A moda tem a capacidade de identificar culturas e definir tendências futuras. Foi assim com a revolucionária mini-saia e as indumentárias dos hippies e dos punk na década de 1960, e a popularização das roupas desportivas na década de 1980. A cada estação que passa os estilistas preparam com afinco as suas colecções e as grandes cadeias de retalho mudam as montras das suas lojas. O objectivo é só um: cativar o maior número de clientes a entrarem nos seus espaçoss e a gastar o mais que puderem. E neste campeonato, o Oriente ganha destaque, dado o enorme potencial ainda por explorar pelas marcas europeias e norte-americanas, e a grande dimensão deste mercado – são mais de 500 milhões de potenciais consumidores.
Segundo um recente relatório da Thomson Reuters, em 2015 o consumo de roupa e acessórios de moda em países muçulmanos atingiu mais de 220 mil milhões de euros, cerca de 11% do valor gasto em moda no mundo inteiro. E ao que tudo indica, este valor não deverá ficar por aqui. Prevê-se que o consumo dos muçulmanos em artigos de moda possa disparar para os 437 mil milhões de euros em 2021, o que significará um crescimento superior a 7 pontos percentuais em apenas seis anos. Os dados são do Relatório Global da Economia Islâmica, da Thomson Reuters, que calcula ainda que as receitas geradas pelas compras de mulheres muçulmanas tenham sido na ordem dos 40 mil milhões de euros em 2015.
Para as grandes marcas mundiais, a aposta nos mercados muçulmanos tem-se revelado também um enorme desafio. Desde logo porque têm de oferecer colecções diferentes das que oferecem na Europa e nos EUA em função das diferenças culturais. Essa realidade tem inclusive impulsionado fortemente a moda islâmica, ou modest fashion, com várias marcas, como é o caso da Dolce & Gabanna, Uniqlo e Burberry, a fazerem fortes investimentos nesta indústria.
Mas não só. O fundo Mayhoola for Investment, da família real do Qatar, tem sido um forte investidor na moda islâmica, conta actualmente no seu portefólio com a italiana Valentino e com a marca de luxo francesa Balmain.
Mundo novo
A primeira marca ocidental a arriscar lançar uma colecção para o mês do Ramadão foi a DKNY, em 2014. No entanto, a que conseguiu que os holofotes se virassem definitivamente para este mercado foi a Dolce & Gabbana, que surpreendeu os seus fãs em Janeiro do ano passado com uma colecção de véus e túnicas conjugados com acessórios da casa.
Conhecida por querer sempre realçar a beleza das mulheres, a Dolce & Gabbana recebeu tantas críticas quanto elogios à opção de enveredar por este caminho: é que, para muitos, a casa italiana decidiu compactuar com valores que atentam contra a liberdade da mulher, como a obrigação do uso do véu islâmico. Porém, antes da Dolce & Gabbana, já Oscar de la Renta tinha também arriscado no mundo da modest fashion, ao apresentar algumas peças em Junho de 2015. Os estilistas defendem que as mulheres que seguem outros costumes também têm direito a ter opções de escolha bonitas, de qualidade e originais. No ano passado, a modelo americana de origem somali Halima Aden tornou-se na primeira muçulmana utilizadora de hijabs a desfilar internacionalmente e com contrato com uma das principais agências do mundo: a famosa IMG Models. A última década tem sido particularmente importante para a afirmação da modest fashion no panorama mundial, sobretudo com o dinheiro do Oriente a tornar-se apelativo para as grandes marcas de luxo.