Os eleitores da Guiné-Bissau estão cheios de expectativas e incertezas quanto ao seu futuro político. São as sétimas eleições legislativas desde a abertura ao multipartidarismo, 20 partidos e duas coligações estão inscritos e perspectiva-se que nenhum deles consiga a maioria dos 102 lugares do parlamento, sendo necessário apelar a um consenso para que se possa formar um novo Governo.
Os principais concorrentes são o Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15), atualmente no Governo, e a coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) — Terra Ranka, que inclui o PAIGC (na oposição), e ainda a União para a Mudança (UM), o Partido da Convergência Democrática (PCD), o Movimento Democrático Guineense (MDG) e o Partido Social-Democrata (PSD).
Neste universo político, os dois maiores protagonistas que estão disputar a vitória são o PAI-Terra Ranka e o Madem – G15.
Comparadas às eleições anteriores, as actuais são descritas como mais mornas e menos festivas pelos eleitores que já testemunharam outros pleitos. Os partidos têm circulado de bastião em bastião, intimidando-se uns aos outros durante os comícios populares, nos quais os políticos abordam uma ampla gama de temas. Desde trocas de acusações sarcásticas até à identificação de complexidades urgentes e emergentes no país, passando pelas promessas que os líderes deixam aos eleitores, caso sejam escolhidos.
Durante a campanha eleitoral, que se inciou a 13 de Maio, tem-se registado a subida de uma terceira força: o Partido para Renovação Social, que parece atrair a simpatia dos dois principais partidos, muito motivada pela necessidade de equilibrar o jogo na procura de um governo mais estável.
Este acto eleitoral conta com a presença de uma força de 176 observadores internacionais, por forma a garantirem que os guineenses possam votar em segurança e de forma democrática. Refira-se que 101 destes observadores foram enviados pela CEDEAO, e têm como chefe de equipa José Carlos Fonseca, ex-presidente de Cabo Verde. A União Africana está presente com 28 observadores, liderados por Joaquim Chissano, ex-presidente de Moçambique. Estão, ainda, elementos oriundos da Francofonia e da Missão de Observação Eleitoral da CPLP (ROJAE) com sete representantes cada, Rússia conta com cinco e Estados Unidos com um.
Maiores partidos lutam pela maioria
Embora o clima seja de tranquilidade nas ruas do país, as reclamações e acusações por parte dos partidos que irão a votos têm-se feito sentir. Com especial ênfase após as declarações proferidas pelo presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, durante a inauguração das obras de reabilitação do aeroporto Osvaldo Vieira, onde afirmou que mesmo se o PAI-Terra Ranka ganhar, ele não vai promulgar o nome do líder do partido até que este resolva as questões judiciais em que está envolvido.
A reacção de Domingos Simões Pereira, líder do PAI-Terra Ranka, não demorou e enviou uma carta aberta ao presidente, apelando para que este se resguardasse no seu papel de “guardião da nação, presidente de todos”, e se afastasse da campanha eleitoral, bem como dos cartazes publicitários de alguns partidos concorrentes, dando a entender uma inclinação premeditada.
Esta mesma indignação foi manifestada à Forbes África Lusófona por Vanessa Vaz, membro do Comité Central do PAIGC e candidata a deputada: “a transparência e a igualdade de meios entre os partidos não são uma realidade. A coligação PAI-Terra Ranka, liderada pelo PAIGC, tem sido vítima de discriminação e penalização. Fomos impedidos de ter acesso ao nosso material de campanha, mesmo após inúmeras tentativas de enviá-lo para o país”. A mesma fonte sustenta que “estas acções, motivadas por ordens políticas, violam a lei e ignoram os princípios básicos da democracia”.
Vanessa Vaz vincou que “existe uma forte indignação e muita insatisfação da população em relação à situação actual do país”, salientando que “a subida dos preços dos bens essenciais, como alimentos, e a desvalorização da castanha de caju têm gerado uma grande fome, que chega a ser comparada com a escassez dos anos 80”. Ainda assim, a candidata a deputada garante que “apesar desta revolta, a vontade do povo de votar é evidente, como mostram os dados do recenseamento”.
Do outro lado está o Madem-G15, fundado há quatro anos por ex-dirigentes do PAIGC. Abel Silva, secretário nacional, faz-nos um pouco o histórico do partido: “o Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), Partido fundado há 4 anos, por destacados dirigentes do PAIGC, expulsos das fileiras por terem defendido o diálogo interno bem como a transparência na gestão do Partido e da coisa pública. O grupo dos 15, como era conhecido na altura, liderado por Braima Camará fez finca pé pelo rigoroso cumprimento dos estatutos e programa assumindo assim as consequências da sua ousadia e ato de revolução. No seguimento desta expulsão foi então criado o MADEM-G15, que de tenra idade, apenas com 7 meses conseguiu nas primeiras eleições legislativas de 2019 em que participou, emergir de uma forma inédita como a segunda força política da Guiné-Bissau, resultado de uma capacidade organizativa ímpar desta organização política”.
Refere ainda que “o objetivo programático do MADEM G15 é apostar no trabalho para “mudar a Guiné-Bissau” mergulhado num subdesenvolvimento crónico há meio século de independência, devido à incapacidade de transfigurar um país repleto de potencialidades e recursos”.
Texto: Kadidja Pinto Monteiro