES, o empresário, que inaugurou recentemente a décima sétima loja Centrooptico em Luanda, acredita que a construção de uma fábrica para a produção de lentes iria diminuir as dificuldades das pessoas que não vivem sem óculos, que muitas vezes têm que esperar duas ou mais semanas para poderem fazer uma encomenda ou reaver uma componente danificada.
A inauguração de uma loja Centrooptico numa fase de crise financeira, agravada com a situação da pandemia, significa saúde financeira?
Significa alguma saúde financeira, mas significa essencialmente investir no país e confiar nas pessoas. Penso, sinceramente que temos aspectos muito positivos no país. Primeiro tem a ver com a matéria-prima e depois com pessoas muito capazes e com muita vontade para aprender. Lembro de ir para fora e o meu motorista me pedir para trazer livros. Portanto, as pessoas têm vontade, querem aprender, querem estudar. Têm as escolas com muito pouca qualidade, mas também querem experimentar, desenvolver e crescer.
No caso da Centrooptico, sente que já há alguma qualidade nos colaboradores nacionais?
O que acontece connosco aqui é muito isso. Por exemplo, uma das nossas melhores optometrista é angolana. E quando digo uma das melhores é daquilo que vejo como resultado, porque não sei avaliar tecnicamente as pessoas, porque não sou médico, mas, daquilo que vejo é uma rapariga angolana que por acaso estudou em Portugal. Teve oportunidade, portanto, outras não tiveram oportunidade porque não se desenvolveram.
Então defende que o desenvolvimento das pessoas passa por elas terem oportunidade?
Sim. No nosso caso, criámos a Academia Centroopico, onde escolhemos 10 a 15 pessoas por ano, para lhes dar um curso de um ano e que custa mais ou menos 10 mil dólares por pessoa. Se eles passam neste curso ficam com um certificado reconhecido pelo Ministério da Saúde em Angola e isso lhes permite ter uma outra categoria profissional.
Como é que olha para o sector no geral?
O que estamos a ver, sinceramente, é que temos excelentes profissionais angolanos, ao contrário de alguns anos. Temos excelentes lojas com muito bons resultados, com satisfação dos clientes e facturação em pontos onde não temos lá nenhum expatriado. Portanto, acredito sinceramente que o país tem muitos aspectos para crescer. Naturalmente que se formos a procura dos aspectos negativos, ainda mais nesta fase em que o mundo está praticamente de patas para o ar, veremos que temos um país que precisa de tudo ou precisa de muito, mas que tem pessoas capazes para aprenderem e para desenvolverem.
Como empresário ligado a este ramo já algum tempo e com base no que acaba de dizer, acha que há possibilidade de termos uma indústria para produzir alguma componente de óculos cá?
Eu acho que sim, porque temos todas as condições para isso. Na minha opinião temos condições para desenvolver um projecto tecnológico sério para a produção de lentes em Angola. Acreditamos que iria reduzir drasticamente as importações, criar mão de obra e exportar, mesmo que fosse aos países aqui a volta que não têm fábricas. Além disso, iria reforçar mais uma coisa muito importante na minha opinião. O que se passa é que há pessoas que não vivem sem os óculos que têm que trabalhar, principalmente as pessoas com uma graduação diferente. No caso destas pessoas partirem os óculos, por exemplo, tem que esperar duas ou mais semanas para poder reaver os óculos, seja a comprar connosco ou com a nossa concorrência, vai ter de esperar este tempo.
Como olha para a concorrência neste sector?
Acho que existe alguma concorrência desleal. Não quero apontar nomes. Para se perceber isto, basta de as pessoas e os clientes ou as entidades competentes irem às lojas e pedirem os certificados de vendas e depois contactarem marcas. Por outro lado, acho que a concorrência é boa, pois nos obriga a melhorar processos, serviços, preços e, no final, saímos todos a ganhar. Ela [concorrência] nos obriga a crescer.
E o que tem a dizer sobre os impostos praticados?
Felizmente não são muito altos por serem produtos de saúde. Ainda bem que o Estado percebeu isso. A excepção são os óculos de sol, um produto que é fundamental num país onde temos muitos dias de sol e os raios são muito altos. E, por isso, temos uma predominância muito grande em doenças como o Glaucoma. Isso porque as pessoas ficam muito expostas aos raios solares.