As finanças públicas de Angola estão reféns de outros Estados e não dos angolanos, considera Cecília Kitombe, especialista em políticas públicas e assistente social.
A também activista angolana, que comentava o estudo da Plataforma Angolana da Cidadania sobre Dívida Pública, apresentado recentemente, em Luanda, classifica tal situação como uma “colonização”, uma vez que, diz, “não se consegue controlar os nossos recursos internos para servir efectivamente o que a população precisa”.
Directora de Comunicação e Advocacia Social da Organização Não-Governamental Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Cecília Kitombe argumenta que Angola tem um orçamento que serve em 50% outros Estados e outras realidades. “Isto é e podemos considerar sim uma colonização financeira, por causa da forma como as coisas vão, e hoje fala-se em perdão da dívida”, sustentou.
Segundo a especialista, o país tem recebido recursos que, em princípio, diz-se que veem como dívida, mas que “nós sabemos que na mesa da negociação muitos angolanos não estão presentes e, no entanto, acabamos reféns dessa dívida pública”.
Cecília Kitombe aponta que a dívida pública tem um impacto negativo na vida das mulheres, ” porque são trabalhadoras e pequenas produtoras”, sendo que, afirma, a maior parte delas são camponesas e utentes dos serviços sociais básicos.
Na sua óptica, a dívida pública tem um impacto sobre a saúde, educação, habitação, porque os serviços básicos não estão a chegar às mulheres, por conta de todos os problemas sociais que elas acarretam.
Recorde-se que, ao proferir o discurso sobre o “estado da Nação”, o Presidente da República, João Lourenço, afirmou que no domínio macroeconómico, Angola conseguiu reverter os profundos desequilíbrios internos e externos em que o país se encontrava em finais de 2017.
“Os indicadores mais recentes das finanças públicas do país apontam no sentido de que no presente ano venhamos a ter igualmente um saldo orçamental positivo”, perspectivou João Lourenço.