Nasceu em Angola e passou toda a sua vida em Lisboa, onde cedo começou a nutrir fascínio pelo jornalismo, mas tudo mudou quando fixou residência no Reino Unido, região em que viveu durante cerca de dez anos.
As suas capacidades foram postas à prova e Fátima Almeida, filha de pai angolano e mãe cabo-verdiana, deixa por terra a paixão pelo jornalismo para formar-se em economia.
“Um dia procurava eu no Reino Unido uma informação na escola de negócios e um professor disse-me que eu não podia estar aí porque, segundo ele, aquele era o departamento de economia e achava que eu não tinha capacidade para fazer parte do mesmo. E disse-lhe que era capaz. Então deu-me um teste e tive das melhores notas. Entrei para o curso de economia, mas não fiz uma economia normal. Fiz economia do jogo, ou seja, posso produzir raspadinhas, totoloto, euro milhões, entre outros”, conta.
Em 2013 regressa à terra-natal e os desafios não pararam. Começou por trabalhar em algumas associações empresariais e cedo apercebeu-se dos transtornos porque as pessoas passam, quando decidem ir aos supermercados, complicações que começam com o congestionamento no trânsito, tudo porque, de acordo com ela, o comércio no país estava desconectado.
Identificado o problema, a empreendedora descobriu também que a solução passava por dar a mesma oportunidade a todos, através do mundo digital.
“Não vou aos centros comerciais todos os dias, mas utilizo a internet todos os dias. O mundo digital é algo que está presente. Apercebendo-se das necessidades dos comerciantes, bem como das dificuldades de locomoção das pessoas, surgiu-me a ideia de ajudar de alguma forma, criando um espaço onde as pessoas pudessem abrir as suas própria weblojas e vender os seus produtos pelo país e não só”, explica.
Desta ideia empreendedora e com um capital inicial acima dos 60 mil dólares surgiu o BayQi.com, uma plataforma de e-commerce, co-fundada com Mário Mandinga, jovem angolano que reside em Manchester, em Abril de 2016. O propósito da plataforma, pormenoriza Fátima, é estabelecer a ligação entre o vendedor e o comprador em qualquer parte do país e até mesmo do mundo.
O BayQi tornou-se na primeira companhia do segmento de comércio electrónico em Angola a investir em mecanismos de pagamento 100% digital, contando actualmente com mais de 145 mil usuários.
Ao intervir como oradora no Fórum Mulher 2021, promovido recentemente pela embaixada dos Estados Unidos da América em Angola, a empreendedora defendeu que investir numa educação financeira focada nas boas práticas de gestão, implementar uma contabilidade organizada, um fluxo de caixa como forma a promover uma cultura de poupança no negócio e apostar no marketing e venda digital, pode “salvar” as empresas angolanas da “asfixia económica” causada pela pandemia.
“A Covid -19 é como uma tempestade que quando passa conseguimos avaliar os estragos, recuperar e analisar as oportunidades. Os impactos da pandemia são tão visíveis e avassaladores que fomos forçados a mudar os nossos hábitos sociais e económicos, alterando profundamente a forma como nós fazemos compras, socializamos, viajamos e trabalhamos”, remata.
Para Fátima Almeida, as empresas que conseguiram inovar durante esse período de pandemia, obtiveram oportunidades de negócios no comércio eletrônico e viram seus lucros disparar. “Durante a pandemia, muitos negócios digitais dispararam pelo mundo, várias start-ups e pequenas empresas tornaram-se milionárias e bilionárias, é o caso do Zoom, por exemplo”, aponta.
No caso de Angola, referiu, a Covid -19 acelerou muito a economia digital, tendo levado milhares de pessoas às compras online, sem necessidade de saírem de casa, o que também possibilitou o surgimento, pelas redes sociais, de vários novos negócios.
“Algumas start-ups angolanas que conseguiram reflectir sobre o modelo de negócio e adequar-se aos novos hábitos do consumidor face à pandemia, hoje estão com uma boa margem de crescimento”, refere.
Durante o evento, que decorreu sob o lema “O Empreendedorismo em Tempo de Covid-19 – Desafios e Oportunidades”, a empresária também falou sobre outras soluções que podem conservar pequenos negócios, em que destacou o investimento na qualificação do capital humano e em acções de formação que ajudam a migrar os negócios para o digital.